Mais
uma edição da ‘web summit’ – a 4.ª em Portugal – tornou-se uma espécie de
encantamento por algo que só os pequenos – ou serão mais os pequeninos de mente
e de cultura? – conseguem ver-se com tanto fascínio. Os números desta cimeira
como que seduzem os portugueses – ou será antes uma certa comunicação social
ávida de notícias e de palco – desde as presenças (sobretudo estrangeiras) até
às quantias avultadas em gastos, passando pelas ‘novidades’ desse mundo
tecnológico mais ou menos exotérico, encriptado e fascinante para uns
tantos/as…
Logo
desde o início desta edição ficamos com a sensação de que nem tudo é objetivo e
tão pouco independente, pois o primeiro ‘orador’ veio das estepes dos Urais,
lançando farpas contra algum ocidente e particularmente esses que ele
atraiçoou… De facto e mais uma vez a rebeldia parecer compensar, tendo à
mistura quem o faça de modo a contentar outros interesses nem sempre
subterrâneos.
À
semelhança de outros acontecimentos centrados em Lisboa, também a ‘web summit’
dá projeção aos tentáculos da capital, tornando o governo central e os autarcas
locais os que se acham donos e senhores das façanhas, embora seja todo o país a
pagar os investimentos para que o evento tenha lugar num espaço privilegiado,
com condições excecionais e sob regalias capitalistas…eles mentores de um certo
socialismo nem sempre capaz de perceber o que é só deles e aquilo que é de
todos.
À boa
maneira de outros eventos, os seus organizadores tecem loas a quem recebe, mas
com dificuldade explicam o que ganham e quais são as vertentes envolvidas e
nesciamente explicitadas.
= O
encantamento de subdesenvolvidos manifesta-se em muitos outros aspetos, nem
sempre detetáveis a olho nu, pois muitos dos programas que Lisboa ganhou nos
tempos mais recentes – incluído as JMJ2022 – mais parecem fogo de vistas do que
projetos com alguma finalidade. Ora, quem vive na dita ‘área metropolitana de
Lisboa’ pode perceber um tanto mais proximamente como a macrocefalia alfacinha se
sobrepõe a tudo e a todos. Os confrontantes com a capital – aquém ou além Tejo
– vão servindo de suporte para os episódios de festança, mas pouco mais fazem
do que aplaudir o que eles preparam e impingem, o que eles programam e
executam, o que eles toleram que outros estejam, mas com dificuldade deixam que
sejam mínimos intérpretes… E nas coisas da Igreja católica não se nota a mais
singela diferença!
= Se as
autoestradas foram o símbolo do cavaquismo, os subsídios a pataco do
guterrismo, as obras faraónicas não-executadas do socratismo, a austeridade
troiquista do passismo, a melancolia tecnológica – onde a web summit’ é como
que o expoente máximo – sê-lo-á do costismo… Isto é, muitas iniciativas de
ricos, mas com bolsa de pobres; diversos capítulos de sucesso, mas com enganos
a detetar e, sobretudo, fazendo-nos crer que somos um país desenvolvido, mas
que não passa de ocupar o fundo da tabela da União Europeia em matéria de
trabalho, de qualidade económica e de produção de riqueza… Afinal, muita parra
e pouca uva, tendo ainda em conta que a produzida é de deficiente qualidade!
= Na
mesma pantalha onde se exibem oradores e participantes da ‘web summit’ aparecem
reportagens de escolas em reivindicação por falta de auxiliares e com condições
menos aceitáveis, hospitais que não conseguem ter as urgências abertas por
deficiência de médicos e até o presidente da República, nas ruas da capital, a
reclamar mais atenção para os milhares de sem-abrigo…
É isto
um país de sucesso? Será isto uma sociedade de conquistas tecnológicas? Onde
andam os que se dizem porta-vozes dos desfavorecidos? Hibernaram antes do tempo
ou estão a contar as armas de combate sindicalista? Será que dura sempre a
capacidade de ludibriar?
Parece
que o discurso, por estes dias, está entaramelado à semelhança da gaguez de
certos intervenientes, mesmo que se apelidem de livres, de esquerda e talvez democratas…
António Sílvio Couto
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