‘Agora que sabia as respostas, mudaram as
perguntas’. Esta frase parece ser atribuída a uma das principais figuras de uma
série de banda desenhada com largos anos de existência e de razoável sucesso
entre as crianças e onde essa tal figura contesta a ‘repentina’ mudança, que
lhe baralhou as ideias e, sobretudo, as respostas.
Ora, esta visão continua a manter-se atualizada,
pois muita gente arquitetou respostas para perguntas do passado e esqueceu-se
de que novas questões são colocadas e as ditas respostas já não colhem nem têm
aceitação… Pior ainda é quando queremos responder a questionamentos que não nos
foram feitos, manipulando as respostas…e talvez invetivando os perguntadores,
que, manifestamente, mudaram.
= Há tantas associações/coletividades, que foram
pioneiras na hora do dealbar, mas que se encontram quase decrépitas na
atualidade. Muitas vezes fixaram-se em causas que rapidamente mudaram e os
objetivos se foram tornando subjetivos à mistura mais com os adjetivos do que
com os substantivos. Noutras situações foram os intérpretes que não conseguiram
aferir-se à mudança, anquilosando-se nas suas certezas e deixando de
corresponder às necessidades para que foram criadas. Quantas vezes foi possível
constatar a mesquinhez de certos dirigentes mais interessados em promoverem-se
através dessas instituições do que em continuarem o espírito original…
= Vamos encontrando, entretanto, outras instituições
que, devido ao seu peso e longa história, vão sobrevivendo à luz de uma certa
memória preservada e atualizada através de gestos, palavras e sinais. Por vezes
há setores – dentro e fora – que colocam a Igreja católica entre a lista de
instituições que apresentam respostas a questões não ditas ou que querem
continuar a responder com uma linguagem que nem todos compreendem. Talvez isto
não aconteça em toda a extensão da Igreja católica, mas haverá locais e regiões
onde isso pode ocorrer, embora seja notório o esforço por adequar as respostas
às perguntas e por não usar de subterfúgios para não se pronunciar.
= Vivemos num tempo que tem as suas especificidades,
onde a velocidade requerida para a resposta não se compadece com a elaboração
das perguntas, pois muitas destas andam mais ao sabor das emoções do que da
componente intelectual. A argumentação não parece ser mais dedutiva, mas quase
emerge da vivência indutiva, colocando pressão em apresentar soluções, quando
estas precisariam de ser mais elaboradas, se quiserem ser consistentes e até
mesmo satisfatórias.
Por outro lado, a quase emergência do
‘sempre-contatável’ faz com que se viva nessa permanente franja da
superficialidade, pois os acontecimentos sobrepõem-se uns aos outros,
destronando o que antes parecia ser importante para ser suplantado por outro
mais recente, podendo nem ser o mais essencial. Quantas vezes vemos a
sofreguidão de perguntas a alguém que tem de saber dosear a sustentabilidade
das respostas, de modo a que não se contradiga mesmo sem disso se dar conta.
Se a isto acrescentarmos a inexorável ditadura da
imagem, então poderemos estar a cozinhar um cocktail de emoções, onde as
respostas parecem mais perguntas e estas pequenas teias – nalguns casos poderão
ser peias – de uma comunicação líquida e assaz incongruente.
= A noção de tudo está certo e correto, desde quem
pergunta até quem responde, sabendo o que perguntar e aquilo que se deve
responder, está continuamente em causa neste tempo de comunicação rápida,
estereotipada e, nalguns casos, manifestamente inconsequente. Saber quais são
as perguntas que nos são feitas e dar-lhes as respostas mais adequadas é uma
tarefa de contínua aprendizagem e humilde colaboração. Precisamos de pessoas
bem formadas na arte de estar com os outros para que não caiámos num certo
desânimo que só nos trará mais constrangimentos e dificuldades em saber
discernir os mistérios de Deus na história (atual) dos humanos. De nada adianta
entrarmos numa fase de malquerença, pois, se não soubermos interpretar o tempo
que vivemos, não seremos dignos das oportunidades que nos são concedidas!
António Sílvio Couto
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