É uma questão recorrente questionar e equilibrar ‘liberdade
e segurança’, fazendo desta o enquadramento daquela ou a primeira o estímulo
para viver a segunda. Como entender, então, que estejamos a viver num certo
clima de crescente violência – física, verbal, psicológica e até moral – de
forma preocupada na nossa cultura e no nosso país?
Será útil e necessário distinguir como as diversas
formas de violência estão a cativar a liberdade e como ainda questionam
constantemente a segurança de pessoas e de bens. Uma sociedade securitária
poderá ser compatível com a liberdade nas suas mais díspares manifestações? Que
é mais valioso – social, económica e culturalmente – a segurança ou a
liberdade, isto é, poderemos dizer e fazer tudo e o resto ou estarmos seguros
sob condições de melhor regime? O recurso à linguagem violenta não tem vindo a
fazer um percurso cada vez mais pernicioso, dentro e fora dos laços familiares?
Como poderá sobreviver uma sociedade, se é complacente para com erros capciosos
de violência em gestos e palavras subtis, até de crianças em regime de má
educação? Não haverá uma certa tolerância, que desistiu de fazer das virtudes
humanas um critério de conduta, fazendo-se mais abstémio de princípios e glutão
de valores humanos e até cristãos?
* Perante certos clichés ideológicos podemos
assistir à incongruência de alguma oligarquia (dita) de esquerda, segundo a
qual a liberdade não poderá ser questionada se estiverem em causa uns tantos
grupos de proteção, nem que para isso se inventem umas palavras terminadas em
‘fobia’ à custa de haver uma pretensa igualdade para todos os cidadãos… e, à
sua maneira libidinosa, cidadãs…ou de género. Nota-se alguma dificuldade de
gestão da matéria, quando os ‘protegidos’ da oligarquia governante veem em
competição de etnias que desejava fora da barricada de conflito! Que maçada verem-se,
sobretudo, negros e ciganos a serem protagonistas de violência, quando se
queria vender que eram, no fundo, vítimas…dos nacionais, brancos e
pseudocapitalistas!
* Os múltiplos sinais de violência atraem mais as
notícias do que atos de benemerência ou de solidariedade. Talvez, deste modo,
estejamos a contribuir para o recrudescimento da violência, senão explícita ao
menos tácita. Há, no entanto, novos fenómenos de violência que merecem atenção,
dada a incidência em que se encontram e aquilo que podem revelar de mais
profundo da nossa podre sociedade. Os episódios de violência nos recintos
desportivos e, em especial, nos estádios de futebol. Isso será tanto mais grave
quando difundido nas transmissões em direto, dando-se, assim, cobertura a atos
de violência quase de espetáculo gratuito. Não há, no entanto, controlo e
fiscalização à entrada dos estádios? Por que razão ainda subsistem tais
anomalias: por incúria ou por concordância? As caras-tapadas e os encapuçados
não querem significar que estamos perante delinquentes que não se assumem com
direitos nem com obrigações? Como deverá o governo, verdadeiramente, lidar com
esta situação, que tem tanto de complexa quanto de simples? A segurança pública
– mesmo na incidência de perturbação social – não deveria merecer um pouco mais
do que frases-feitas – e, nalguns casos, afirmações tontas – de quem tutela a
área?
* Muita da violência hodierna funciona como uma
espécie de nova expressão da ‘luta de classes’ da famigerada dialética
marxista, pois aí se podia introduzir algo que condicionava e faria uns tantos que
lutariam para vingar os direitos mais básicos. Ora, o que vemos hoje é alguma
efabulação de consequências perante umas míseras causas, isto é, uma tal
sociedade/cultura pretensamente urbana deseja aniquilar os que podem ser de
procedência mais ou menos rural, na medida em que estes estão situados num
quadro de valores que as franjas urbanas já não valorizam nem consideram como
essenciais. Os rurais guiam-se ainda por virtudes que os citadinos já esqueceram
ou nas quais nunca foram educados. Esta discrepância nota-se em pequenos gestos
no nosso país, mas que uma boa parte vai obnubilando de forma mais ou menos
consciente e consequente… Repare-se no fenómeno dos fogos florestais…só
começaram a ser levados a sério – na linha da violência até noticiosa – quando
atingiram as fraldas das tais povoações suburbanas…
A violência pode matar. A liberdade exige
responsabilidade. A segurança pode condicionar a liberdade!
António Sílvio Couto
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