Segundo
dados da ONU era este o número de portugueses a residir fora do espaço
territorial do nosso país, em 2019. O observatório da emigração deste organismo
internacional considera ainda que 57% dos portugueses emigrados vive no espaço
europeu, 40% no continente americano e 3% em África, Ásia e Oceânia.
Atendendo
a dados anteriores, nota-se que está a cresce a emigração lusa no continente
americano e a decrescer na Europa e na África.
Sempre
fomos um país que teve ‘fronteiras’ muito para além dos limites territoriais
visíveis. Quase sempre se encontra um português espalhado pelo mundo. Muitas
vezes nos lugares mais inesperados vemos reminiscências da passagem ou da
presença lusitana.
As
razões da ‘nossa’ emigração são tão variadas quão imprevisíveis, isto desde
tempos quase imemoriais. A aventura dos portugueses no mundo está quase ligada
à sua natureza mais profunda de povo pequeno no tamanho, mas não nas
aspirações. Os motivos e as motivações para emigrar foram sendo aferidos às
épocas históricas (sociais, económicas e culturais), às condições de vida e até
àquilo que se aspirava a concretizar mais depressa ou com tempo alargado.
Se
houve quem tenha atendido àquilo que os emigrantes desejavam, nos tempos mais
recentes temos visto ser negligenciado o apreço, a atenção e o cuidado para com
os emigrantes, nessa falácia de que temos vindo a tornar-nos um país de
imigrados. Ora, os números supra apresentados configuram uma total mentira e um
perfeito engano por parte de quem nos tem governado. Efetivamente, continuam a
sair do país mais pessoas do que aquelas que pretensamente nos têm procurado. A
continuarmos nesta sangria social teremos em breve uma espécie de risco em
querermos acolher quem chega, mas desprezando quem parte, mesmo que estes
tenham mais qualidade humana, de instrução e até profissional.
Há
ainda um perigo mais subtil: se, em tempos, os emigrantes iam com a ânsia de um
dia voltar, dá a impressão que hoje partem com menos boa intenção de
regressarem. Se, anteriormente, as remessas económicas dos emigrantes eram uma
fonte de financiamento e de investimento por cá, com as tropelias do setor
bancário, vemos que muitos dos emigrantes já não fazem reverter as suas
economias na nossa economia mais geral.
Muita
coisa mudou no panorama da emigração. Agora, decorridas duas ou três gerações
sobre a partida, os filhos e netos dos migrantes tornaram-se cidadãos dos
países onde estão e multiplicam-se os laços – familiares, sociais, culturais e
empresariais – de ligação aos locais de vivência e já não aos espaços de seus
antepassados.
Hoje é
comum vermos filhos e netos de portugueses casados – de facto ou só de
conveniência – com turcos, com muçulmanos, com pessoas do antigo leste europeu,
com hindus ou do país do sol nascente…numa panóplia de relacionamentos que
fazem dos emigrantes criadores de novas culturas e de uma mescla de
religiosidades que trarão, certamente, confusões, atritos e problemas a curto e
a médio prazo.
Se
ainda há pouco tempo era, para alguns, aceitável a multiculturalidade, agora
surgem extremistas (políticos ou de raças) que veem com maus olhos essa
diversidade, vivência e oportunidade. Talvez seja essencial não darmos por
adquirido o clima de convivência entre tantas experiências nem de parecer que todos
aceitam que continue a haver tal concordância. Emergem pequenos focos de
conflito. Aparecem mentores de nacionalismos. Surgem organizações que excluem e
não fomentam a sã convivência. Circulam no subterrâneo do tecido social sinais
de que nem tudo é como se vê nem se mostra ou parece.
Torna-se
preocupante que só se dê importância ao populismo (dito) de direita e não se
consiga percecionar os tenáculos dessoutro populismo de (uma tal) esquerda, que
usa as pessoas para que sirvam aos seus objetivos de fomentar racismo,
xenofobia, discriminação (do pretenso género ou de conveniência)…na medida em
que se dizem defensores contra esses perigos, mas são antes fomentadores sem
rosto disso que mais não é do que aquilo de que rotulam os outros. Como têm uma
boa parte da comunicação social do seu lado facilmente difundem os seus ideais
de forma capciosa, insidiosa e venenosa quanto baste.
É tempo
de acordar!
António Sílvio Couto
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