Partilha de perspectivas... tanto quanto atualizadas.



segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Será a violência o preço da liberdade?




É uma questão recorrente questionar e equilibrar ‘liberdade e segurança’, fazendo desta o enquadramento daquela ou a primeira o estímulo para viver a segunda. Como entender, então, que estejamos a viver num certo clima de crescente violência – física, verbal, psicológica e até moral – de forma preocupada na nossa cultura e no nosso país?

Será útil e necessário distinguir como as diversas formas de violência estão a cativar a liberdade e como ainda questionam constantemente a segurança de pessoas e de bens. Uma sociedade securitária poderá ser compatível com a liberdade nas suas mais díspares manifestações? Que é mais valioso – social, económica e culturalmente – a segurança ou a liberdade, isto é, poderemos dizer e fazer tudo e o resto ou estarmos seguros sob condições de melhor regime? O recurso à linguagem violenta não tem vindo a fazer um percurso cada vez mais pernicioso, dentro e fora dos laços familiares? Como poderá sobreviver uma sociedade, se é complacente para com erros capciosos de violência em gestos e palavras subtis, até de crianças em regime de má educação? Não haverá uma certa tolerância, que desistiu de fazer das virtudes humanas um critério de conduta, fazendo-se mais abstémio de princípios e glutão de valores humanos e até cristãos?  

* Perante certos clichés ideológicos podemos assistir à incongruência de alguma oligarquia (dita) de esquerda, segundo a qual a liberdade não poderá ser questionada se estiverem em causa uns tantos grupos de proteção, nem que para isso se inventem umas palavras terminadas em ‘fobia’ à custa de haver uma pretensa igualdade para todos os cidadãos… e, à sua maneira libidinosa, cidadãs…ou de género. Nota-se alguma dificuldade de gestão da matéria, quando os ‘protegidos’ da oligarquia governante veem em competição de etnias que desejava fora da barricada de conflito! Que maçada verem-se, sobretudo, negros e ciganos a serem protagonistas de violência, quando se queria vender que eram, no fundo, vítimas…dos nacionais, brancos e pseudocapitalistas!  

* Os múltiplos sinais de violência atraem mais as notícias do que atos de benemerência ou de solidariedade. Talvez, deste modo, estejamos a contribuir para o recrudescimento da violência, senão explícita ao menos tácita. Há, no entanto, novos fenómenos de violência que merecem atenção, dada a incidência em que se encontram e aquilo que podem revelar de mais profundo da nossa podre sociedade. Os episódios de violência nos recintos desportivos e, em especial, nos estádios de futebol. Isso será tanto mais grave quando difundido nas transmissões em direto, dando-se, assim, cobertura a atos de violência quase de espetáculo gratuito. Não há, no entanto, controlo e fiscalização à entrada dos estádios? Por que razão ainda subsistem tais anomalias: por incúria ou por concordância? As caras-tapadas e os encapuçados não querem significar que estamos perante delinquentes que não se assumem com direitos nem com obrigações? Como deverá o governo, verdadeiramente, lidar com esta situação, que tem tanto de complexa quanto de simples? A segurança pública – mesmo na incidência de perturbação social – não deveria merecer um pouco mais do que frases-feitas – e, nalguns casos, afirmações tontas – de quem tutela a área?  

* Muita da violência hodierna funciona como uma espécie de nova expressão da ‘luta de classes’ da famigerada dialética marxista, pois aí se podia introduzir algo que condicionava e faria uns tantos que lutariam para vingar os direitos mais básicos. Ora, o que vemos hoje é alguma efabulação de consequências perante umas míseras causas, isto é, uma tal sociedade/cultura pretensamente urbana deseja aniquilar os que podem ser de procedência mais ou menos rural, na medida em que estes estão situados num quadro de valores que as franjas urbanas já não valorizam nem consideram como essenciais. Os rurais guiam-se ainda por virtudes que os citadinos já esqueceram ou nas quais nunca foram educados. Esta discrepância nota-se em pequenos gestos no nosso país, mas que uma boa parte vai obnubilando de forma mais ou menos consciente e consequente… Repare-se no fenómeno dos fogos florestais…só começaram a ser levados a sério – na linha da violência até noticiosa – quando atingiram as fraldas das tais povoações suburbanas…

A violência pode matar. A liberdade exige responsabilidade. A segurança pode condicionar a liberdade!   

 

António Sílvio Couto

Sem comentários:

Enviar um comentário