As
notícias sobre a compra-venda de jogadores tem sido habitual, sobretudo, na
área do futebol, atingindo preços exorbitantemente escandalosos. Quem
acompanhe, mesmo que ao-de-leve, estes assuntos do futebol saberá que o valor
dos jogadores se mede da frente para trás, isto é, um avançado (de quem se
espera golos e vitórias) vale mais do que um centrocampista ou um defesa e
imensamente menos é valorizado o guarda-redes…como se o goleiro não dependesse
dos outros para marcar…
Ora
este espetáculo especulativo chegou a outros campos de atividade, tais como o
jornalismo, a televisão, a representação em telenovela e mesmo o (pretenso)
entretenimento…dito cultural. Assim temos visto figuras a trocarem de estação à
cobrança de maior salário do que aquele – já substancial – auferiam.
A mais
recente transferência – que, no fundo, é uma reincidência – foi protagonizada
por um dos ‘velhos’ gatos com mau cheiro…este não tem nada a ver com odores,
mas antes pelas impertinências – captadas por uns tantos iluminados – da
jocosidade transversal. Embora de unhas enferrujadas ou em forma de fazer
cócegas, trocou um canal privado (em vias de ser vendido) por outro que se
considera em reformulação… acrescentando-se a outras trocas também milionárias,
no passado não-muito longínquo.
Dizem
que os números envolvidos que a mudança pode atingir cinquenta mil euros por
mês ao agora trânsfuga regressado…Verdade ou mentira? Suposição ou embuste?
Lenda ou revelação? Manipulação ou engano? Provocação ou falta de senso?
A
fazermos fé nos números anunciados aquele montante será mais pago,
essencialmente, pelos telespectadores mais do que pela qualidade do produto que
possa ser apresentado. Com efeito, as ditas audiometrias, permitem aos grupos
económicos, que gerem os contratos de publicidade, somar mais ou menos em
conformidade com o número de telespectadores que acedem aos meios de
comunicação em causa. Assim se muitos virem os programas do pretenso
humorista/comunicador os custos/ganhos serão maiores para quem quiser inserir
spots publicitários no horário de emissão… Será uma questão de números mais ou
menos manipuláveis.
= Tendo
em conta o tecido económico-social do nosso país parece que, casos como o que
temos estado a analisar, conferem à nossa conduta coletiva uma espécie de
anomalia mais ou menos escandalosa, na medida em que vemos sujeitos a serem
pagos num mês o montante que uma fatia significativa da população não consegue
auferir ao longo de um ano. Será isto moralmente aceitável? Não andaremos a
construir uma sociedade em estratos de classes à custa da exploração da
ignorância? O desequilíbrio entre os fatores não virá a tornar-se potencial de
conflitos? Com que direito uns tantos se arrogam na presunção de importância
que meros fatores secundários lhes conferem circunstancialmente? Será desta
forma abusiva que iremos criar uma sociedade mais justa e acertada nos deveres
e nos direitos?
=
Noutra perspetiva se pode ainda considerar que há muita gente – bem mais do que
seria desejável – que tem sobre si mesma uma exagerada noção ou um conceito que
só o seu ego idolatrado alberga. Tenho encontrado pessoas que lutam em excesso
por serem apreciadas, confundindo os dons/qualidades que têm com a presunção de
serem aquilo que os outros não lhe reconhecem. Esta ‘doença’ é bem mais vulgar
do que se possa julgar e vai criando em muitos círculos de relacionamento focos
de problemas senão mesmo de conflitualidade. Se aliarmos isto às pretensões que
tantos/as manifestam poderemos entrar numa espiral de arrogância, bem mais
visível do que seria desejável…
Quantos
mentores e executores da política, na vida eclesial, nas áreas profissionais,
nas autarquias ou nas instâncias de governo e partidárias acham que têm um
preço, mas o seu valor é bem menor do que creem e mais mínimo do que pelo modo
como se fazem pagar… A verdade seria a melhor conselheira de tanta dessa gente
que está na vida pública, assim todos nos ajudássemos e fossemos ajudados…leal
e sinceramente!
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário