Há frases que ditas de repente podem soar a
sem-senso, mas que refletivas poderão despertar algo sobre o qual deveríamos
pensar um pouco melhor.
Por estes dias ouvi: ‘este vírus ataca sobretudo os
ricos’… americanos, europeus, chineses...deixando de fora uma boa parte da
população de África e territórios mais pobres…do Planeta e até do nosso país!
Numa primeira fase de contaminação parece que foram
os que mais se movimentaram – para feiras e negócios, para festas e passeios,
em razões profissionais – de um lugar para outro, que foram os maiores difusores
do vírus…embora colocando esses aspetos sob reserva mental.
Se atendermos às sociedades atingidas pela pandemia
podemos considerar que o assunto desencadeado em finais de 2019 – daí a
designação de ‘covid’: corona vírus disease (doença do
coronavírus) e ‘19’ como a data de surgimento, em dezembro do ano passado em
Wuhan, na China – ganhou expansão desde o extremo Oriente e não foi levado tão
a sério como devia nalguns países, como por exemplo em Itália, Espanha, Estados
Unidos da América…
Numa atitude sem precedentes foi decretado um
recolher obrigatório – apelidado de confinamento social – na maior parte dos
países, uns mais cedo e outros mais tarde. Estes como que pagaram (e continuam
a pagar) caro alguma negligência das autoridades, aliadas a comportamentos de
risco de parte da população.
Adereços como máscaras e luvas foram largamente
difundidos como tentativa de não expandir a doença, tanto quanto se sabe,
propagada através das gotículas que são emitidas pela tosse ou ao espirrar,
lançadas para o meio ambiente e contaminando superfícies de convivência comum,
através das mãos (por isso o uso de luvas) e convívio social (em razão de tal
difusão se recomenda o uso de máscaras).
A cadeia de surto de ‘covid-19’ percorreu já várias
etapas: preparação (não foi muito levada a sério como risco geral), de resposta
– contenção (ainda à distância), contenção alargada (transmissão já na Europa e
no nosso país), mitigação (transmissão local, tanto em ambiente fechado como no
convívio social) e, por último, a fase de recuperação…onde se poderá verificar
o decréscimo fiável da doença.
= Independentemente da forma como cada um de nós foi
reagindo, neste pouco mais de um mês – o primeiro caso registado em Portugal
aconteceu a 2 de março – tudo mudou e nem o slogan bacoco – ‘vai ficar udo bem’
– criou melhor ambiente e mais atitude responsável por parte de muita gente.
Alguns achavam que isso era só para os outros – veja-se a forma indecente com
que foram para a praia ou continuaram a fazer festas como a da ‘mulher’ (no
início de março) ou até mesmo festanças do carnaval à mistura com sobrancerias de
ignorantes e quase criminosos. As exceções para poder andar na rua – fazer
compras, ir à farmácia ou passear o cão – nem sempre foram encaradas com a
razoável seriedade, pois os pobres dos animais eram (são) usados como alibis de
espertos/as sem consciência. Repara-se nas longas filas do norte para sul desde
Lisboa para tentarem romper o estado de emergência… Será isto aceitável? Até
onde irá a falta de civismo: se é para todos, também me atinge a mim…
= Perante os dados conhecidos – há quem diga que,
pelo menos, são falsos numa discrepância que pode ir até cinco vezes mais –
Portugal tem tido resultados que, embora duros, estão muito abaixo da gravidade
de outros países europeus: nalguns dias morriam, em Espanha, Itália ou
Grã-Bretanha, mais pessoas do que o máximo total registado do nosso país.
Haverá razões para esta ‘proteção’? Será isto resultado de algo que nos envolve
ou sustem? Na linha de crença cristã/católica será este um indício da proteção
de Nossa Senhora, desde sempre – há quase nove séculos – a nossa mãe e
protetora? Isso de estarmos na cauda da Europa não será benéfico e salutar?
Dado que só temos uma fronteira terrestre, isso dar-nos-á ascendente sobre
outros países europeus? Não será que a nossa pobreza ganha aos pontos os
evoluídos do resto do hemisfério norte?
Há quem considere que este mês de abrandamento das
atividades económicas, das deslocações em transportes e mesmo de algum recato
das pessoas em casa fez mais pela salvaguarda do Planeta do que todas as
campanhas e manifestações… Agora ouvem-se os pássaros a chilrear a qualquer
hora do dia, a esvoaçar com mais à-vontade. Como sempre em tudo Deus sabe tirar
o melhor proveito…
António Sílvio Couto
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