Após
setenta e tal dias em que estivemos com as igrejas (casas) fechadas ao culto e
sem assembleia celebrante, neste Pentecostes voltamos a ter irmãos e irmãs nos
nossos espaços celebrativos. Se bem que a Igreja não tenha estado fechada – o
que esteve interrompida foi a presença física, pois a virtual foi exercida e a
de dimensão espiritual ainda mais afirmada – agora voltamos a re-unir-nos, isto
é, voltamos a unir-nos de forma física e simultaneamente presencial.
Se no
Pentecostes de At 2,1-12, o Espírito Santo fez sair a Igreja do confinamento do
Cenáculo, agora o Pentecostes de 2020 fez-nos reunir em assembleia de Igreja
para que a mesma Igreja seja reenviada ao mundo.
– Para
escrever este texto quis viver as celebrações das eucaristias do Pentecostes
deste ano, que teve tanto de novo quanto de significativo. Com efeito, em quase
trinta e sete anos de padre, foi a primeira vez que recorri – legítima, humilde
e sinceramente – à faculdade que o Ritual da Penitência nos confere de
celebrarmos ‘a reconciliação de vários penitentes com confissão e absolvição
geral’ – cf. Ritual da Celebração do Sacramento da Penitência, n. os
61 a 62. Efetivamente, decorridos mais de dois meses sem participação/presença
de fiéis na missa, pareceu-me que seria bom, à luz de um exame de consciência comunitário,
que todos pudéssemos fazer a experiência do reconhecimento de pecadores
perdoados… Quem tiver tempo e oportunidade ser-lhe-á muito útil reparar na
tríplice vertente da oração de absolvição – como dizia um padre que fez
idêntica experiência – parece uma fórmula adequada ao dia do Pentecostes.
– Com
data de final dos anos setenta do século passado, surgiu um livro simples e
programático do cardeal Joseph Suenens, ‘Um novo Pentecostes’, onde são
traçadas as linhas gerais disso que estava a delinear-se na Igreja católica
como sendo o que haveria de designar-se como ‘renovamento carismático’.
‘Corrente de graça’ – como disseram vários Papas, quando se referiram ao
renovamento carismático na Igreja e no mundo – decorrente do espírito do Concílio
Vaticano II incendiou o mundo com a vivência, agora no âmbito católico, daquilo
que se falava nos Atos dos Apóstolos.
Efetivamente,
foi pela consciencialização da ação do Espírito Santo que milhões de cristãos
reatualizaram aquilo que se dizia no ‘evangelho do Espírito Santo’, tal como é
salientado por tantos autores sobre o livro dos Atos dos Apóstolos: tudo o que
ali se dizia foi tornado vida e deu sentido ao nosso viver.
Dou
graças a Deus por ter vivenciado, à minha proporção e com a minha capacidade
humana e teológica, tanto daquilo que se foi espalhando pela face da Terra. De
facto, ao escutar a multiplicidade das línguas, numa só linguagem na narrativa
do Pentecostes, vem-me à lembrança momentos de comunhão ecuménica em Viena ou
Praga, onde a diversidade das línguas e de culturas – algumas antagónicas ao
nível político – se unia na mesma expressão de glossolalia atualizada em
gestos, palavras e sinais. Talvez falte a muitos dos atuais responsáveis dos grupos
ou de equipas diocesanas e/ou nacionais essas humildes experiências para que
possam ser marcantes as iniciativas e não como coroamento de ações de natureza
humana, mas talvez denunciando poderem ser sem a marca divina!
=
Àqueles que foram jovens e que viveram momentos significativos das suas vidas
na dinâmica do Espírito Santo queremos considerar que não podem colocar a
lâmpada sob o alqueire, mas colocando-a sobre o candelabro para que vibre e dê
testemunho. A geração dos que estão na fase da adolescência precisa de
encontrar quem lhe fale de Jesus, lhe mostre a ação do Espírito Santo e,
sobretudo, que queira viver isso em Igreja. Eis três vertentes que nos deveriam
ocupar, tanto na oração como na ação, por exemplo nos próximos cinco anos, por
forma a termos uma Igreja mais dinâmica, pela aceitação do Espírito Santo e na
adesão pessoal e comunitária a Jesus. Se tal fizermos estaremos a contribuir
para a renovação do ‘novo Pentecostes’ na Igreja e no mundo. Assim o cremos e o
desejamos.
Nota:
na noite do domingo de Pentecostes, na Moita, percorremos, em
procissão-caravana automóvel, as três localidades que compõem a paróquia – foi
um manifestar que Maria faz connosco Pentecostes, sempre!
António Sílvio Couto
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