Numa
‘pedagogia’ algo questionável dizia um confessor sobre uma penitente um tanto
irascível, quando incomodada ou melindrada: pisem-lhe a saia (mais comprida do
que as de hoje) para verem como ela vai reagir! Claro que seria uma provocação
(ou mesmo falta de educação) fazer isso a alguém que não se conheça, mas poderá
ser um bom teste à qualidade/maturidade humana para connosco mesmos e
àqueles/as que nos rodeiam e que até julgamos conhecer.
Como
referia alguém, utente dos transportes públicos, se acontecer ser pisado por um
outro pode dar-se uma de duas atitudes: se quem pisa pede desculpa, tudo segue,
mesmo que a pisadela tenha magoado; coisa bem diferente será se alguém pisa
outrem e não pede desculpa, pois pode ocorrer um conflito com consequências
desagradáveis e talvez agressões…
Nesta
aparente complexidade em ler os efeitos dos assuntos dos outros sobre nós –
sobretudo se estamos em pistas diferentes de entendimento e de interpretação –
temos sempre a aprender com aquilo que faz reagir os outros e muito mais
daquilo que somos capazes de entender sobre as suas atividades…
= Se
isto é perigoso ao nível pessoal, torna-se incendiário no âmbito das
corporações – tanto socioculturais como até políticas e ideológicas – se lhes
quiserem questionar comportamentos atuais ou antigos. Veja-se o estardalhaço
que fizeram no parlamento as forças marxistas-leninistas-trotskistas ao
invetivarem uma resolução do parlamento europeu, de setembro passado, que
condenou o nazismo e o comunismo naquilo que foram regimes políticos que
cometeram ‘genocídios e deportações e foram a causa de perda de vidas humanas e
liberdade numa escala até agora nunca vista na história da humanidade’… O
nazismo durou pouco mais seis anos, o comunismo/estalinismo de 1920 a 1953…com
as sequelas reinantes, no bloco de leste e afins espalhados pelo mundo até
1989…e ainda no poder na China, na Coreia do norte, na Venezuela, em Cuba, etc.
Sabendo que alguns dos ocupantes do atual parlamento luso ainda perfilham as
teses do marxismo/socialismo/comunismo foi bom de ver os impropérios ditos e
insinuados, as declarações efervescentes e acaloradas, particularmente por quem
está fixado no valor da sua saia e não atende nem entende os remendos que nela
têm colocado… E nem o facto de ter caído o ‘muro de Berlim’, há trinta anos,
faz certas pessoas reconhecerem o mal que os seus apaniguados fizeram à
humanidade. A memória não esquece e a História não se reescreve conforme possa
convir aos seus detratores…
= Há,
no entanto, outras agremiações e instituições – sobretudo de âmbito
transnacional – como, por exemplo a Igreja católica (na sua extensão de espaço
e no tempo pela internacionalidade), que têm vindo a reconhecer pública e
notoriamente os seus erros e transgressões, pedindo perdão à humanidade pelas
nefastas consequências dos seus atos e más opções. Sobretudo a partir do Papa
João Paulo II, a Igreja católica tem vindo a pedir perdão por diversos e quase
controversos assuntos da sua longa história, tais como a inquisição (sobretudo
pelos abusos cometidos pelos tribunais), pelas cruzadas (razões e efeitos), por
variadas omissões da Igreja e dos seus membros, sem esquecer o tema da
escravatura e de tantos outros silêncios em diversas partes do mundo na
conivência com regimes, poderes e autoridades…Desde Bento XVI, prosseguindo com
Francisco temos escutado repetidos pedidos de perdão sobre assuntos
relacionados com abusos sexuais e negligências de estruturas da Igreja, sem
esquecer manipulações de consciência assumidas ou não-justiçadas… Em tudo isto
é considerado o tema do perdão divino, sem nunca esquecer os malefícios do
pecado humano. Com efeito, a saia tem muitos remendos e a batina (dos clérigos)
apresenta bastantes nódoas…nesta complexidade de uma instituição com mais de
dois mil anos entre luzes e sombras mais ou menos assumidas…diante dos humanos
e, certamente, perdoadas por Deus.
= Pisem
as franjas da saia de muita da comunicação social e saberão as reações que os
(ditos) comunicadores – jornalistas e/ou jornaleiros – usarão para vingarem os
seus objetivos, nem sempre claros e não-subjetivos. Efetivamente é notório que
o pretenso ‘4.º poder’ sabe usar por demais dos seus meios para que sejam
criadas as condições para imporem quem lhes interessa… mesmo que, em tantos
casos, de forma fatal.
António Sílvio Couto
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