Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



domingo, 15 de março de 2020

Onde está Deus nesta crise…do ‘covid-19’?


Tal como noutros momentos/acontecimentos mais difíceis da história da Humanidade, assim agora se pode/deve perguntar: onde está Deus? O que é que Ele nos está a querer dizer? Que sinais encontramos de que Ele está em tudo isto? Qual o contributo humano para esta situação generalizada de crise? Será isto resultado de uma tendência crescente de homem/mulher hodiernos terem posto Deus fora da sua existência? Não andaremos a viver, cada vez mais, segundo o princípio ‘como se Deus não existisse’? 

- Partindo do pressuposto de que nada acontece fora de Deus, temos de questionar-nos uns aos outros sobre tudo isto que está a acontecer… desde o que conseguimos enxergar até àquilo mais profundo que não temos capacidade de o verificar. Efetivamente, em menos de três meses – as primeiras notícias em Whuan, na China, datam de finais de 2019 – generalizou-se esta pandemia… cujos números de infetados, de colocados em vigilância (quarentena ou outro modelo) e até de falecidos estão em contínua desatualização… Tudo isto, num ápice mergulhou-nos nesse tal ambiente a roçar o tétrico e quase incontrolável, tanto pelas autoridades, quanto pelas pessoas mais ou menos conscientes daquilo que está em causa: a saúde pública e talvez a sobrevivência privada. 

- Perante as medidas tomadas para tentar controlar a epidemia pelo ‘covid-19’ poderemos ficar descansados? Haverá proporção entre um certo cuidado coletivo e algum desleixo pessoal? Já teremos todos interiorizado que podemos ser mais difusores do vírus do que recetadores do mesmo?

Há sinais evidentes de que o egoísmo é hoje a melhor forma de expressão religiosa, mesmos daqueles e para aqueles que se julgam cristãos. Com que facilidade se resguardam as pessoas, quando lhes parece estar em causa o seu interesse mais recôndito. Nalguns casos podemos perceber que, em matéria de direitos, andamos ainda muito longe da assunção completa dos deveres.

Um tanto à força as pessoas vão-se recolhendo em casa, atenuando os focos de difusão da doença. Tem estado a ser necessário recorrer â ameaça – e coimas e até prisão – para que as ruas fiquem libertas de pessoas, isto já para não falar das praias para onde convergiram, recentemente, os alunos dispensados das escolas, tanto médias como do ensino superior. Em certas circunstâncias as autarquias fecharam os parques de estacionamento próximos das praias para condicionarem os utentes… Isto parece uma brincadeira de gente pequena interpretada por ‘gente’ grande…sem qualidade cívica.

Soa um tanto a algo pidesco a indicação de não-permitir que mais de cinco pessoas possam estar juntas, na medida em que isso pode ser considerado um perigo para a propagação do vírus… No entanto, para aferirmos do estado de inconsciência coletiva a que termos chegado podemos ainda aduzir o açambarcamento de provisões a partir dos espaços de venda. Ainda não foi bem explicado o esgotamento em concreto do papel higiénico, dado que podemos encontrar outros recursos para substituir a sua função. 

= Ao nível da vivência da fé – particularmente na expressão católica – vimos que foram desenvolvidos vários recursos para que os ‘praticantes’ continuem, ultrapassando as condicionantes exteriores. Sugestões de missas pela internet (facebook, websites, youtube), pela rádio ou recorrendo à televisão (aqui em âmbito nacional). Apesar das dificuldades temos de encontrar soluções para que a nossa fé não seja menos bem alimentada em tempo de Quaresma e em dia de domingo. Certamente já reparamos que esta crise se desencadeou num tempo considerado forte da preparação para a Páscoa. Os mais diversos meios tradicionais da Quaresma estão coartados, pelo menos na sua expressão comunitária presencial. Temos de ser inventivos para fazermos deste tempo, já propício ao recolhimento, uma nova etapa de nos recentramos no essencial, de facultarmos mais tempo para Deus e de maior atenção aos outros, atendendo à sua ausência física que não psicológica e espiritual. Talvez seja oportuno que, em família ou pessoalmente, tenhamos um horário pré-estabelecido de oração – onde se pode incluir o rosário, a liturgia das horas, a via-sacra ou a meditação dos textos litúrgicos de cada dia – bem como podemos assistir a alguma celebração eucarística através a internet/televisão. Será sempre de boa conduta reaprendermos a ‘comunhão espiritual’ fora da missa…    

 

António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário