Corroborando
um chavão mais ou menos aceite e conhecido – ‘não há almoços grátis’ – um
treinador de futebol ousou enfrentar o setor dos jornalistas, lembrando-lhes
tal façanha, bem como lançando a confusão nas hostes ínclitas da classe!
Em
reação corporativa, logo lhe foram fazendo o lastro para que a tarefa de
treinador esteja em perigo, lançando ainda mais suspeitas sobre a veracidade
dos factos aduzidos ou criando à volta do problema ainda mais burburinho de
quem se sentiu denunciado e usa o ataque como arma de defesa.
Desde
já uma declaração de interesses: sou simpatizante do clube do treinador em
pré-despedimento, mas procuro ser racional; por isso, considero que o clube não
tem condições para ser este ano campeão em futebol e, possivelmente, nos próximos
dois anos, pois quem tenta imitar a confusão de outros só poderá colher os
resultados deles!
=
Tentemos entrar nos meandros dos tais ‘almoço/jantares’ (ditos) grátis ou
rotulados ‘de trabalho’ e quais os seus custos, sobretudo se envolverem os tais
fazedores de notícias, que, por vezes, se acham no direito de cobrar a fatura,
quando não lhes parece bem retribuído o que desejavam.
Daquilo
que me foi dado viver, já há quase quatro décadas, nota-se que a tal classe dos
noticiadores não enjeita ser adulada, mesmo que se diga independente ou com
espírito crítico. Desde logo precisamos de saber quem lhe paga, isto é, quem
lhe dá o suficiente para continuar a escrevinhar ou a mandar bitaites. Será,
assim, tão difícil de compreender que tem de ser a voz do dono? Não haverá,
mesmo que inconscientemente, o recurso ao filtro de quem manda, na hora de
perspetivar o que se quer dizer ou aquilo que se quer mostrar? Não saber qual o
grupo a que pertence um jornal, uma rádio, uma televisão, uma plataforma
digital ou rede social é que como que andar a ser envenenado sem se dar conta…
Nada
disto será tão repugnante desde que os pretensos ‘independentes’ assumam que
não o são e que ainda não são tão incorruptíveis quanto desejam fazer crer…Como
se diz na gíria: toda a gente tem um preço, depende do custo que se lhe queira
pagar.
= Não
há profissão mais interesseira do que a daqueles que se dizem na ‘comunicação
social’, pois fala de tudo e de todos, mas, quando lhe toca a arder em casa,
ninguém sabe de nada e só pela concorrência se pode perceber o mal que vai na
casa alheia. Nesta área que alguns consideram do ‘quarto poder’ há uma panóplia
de intervenientes que se camuflam sob a capa de ‘jornalistas’, mas, na sua
maioria, não passam de jornaleiros, isto é, que têm informações privilegiadas
sobre a maioria dos casos e vão dando à estampa (quando se escrevia em jornal
papel), ao escaparate (na diversidade da literatura amarela ou cor-de-rosa) e à
tela (da tv, do écran do computador, do tablet ou noutra configuração) quando
lhes convém, de preferência tendo um exclusivo… Isto não é comunicação, quando
muito poderá ser rotulado de intoxicação… De facto, nota-se que falta seriedade
no uso do público para atingirem os seus fins. Em quantas pretensas entrevistas
se vê o preconceito para que possa satisfazer o ‘seu’ público, fabricado com
critérios nem sempre humanamente respeitadores das pessoas e da sua
privacidade.
No meio
de tudo isto emerge uma forma de comunicação: a do estado/governo, hábil na
forma, subtil na articulação e tendenciosa nos conteúdos. Quando se fizer a
história da cobertura noticiosa desta pandemia – sem esquecer a componente de
comentário – se saberá quanta estória ficou guardada porque não convinha à
máquina de comunicação do poder… e isto desde o governo central até às
autarquias e, por que não, às associações e coletividades ‘empenhadas’ no
socorro das vítimas.
Uma
simples palavra sobre essa outra forma de querer participar na barafunda do
aparecer aliado ao parecer, que são as ‘notícias’ das redes sociais. Veja-se
como uns segundos de filme se podem tornar – como agora se diz – virais,
fazendo com que algo lateral possa saltar para a ribalta, sem se ter averiguado
a verdade dos factos nem dos intervenientes e, uma vez mostrado, parece ser
verdadeiro, logo digno de crédito.
Bom
senso, capacidade de autocrítica e sentido do ridículo faria muito bem a alguns
‘jornaleiros/as’ da nossa praça. Não se defendam tanto, pois todos temos
telhados de vidro. Cuidado com os resultados!
António Sílvio Couto
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