A
comemoração do ’25 de abril’ este ano foi alvo de razoável controvérsia…mais
por inépcia dos intervenientes do que pelo objeto da questão.
Novamente
veio a público uma certa tendência – 46 anos depois já era tempo de ultrapassar
esse complexo freudiano – de alguns que se acham donos/senhores/proprietários/administradores
do ’25 de abril’. Dá a impressão que registaram a patente, mas se esqueceram do
processo adstrito da marca…
Agora
que as coisas da economia estão a voltar à estaca zero, emergem fantasmas de um
passado que só tem deixado feridas no tecido humano e social. Num ápice aquilo
que era sucesso foi reduzido a pó no almofariz da pandemia do ‘covid-19’. Esse
pó vai ter de ser sorvido como cicuta social por bastante mais tempo do que
seria previsível. Em escassos dois meses perdemos tudo quanto diziam que
tínhamos conquistado, chorando nos mesmos locais onde antes se fazia festa.
Atividades de sucesso e grandes ganhos – como turismo ou a restauração – caíram
a pique e, segundo dizem, serão os maiores fornecidos de gente para o desemprego…
= A
título de partilha deixo um texto que enviei – por sua solicitação – para os
serviços de comunicação da Câmara onde resido. Foi-me pedido e tornado público…no
facebook camarário:
A
liberdade é um dom divino concedido a todas pessoas, crentes ou não-crentes.
A
liberdade não é um conceito abstrato: há pessoas livres e pessoas não-livres.
De que
adianta gritar liberdade, senão houver liberdade para gritar?
Quem é
livre, é responsável, respeita os outros na sua diferença, seja qual for a opinião
ou a cor…
Em 25
de abril queremos comemorar a recuperação de uma certa liberdade, mas será que
já o conseguimos?
Em 25
de abril de 74 disseram-nos, com gestos e palavras, que podíamos ser mais
livres, mas será que somos mais livres porque respeitadores e responsáveis?
Agradeço
a todos quantos me ensinaram a pensar pela própria cabeça, sendo livre.
Agradeço
a quem me concedeu espaço de valorização cultural e humanista.
Agradeço
a quem me ensinou a reconhecer, aceitar e pedir perdão pelos meus erros.
Em
resumo: conhecereis a verdade e a verdade vos fará realmente livres.
Sejamos,
então, portugueses livres, respeitadores e responsáveis, hoje mais do que ontem
e amanhã melhor do que hoje!
= Há 46 anos atrás apresentaram a ‘revolução’ com
três d’s: democratizar, descolonizar e desenvolver. Vejamos como têm sido
postos em marcha essas boas intenções:
*
Democratizar – será que é democracia o governo de minorias para
si mesmas? Será sinal de igualdade haver a sensação de uns que se sentem mais
democratas do que os outros? Quem tem a patente de mais democrata, se todos
parecem combinar antes a luta pelos seus direitos e não pelos deveres? As
ideologias – mesmo as defuntas noutras paragens – não precisarão de refletir
sobre a sua função democrática ou mais ditatorial? O melhor retrato da pior
democracia verifica-se na crescente abstenção nas eleições. Nem tudo está
garantido, antes como agora e no futuro…
*
Descolonizar – fomos um exemplo catastrófico neste campo:
deixamos quase só porcaria por onde passamos, criando mais miséria do que
sucesso, entregando o poder a senhores bem piores do que antes, confundindo as
populações com decisões de cobardes, que fogem na hora da verdade… A melhor
referência é a miséria em que deixámos a maioria dos ‘nossos’ colonizados…depois
de séculos de ocupação!
*
Desenvolver – não fora a adesão à União Europeia, em 1985, e
continuaríamos ainda mais na cauda da Europa. Como país de migração – teremos
quase metade dos residentes lá fora – fomos deixando escapar imensas
oportunidades de crescimento, de valorização e de desenvolvimento, que seja
mais do meramente económico… Teremos evoluído com sentido de responsabilidade
no quadro europeu e mundial?
Ainda haverá quem insista no chavão: ’25 de abril
sempre’, quando não fizemos o mínimo do sonho? Já seremos, de verdade, a terra
de fraternidade que tão pomposamente proclamamos na canção-hino?
António Sílvio Couto
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