Apareceu,
por estes dias, num canal televisivo uma reportagem – rotulada de
‘investigação’ – em que um pai aduzida que a sua filha única estaria a ser
vítima de abusos por parte das religiosas/monjas do mosteiro onde tem vivido.
Os
ingredientes apresentados pela reportagem eram quase todos na linha da
depreciação daquela agremiação religiosa católica: os testemunhos apresentados,
os casos trazidos à colação e até a pretensa reconstituição com a ‘monja’
vítima se serviu de elementos pouco adequados à pretensão, pois era colocado o
livro ‘missal romano’ como texto da consulta e de formação…
É
compreensível que um pai, dito como médico (ao que parece psiquiatra) tente o
melhor para a sua filha única, mas talvez não seja muito correto – certamente
saberá do ofício que exerce – colocar fantasmas, recorrer a possíveis
difamações e, sobretudo, pretender lançar um labéu de suspeita, acusação e
maledicência sobre uma organização católica internacional, presente no nosso
país há quase vinte anos, desde Sesimbra e agora no Couço, diocese de Évora.
Durante
alguns, enquanto não tiveram capelão exclusivo, fui dos padres que celebrou
missa para as monjas de Belém, no mosteiro em Calhariz, Sesimbra. Tinham a sua
forma própria de liturgia e do padre somente desejavam a celebração da missa,
sem homilia. Eram as regras, não há como não cumpri-las… Nunca me foi dado ver
nem observar nada daquilo que apareceu na dita ‘investigação’, onde se notava
mais um afã de denegrir do que de informar ou esclarecer. No ar ficou, com
alguma subtileza que em certas organizações católicas nem tudo é tanto como se
pretende perceber com mentalidade mundana… Como era dito por uma das monjas, o
mistério da vocação à vida religiosa nem todos conseguirão compreendê-lo…dentro
da linguagem de dedicação a Deus e não tanto na tendência social.
= Uma
pergunta me percorreu, como um lampejo, após constatar o ar sombrio e algo
preocupado daquele pai: e se a sua filha em vez de ter ido para um mosteiro
tivesse ido para uma ‘casa de alterne’, colocar-se-iam, da mesma forma, os
problemas de abuso como era postos na situação de estar num mosteiro? Seriam
menos incompatíveis tais recursos à submissão na ‘casa de alterne’ do que no
mosteiro? A lógica do prazer do mundo fascina mais do que a sedução dos
prazeres espirituais, no seguimento de Jesus Cristo? Não andará no ar uma
espécie de perseguição encapotada de ‘liberdade religiosa’, desde que seja para
atingir quem segue o mistério da vocação cristã? Não falta respeito, por parte
de muitos setores da vida social e cultural, por quem não se deixa ir na onda de
querer ser em de continuar na fase do parecer? Não serão as atitudes menos
compreensíveis de alguns/algumas, chamados/as por Deus, que incomodam a
instalação, o comodismo e até a incongruência de certos denunciantes?
= Na
reportagem de onde partimos para esta reflexão pareceu pouco credível a
aportação de alguns ‘casos’ internacionais – importando um tal relatório
francês – para fazer verificar que há mais situações anómalas, neste como
noutros mosteiros, conventos ou casas religiosas. Mais uma vez: porque só são
divulgadas situações que envolvem a vertente religiosa e não aparecem com
idêntico azedume o que envolve as forças armadas e de seguranças, tantos
colégios não-religiosos ou agremiações secretas?
É claro
que Deus pode incomodar e será mais fácil atirar-se aos que andam na sua
esfera, pois não reagirão – pensam alguns mentores – de forma tão rápida,
irreverente e também ao ataque. Neste, como noutros casos, será preciso, para
além da defesa correta e duma certa dose de perdão cristão, uma capacidade de
não se deixa queimar em lume brando, pois Deus está por nós, mas pouco fará sem
o nosso contributo atento, sagaz e inteligente.
Urge
saber quem vai orquestrando estas ‘reportagens’ a pedido ou ainda quem se
esconde para tentar lançar a confusão, mesmo que à custa da mentira, do
sarcasmo e até da liberdade sem responsabilidade. Nem tudo está totalmente
correto nas associações, coletividades ou congregações cristãs, mas será preciso
ser coerente e não se deixar embarcar em pias intenções, quando estão
carregadas de malícia, falsidade e mesmo de falta de verdade, ontem como hoje!
António Sílvio Couto
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