Coincidiram
no tempo duas iniciativas onde esteve subjacente o mesmo tema: a ecologia no
complexo da economia… nos nossos tempos. Em Davos (Suíça) decorreu, de 21 a 24
deste mês, a 50.ª sessão deste meeting internacional de grandes capitalistas
mundiais. Por seu turno, em Albufeira, realizaram-se, de 20 a 23 também deste
mês, as jornadas de formação do clero das quatro dioceses ao sul do Tejo. Neste
evento o tema andou em volta da ‘ecologia integral: o homem no centro da
criação’, enquanto a cimeira internacional teve como referências também aspetos
relacionados com a crise climatérica e questões de economia.
Cerca
de dois mil quilómetros de distância geográfica fazem-se próximos pela
afinidade temática, num tempo em que as questões ambientais devem ser inseridas
numa visão de ‘desenvolvimento humano integral’, como referiu Niccola Riccardi,
um professor franciscano, subsecretário do dicastério do Vaticano para o
serviço integral para o desenvolvimento humano. Este académico italiano
substituiu o cardeal Peter Turkson (perfeito do dicastério para o serviço do
desenvolvimento humano integral), que foi representar a Santa Sé no meeting de
Davos, onde proferiu uma intervenção do Papa Francisco nas bodas de ouro
daquele convénio mundial dos ricos…Na sua mensagem o Papa realçou a dimensão
ética na definição das relações internacionais, salientando que “somos todos membros de uma família humana. A obrigação moral de cuidarmos
uns dos outros decorre desse facto, assim como do princípio relacionado de
colocar a pessoa humana, e não a mera busca de poder ou lucro, no centro das
políticas públicas”.
= Feita
esta aproximação no tempo e na temática poderemos encontrar algumas vertentes
apresentadas nas jornadas de atualização do clero das dioceses do Algarve,
Beja, Évora e Setúbal, num total de quase cento e vinte participantes.
Fazemos
um breve respigo dos diversos palestrantes:
* Cada
europeu consome por ano uma média de dezasseis toneladas de materiais e cria
seis toneladas de resíduos (Francisco Ferreira);
* É um
erro ser reduzido o conceito de desenvolvimento ao de crescimento
económico…Será crescimento de todos ou de uma parte e qual será o preço deste
crescimento sobre o ambiente. A Igreja guarda um pensamento sobre o bem comum,
onde bem-estar é muito mais do que estar bem. Precisamos de ter uma visão
unitária do relacionamento com as pessoas e o mundo. Verifica-se ainda o erro
de uma espiritualidade separada da história e da criação. Com efeito, na união entre
a história e o exercido da ‘guarda do jardim’ se encontra a realização do
desenvolvimento sustentável (Niccola Riccardi);
* Trazemos
impresso em nós o selo de Deus. Através do ‘critério de dependência’ podemos
perceber que ninguém deu a vida a si mesmo e ninguém é dono de si mesmo. Duas
palavras resumem esta visão: silêncio e repouso – silêncio envolve o mistério
da criação e da redenção; repouso – expressão que leva à alegria e à
misericórdia (Rino Fisichella);
*
Vivemos um novo paradigma mais relacional, num outro tipo de sociedade:
comunicação interativa. Como podemos, então, entrar nesse paradigma relacional?
Tendo o sacramento da reconciliação por referência podemos compreendê-lo nessa
relação com Deus, com os outros e com a natureza. O pecado será transgressão à lei
ou como dimensão relacional? Sou amado, logo existo! (Martin Carbajo);
* A beleza
da criação permite o conhecimento de Deus. Conexão entre ecologia e ética,
formação da consciência, crítica pelas formas de individualismo, exigindo e
sendo consequência da conversão ecológica, em ordem à vivência de uma autêntica
espiritualidade ecológica (Rino Fisichella);
* Prevalece
o mais adaptado e o mais altruísta. Informar a curiosidade exige muitas escalas
de tempo – dos 10 anos aos 100 mil anos. É preciso distinguir entre o destinado
e o planeado. O futuro é um passado abrindo outra porta (F. Carvalho
Rodrigues);
* Deve
falar-se de normas de proteção dos animais mais do que de direitos dos animais,
pois os direitos implicam capacidade de liberdade, deve-se, portanto, terem
conta a dignidade sobre a qual se alicerçam so direitos humanos (Pedro Vaz
Patto).
Apesar
dos milhares de quilómetros e dos campos de intervenção o que se passou em
Davos e em Albufeira foram breves pinceladas para a salvaguarda da nossa
casa-comum. Deus merece, a natureza e os outros!
António Sílvio Couto
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