Percorreu
a comunicação social – agora diz-se: de forma ‘viral’ – um gesto de alguma
irritação do Papa Francisco para com uma senhora – dá impressão que era de
aspeto oriental – que o tentou reter, por ocasião da sua passagem junto das
barreiras do público, antes da celebração no último dia do ano passado…
Isso que
aconteceu foi de tal forma desagradável que o próprio Papa pediu desculpa
pública, na oração de Angelus do primeiro dia do ano, por ter perdido a
paciência para com aquela senhora – seria fiel ou provocadora? – no dia 31 de
dezembro passado.
As
reações foram tão díspares – ou seria melhor dizer disparatadas – que talvez
seja útil colocar alguns pontos de ordem à nossa reflexão humana, cristã, católica
e mesmo papal.
Os
títulos e os comentários roçaram alguma menos boa aceitação sobre o
gesto/atitude/reação do Papa Francisco. ‘Papa irrita-se com mulher e dá-lhe
palmada na mão’; ‘Papa irrita-se com mulher que lhe agarrou a mão’; ‘Papa
Francisco bate na mão de mulher que o tentava puxar’… eis alguns dos títulos
das publicações escritas por cá.
Há quem
coloque o incidente sob a alçada da menos boa atuação da segurança para com o
Papa com os inerentes riscos de ele se aproximar em excesso das multidões e de
nem sempre ser atalhado que algo pode acontecer de imprevisto senão mesmo de
atentado.
Embora
reconhecendo que foi um mau exemplo por ter perdido a paciência, o Papa
Francisco tão popular e excessivamente próximo de quantos dele se abeiram
poderá intentar uma nova forma de se dizer próximo sem proximidades arriscadas…
Recordo
a comunicação que ouvi, em Fátima, de António Spadaro – um jesuíta italiano com
boa reputação desde o Vaticano – que comparava os dois últimos papas e os seus
gestos: Bento XVI não alargava os braços perante as multidões mais do que a
abrangência dos ombros, como bom alemão circunspeto que era e que é; enquanto
Francisco exprimia a sua relação com as multidões abrindo o mais amplamente que
podia os braços…à boa maneira da América Latina. Ora, sete anos depois de ter
chegado à cátedra de Pedro, Francisco revelou este simples incidente no trato
com as multidões que o cercam. Isto é mais do que um problema de segurança,
poderá (e deverá) servir para rever o modo de estar com quem o procura, isto é,
próximo mas sem exageros… para que não se tenha de retrair no modo de estar,
condicionando a forma de ser…
Este
episódio com o Papa não poderá deixar tudo na mesma, pois não pode ser
interpretado como uma grande ofensa nem como algo de somenos interesse. O Papa
Francisco é humano e pode reagir de forma menos correta. Por outro lado, não
foi tudo deitado a perder sobre o que ele tem feito, dito ou atuado… ao longo
de mais de oito décadas de vida, se bem que as últimas sete tenham sido mais sob
os holofotes da comunicação social. Ter compreensão para com uma reação mais
irritadiça não faz com que o Papa seja considero rude ou menos bem-educado.
Também podemos e devemos considerar que, por vezes, há pessoas que não sabem
respeitar os limites de aproximação aos outros, sobretudo àqueles que ocupam
lugares de algum relevo humano ou social. Saída do anonimato a dita senhora
talvez venha a tornar-se um alvo de atenção sobre a repercussão daquilo que lhe
aconteceu com o Papa possa significar.
Num inquérito
de um jornal de grande tiragem sobre o impacto do incidente com o Papa, as
respostas situavam-se: dois terços dos que responderam eram a favor do Papa e
só um terço aceitando que isso abalava a imagem de Francisco…
Que não
seja um momento infeliz de irascibilidade que possa deitar a perder tudo quanto
o Papa Francisco tem feito pelos outros, inclusive por aqueles que, de tantas e
tão variadas formas, o vão detraindo. Queira Deus reconstruir o que algum mal
ofuscou…
António Sílvio Couto
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