Estas quatro
palavras iniciadas com a letra ‘c’ podem ajudar-nos a dimensionar, de força
diferente, a nossa caminhada de Advento…rumo ao Natal de Jesus, isto é,
verdadeiramente cristão na vida do dia-a-dia.
* Sobre
o consumo – melhor seria dizer consumismo – temos a dita ‘6.ª feira
negra’ (black friday) com que somos ‘presenteados’ nesta crescente sociedade
consumista na última sexta-feira do mês de novembro: uma ‘invenção’ americana
do capitalismo, mas onde os mais resistentes não-capitalistas se regalam a
encherem com coisas e mais coisas…muitas delas sem grande proveito ou mesmo
necessidade.
O
ministro do ambiente português, por seu turno, lançou um repto aos cidadãos
para que não entrassem na onda, dizendo que o dia de descontos nas lojas (na
‘6.ª feira negra’) é um contrassenso, classificando a iniciativa como o
‘expoente máximo e negativo de uma sociedade capitalista’ e rotulando os
‘consumidores de utilizadores’…
Atendendo
a que a ‘6.ª feira negra’ está próxima ao tempo de Natal podemos ver nela a
abertura ao frenesim das compras natalícias…num ritual quase amorfo, insípido e
bastante colorido.
De
facto, vivemos num tempo onde as pessoas se vão preenchendo com coisas de
índole material, tentando estar ao ritmo de alguma atualização nas modas,
investindo somas de dinheiro imensas e dando a impressão que um novo deus tem
de ser servido a todo o custo e sem limitações.
* Em
breve teremos o ‘dia internacional contra a corrupção’, a 9 de dezembro,
isto é, na véspera do ‘dia mundial dos direitos humanos’, recordando esta data
na qual, em 1948, foi feita a declaração universal dos direitos humanos…
Sobre o
‘dia contra a corrupção’, a Comissão nacional justiça e paz recorda que ‘três
triliões de dólares são perdidos anualmente em esquemas de corrupção’. Na sua
mensagem para este próximo ‘dia contra a corrupção’, a CNJP relembra o que o
Papa Francisco, na sua recente visita apostólica a África, ‘apelou aos
governantes para lutarem com determinação contra formas endémicas de corrupção
e especulação que aumentam a disparidade social e empobrecem as nações’. Por
último é sugerido pela CNPJ que haja uma ‘recusa de colaboração na corrupção,
de denúncia do fenómeno e sobretudo de difusão de uma cultura de honestidade e
de serviço ao bem comum’.
Tem de
chegar a hora de passarmos das palavras aos atos, isto é, de querermos
considerar a existência deste cancro social, que é a corrupção, mas depois
pactuamos com pequenos gestos de não submetermos ao controlo do fisco as
transações mais pequenas ou maiores. Parece que, mais uma vez, somos bons em
denunciar, mas calamo-nos quando podíamos fazer mais e melhor…
* O
terceiro termo enquadra-se aqui: o civismo é e será essa forma de
estarmos em sociedade, assumindo as consequências de sermos cidadãos sempre e
não só quando nos convém.
Temos
visto várias campanhas a apelar ao civismo, desde a separação do lixo, passando
pelo cuidado para com os espaços públicos, mas nada frutificará se não for
consistentemente assimilado a partir da mais tenra educação. Ora, isso tem de
envolver múltiplas entidades, sem nunca esquecer que a família é quem,
prioritariamente, educa. Conferir esta tarefa só à escola é deitar a perder a
mais básica consciencialização do que é a família e das suas inolvidáveis
tarefas humanas, cívicas e culturais.
Atendendo
à origem etimológica de ‘civismo, cidade, civilização’ podemos encontrar o
contraste com esse outro termo ‘pagus’ (campo). Assim os pagãos (rudes, não
civilizados) eram os que viviam no campo, sem civilização, pois esta era
adquirida na cidade, onde viviam os cidadãos. Ora, quando vemos hoje tantos
rudes na cidade como que temos de questionar, para além da ruralidade
subjacente aos comportamentos, os conteúdos de civilização adquiridos…nos
guetos citadinos.
= Não
será o consumismo uma forma de incivilidade, ao sabor do materialismo de vida?
A corrupção não esconde a falta de civismo e de respeito pelos outros? Talvez o
cristianismo possa ajudar a civilizar-nos…
António Sílvio Couto
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