A UEFA confirmou o que já se falava há dias: de 12 a
23 de agosto, realiza-se, em Lisboa a ‘final 8’ da liga dos campeões da Europa
em futebol.
Dizem que para a escolha concorreram três fatores: a
FPF (federação portuguesa de futebol) é uma das que tem maior peso/influência
ao nível europeu; Portugal passa a mensagem para o exterior de que é um país
seguro; grande impacto económico na região de Lisboa.
O anúncio do facto mais pareceu um episódio
terceiro-mundista com as mais altas figuras da Nação perfiladas à distância
sanitária e dando-lhe honras de diretos nas televisões, onde algum regozijo
mais parecia entretenimento de crianças em maré de faz-de-conta. A ver pela
fachada com que trataram a matéria será de prever que algo foi jogado nos
bastidores para que os intervenientes não quisessem colher os louros já por
antecipação.
Ora, fazer de um torneio de futebol um assunto de
Estado não revela algum desnorte nos critérios e nas questões essenciais da
vida política? Usar o futebol para tentar iludir os problemas mais importantes
não deixa a descoberto que algo vai mal na hierarquização das coisas desta
república? Instrumentalizar o assunto para colher frutos partidários não parece
mais um truque de quem vive de expedientes fúteis para atingir os seus intentos
mais ou menos subtis?
Aquele foi um ato de júbilo e contentamento. Dias
depois fomos confrontados com outra situação que teve tanto de significativa
quanto de caricata: dezena e meia de países europeus abriram as suas fronteiras,
mas condicionaram (proibiram) a entrada de cidadãos/turistas portugueses. A
maioria desses países fica no centro e no noroeste do continente e são quase
todos membros da UE como nós. Por cá emergiram vozes do governo a contestarem o
tratamento, pelo menos dois membros do executivo exprimiram-no com mais
veemência, mas nada surgiu, nem sequer uma retaliação proporcional de fazerem
para com os outros o que nos fizeram a nós.
Estes dois momentos da nossa vida pública têm por
sujeito o mesmo assunto: a forma como soubemos cuidar dos efeitos da pandemia
do coronavírus ‘covid-19’. Na questão do futebol os dados recolhidos eram
benéficos à nossa boa conduta, enquanto no segundo caso terão sido os números
crescentes e alarmantes de contágio do vírus na região da grande Lisboa que
geraram receio.
Dá a impressão que bastou desconfinar um pouco a
populaça e eis que vemos a realidade. Será que temos de escolher entre a saúde
e a economia? Não serão compatíveis e harmonizáveis as escolhas e as razões?
Seremos todos tão assintomáticos de juízo para não compreendermos que razões
maiores justificam os sacrifícios pedidos e vividos? Não saberemos andar de
rédea solta e na deriva de cada um fazer só o que lhe apetece? Não andará por
aí espalhada uma sensação menos boa de que certos grupos ou mesmo etnias se
consideraram imunes, mas são antes difusores silenciosos da pandemia?
= Nunca como agora se nota a necessidade de que seja
feita uma educação generalizada para a cidadania, por forma irmos educando
pessoas que saibam respeitar-se a si mesmas – no pudor, no respeito e na
sensibilidade à vergonha – e aos outros, isto é, sabendo o espaço que ocupam
bem como os direitos alheios e não só os individuais.
Precisamos ainda de aprender a saber gerir os
recursos pessoais ou familiares, pois, quando são mais abundantes devem ser
poupados para possíveis – e são cada vez mais de forma comum – momentos de
dificuldade. Nas várias crises que temos vividos nos últimos dez a quinze anos
tem faltado esta atitude educativa para sabermos enfrentar as marés de menor sucesso
e de piores rendimentos.
Enquanto continuarmos a querer viver acima das
nossas possibilidades cairemos, irremediavelmente, em momentos de colapso e,
pior, não aprenderemos a lição de que só no dicionário é que ‘sucesso’ aparece
antes de ‘trabalho’. Não nos deixemos ludibriar com números fabricados, tanto
do pretenso sucesso económico, quanto das vítimas (pelo nível inferior) da
pandemia. Em breve se saberá melhor a verdade!
António Sílvio Couto
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