No contexto efervescente da comunicação global, por
ocasião do momento e dos tempos posteriores àquilo que designam de pandemia,
fomos vendo surgirem slogans e cartazes reveladores mais ou menos da situação a
que estamos submetidos…mesmo que nem sempre compreendamos totalmente o que está
a acontecer.
Depois da tentativa de assalto aos monumentos,
estátuas e outros sinais ao passado – nosso e de outros países/nações –
emergiram propostas do subconsciente freudiano coletivo, onde poderemos tentar
ler quem assim se manifesta e, pior, quem se aproveita para acirrar sentimentos
nem sempre pacíficos, pacificados e pacificadores.
= O tal cartaz que vimos espalhado pelas ruas e
enclaves ideológicos de certas autarquias apresenta-nos a mão de um negro a
estender-se em socorro de uma outro/a de cor branca. Porque se não inverteu a
sugestão? Houve lisura na intenção ou quis-se chocar quem vê de forma
diferente? Para dar melhor conteúdo ao slogan: ‘ninguém pode ficar para trás’ não teria sido mais adequado colocar
mais do que uma mão de cada lado…da pseudo-trincheira? Por que tiveram certas
figuras eclesiais de fazer recurso a esta frase, se já a sabiam usada por
forças trotskistas? Não há mais capacidade de invenção do que usar ‘coisas’ que
cheiram a provocação e podem contribuir para a não-unidade? Quem assessoria os
responsáveis da Igreja, não deveria ter maior sentido de discernimento e
qualidade de exigência na hora da exposição pública daqueles a que devem e
podem ajudar?
= Por muito que isto custe de dizer e de ouvir,
vivemos numa época em que compensa ser preguiçoso, dá jeito favorecer quem vive
de expedientes e de subsídios, com facilidade se pode comprar favores com
benesses saídas da não-produção, pois ‘alguém’ há de pagar o que recebemos sem
produzir e o que ganhamos sem esforço nem trabalho.
Desgraçadamente continua-se a querer lançar dinheiro
para que possa haver consumo, mesmo que não se tenha cuidado em prever
claramente quem vai pagar a fatura a curto e a médio prazo. Não é possível
continuarmos a fazer-de-conta de que somos um país rico, enquanto vivermos dos
expedientes do turismo e de balelas da comida servida em restaurantes
patrocinados com dinheiros suspeitos e sob a alçada de gestores de
circunstância. O tecido económico – se é que ele existe e tem credibilidade –
do país não pode continuar a reger-se pelas estrelas ‘michelin’, quando o
melhor sabor é servido nas tabernas recônditas de cada localidade e onde os
preços são pagos por fora da conta registada e sem número de contribuinte. Os
milhões da economia paralela continuam a mover, de facto, maiores interesses de
autarquias, associações, coletividades e de outras agremiações até eclesiais…
Se, assim, não fosse seriam capazes de sobreviver com a taxação cega e
implacável das autoridades de finanças?
= Por mais do que uma vez contestei a frase bacoca –
‘vai ficar tudo bem’ – com que nos quiseram ludibriar desde o início do
confinamento em meados de março passado. Cantigas de mau gosto, vozes de fugir
e mensagens histéricas foram algumas das diatribes com que tivemos de conviver
durante o tempo de estar em casa. Pela minha parte tive de tolerar que uns
certos espertalhões impusessem – semanas a fio – ao resto do bairro ‘modas’
cançonetistas de duvidosa qualidade com luzes, acenos e aplausos a contento…
Diante do medo em sair de casa, aquilo parecia ser o menos mau para aguentar o
constrangimento ou uma espécie de lenitivo a contragosto.
Dizem que caminhamos para uma espécie de nova
normalidade. Mas será que não iremos recauchutar pouco mais do que o já visto?
Nada poderá ficar igual, tanto na mentalidade como no comportamento. Estaremos capazes
de mudar, de verdade?
Até quando vai continuar a imperar a ditadura
democrática da imbecilidade, sem que lhe não respondamos com frontalidade,
tolerância e verdade? Basta de pacifismo cobarde!
António Sílvio
Couto
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