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terça-feira, 12 de novembro de 2019

Teremos 2.631.559 emigrantes


Segundo dados da ONU era este o número de portugueses a residir fora do espaço territorial do nosso país, em 2019. O observatório da emigração deste organismo internacional considera ainda que 57% dos portugueses emigrados vive no espaço europeu, 40% no continente americano e 3% em África, Ásia e Oceânia.
Atendendo a dados anteriores, nota-se que está a cresce a emigração lusa no continente americano e a decrescer na Europa e na África.
Sempre fomos um país que teve ‘fronteiras’ muito para além dos limites territoriais visíveis. Quase sempre se encontra um português espalhado pelo mundo. Muitas vezes nos lugares mais inesperados vemos reminiscências da passagem ou da presença lusitana.
As razões da ‘nossa’ emigração são tão variadas quão imprevisíveis, isto desde tempos quase imemoriais. A aventura dos portugueses no mundo está quase ligada à sua natureza mais profunda de povo pequeno no tamanho, mas não nas aspirações. Os motivos e as motivações para emigrar foram sendo aferidos às épocas históricas (sociais, económicas e culturais), às condições de vida e até àquilo que se aspirava a concretizar mais depressa ou com tempo alargado.    
Se houve quem tenha atendido àquilo que os emigrantes desejavam, nos tempos mais recentes temos visto ser negligenciado o apreço, a atenção e o cuidado para com os emigrantes, nessa falácia de que temos vindo a tornar-nos um país de imigrados. Ora, os números supra apresentados configuram uma total mentira e um perfeito engano por parte de quem nos tem governado. Efetivamente, continuam a sair do país mais pessoas do que aquelas que pretensamente nos têm procurado. A continuarmos nesta sangria social teremos em breve uma espécie de risco em querermos acolher quem chega, mas desprezando quem parte, mesmo que estes tenham mais qualidade humana, de instrução e até profissional.
Há ainda um perigo mais subtil: se, em tempos, os emigrantes iam com a ânsia de um dia voltar, dá a impressão que hoje partem com menos boa intenção de regressarem. Se, anteriormente, as remessas económicas dos emigrantes eram uma fonte de financiamento e de investimento por cá, com as tropelias do setor bancário, vemos que muitos dos emigrantes já não fazem reverter as suas economias na nossa economia mais geral.
Muita coisa mudou no panorama da emigração. Agora, decorridas duas ou três gerações sobre a partida, os filhos e netos dos migrantes tornaram-se cidadãos dos países onde estão e multiplicam-se os laços – familiares, sociais, culturais e empresariais – de ligação aos locais de vivência e já não aos espaços de seus antepassados.
Hoje é comum vermos filhos e netos de portugueses casados – de facto ou só de conveniência – com turcos, com muçulmanos, com pessoas do antigo leste europeu, com hindus ou do país do sol nascente…numa panóplia de relacionamentos que fazem dos emigrantes criadores de novas culturas e de uma mescla de religiosidades que trarão, certamente, confusões, atritos e problemas a curto e a médio prazo.
Se ainda há pouco tempo era, para alguns, aceitável a multiculturalidade, agora surgem extremistas (políticos ou de raças) que veem com maus olhos essa diversidade, vivência e oportunidade. Talvez seja essencial não darmos por adquirido o clima de convivência entre tantas experiências nem de parecer que todos aceitam que continue a haver tal concordância. Emergem pequenos focos de conflito. Aparecem mentores de nacionalismos. Surgem organizações que excluem e não fomentam a sã convivência. Circulam no subterrâneo do tecido social sinais de que nem tudo é como se vê nem se mostra ou parece.
Torna-se preocupante que só se dê importância ao populismo (dito) de direita e não se consiga percecionar os tenáculos dessoutro populismo de (uma tal) esquerda, que usa as pessoas para que sirvam aos seus objetivos de fomentar racismo, xenofobia, discriminação (do pretenso género ou de conveniência)…na medida em que se dizem defensores contra esses perigos, mas são antes fomentadores sem rosto disso que mais não é do que aquilo de que rotulam os outros. Como têm uma boa parte da comunicação social do seu lado facilmente difundem os seus ideais de forma capciosa, insidiosa e venenosa quanto baste.
É tempo de acordar!   

António Sílvio Couto

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