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quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Do consumo pela corrupção ao civismo…cristão


Estas quatro palavras iniciadas com a letra ‘c’ podem ajudar-nos a dimensionar, de força diferente, a nossa caminhada de Advento…rumo ao Natal de Jesus, isto é, verdadeiramente cristão na vida do dia-a-dia.

 

* Sobre o consumo – melhor seria dizer consumismo – temos a dita ‘6.ª feira negra’ (black friday) com que somos ‘presenteados’ nesta crescente sociedade consumista na última sexta-feira do mês de novembro: uma ‘invenção’ americana do capitalismo, mas onde os mais resistentes não-capitalistas se regalam a encherem com coisas e mais coisas…muitas delas sem grande proveito ou mesmo necessidade.

O ministro do ambiente português, por seu turno, lançou um repto aos cidadãos para que não entrassem na onda, dizendo que o dia de descontos nas lojas (na ‘6.ª feira negra’) é um contrassenso, classificando a iniciativa como o ‘expoente máximo e negativo de uma sociedade capitalista’ e rotulando os ‘consumidores de utilizadores’…

Atendendo a que a ‘6.ª feira negra’ está próxima ao tempo de Natal podemos ver nela a abertura ao frenesim das compras natalícias…num ritual quase amorfo, insípido e bastante colorido.

De facto, vivemos num tempo onde as pessoas se vão preenchendo com coisas de índole material, tentando estar ao ritmo de alguma atualização nas modas, investindo somas de dinheiro imensas e dando a impressão que um novo deus tem de ser servido a todo o custo e sem limitações.

 

* Em breve teremos o ‘dia internacional contra a corrupção’, a 9 de dezembro, isto é, na véspera do ‘dia mundial dos direitos humanos’, recordando esta data na qual, em 1948, foi feita a declaração universal dos direitos humanos…

Sobre o ‘dia contra a corrupção’, a Comissão nacional justiça e paz recorda que ‘três triliões de dólares são perdidos anualmente em esquemas de corrupção’. Na sua mensagem para este próximo ‘dia contra a corrupção’, a CNJP relembra o que o Papa Francisco, na sua recente visita apostólica a África, ‘apelou aos governantes para lutarem com determinação contra formas endémicas de corrupção e especulação que aumentam a disparidade social e empobrecem as nações’. Por último é sugerido pela CNPJ que haja uma ‘recusa de colaboração na corrupção, de denúncia do fenómeno e sobretudo de difusão de uma cultura de honestidade e de serviço ao bem comum’.

Tem de chegar a hora de passarmos das palavras aos atos, isto é, de querermos considerar a existência deste cancro social, que é a corrupção, mas depois pactuamos com pequenos gestos de não submetermos ao controlo do fisco as transações mais pequenas ou maiores. Parece que, mais uma vez, somos bons em denunciar, mas calamo-nos quando podíamos fazer mais e melhor…

 

* O terceiro termo enquadra-se aqui: o civismo é e será essa forma de estarmos em sociedade, assumindo as consequências de sermos cidadãos sempre e não só quando nos convém.

Temos visto várias campanhas a apelar ao civismo, desde a separação do lixo, passando pelo cuidado para com os espaços públicos, mas nada frutificará se não for consistentemente assimilado a partir da mais tenra educação. Ora, isso tem de envolver múltiplas entidades, sem nunca esquecer que a família é quem, prioritariamente, educa. Conferir esta tarefa só à escola é deitar a perder a mais básica consciencialização do que é a família e das suas inolvidáveis tarefas humanas, cívicas e culturais.

Atendendo à origem etimológica de ‘civismo, cidade, civilização’ podemos encontrar o contraste com esse outro termo ‘pagus’ (campo). Assim os pagãos (rudes, não civilizados) eram os que viviam no campo, sem civilização, pois esta era adquirida na cidade, onde viviam os cidadãos. Ora, quando vemos hoje tantos rudes na cidade como que temos de questionar, para além da ruralidade subjacente aos comportamentos, os conteúdos de civilização adquiridos…nos guetos citadinos.

 

= Não será o consumismo uma forma de incivilidade, ao sabor do materialismo de vida? A corrupção não esconde a falta de civismo e de respeito pelos outros? Talvez o cristianismo possa ajudar a civilizar-nos…

   

António Sílvio Couto

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