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segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Pisem-lhe a saia!


Numa ‘pedagogia’ algo questionável dizia um confessor sobre uma penitente um tanto irascível, quando incomodada ou melindrada: pisem-lhe a saia (mais comprida do que as de hoje) para verem como ela vai reagir! Claro que seria uma provocação (ou mesmo falta de educação) fazer isso a alguém que não se conheça, mas poderá ser um bom teste à qualidade/maturidade humana para connosco mesmos e àqueles/as que nos rodeiam e que até julgamos conhecer.

Como referia alguém, utente dos transportes públicos, se acontecer ser pisado por um outro pode dar-se uma de duas atitudes: se quem pisa pede desculpa, tudo segue, mesmo que a pisadela tenha magoado; coisa bem diferente será se alguém pisa outrem e não pede desculpa, pois pode ocorrer um conflito com consequências desagradáveis e talvez agressões…

Nesta aparente complexidade em ler os efeitos dos assuntos dos outros sobre nós – sobretudo se estamos em pistas diferentes de entendimento e de interpretação – temos sempre a aprender com aquilo que faz reagir os outros e muito mais daquilo que somos capazes de entender sobre as suas atividades…  

= Se isto é perigoso ao nível pessoal, torna-se incendiário no âmbito das corporações – tanto socioculturais como até políticas e ideológicas – se lhes quiserem questionar comportamentos atuais ou antigos. Veja-se o estardalhaço que fizeram no parlamento as forças marxistas-leninistas-trotskistas ao invetivarem uma resolução do parlamento europeu, de setembro passado, que condenou o nazismo e o comunismo naquilo que foram regimes políticos que cometeram ‘genocídios e deportações e foram a causa de perda de vidas humanas e liberdade numa escala até agora nunca vista na história da humanidade’… O nazismo durou pouco mais seis anos, o comunismo/estalinismo de 1920 a 1953…com as sequelas reinantes, no bloco de leste e afins espalhados pelo mundo até 1989…e ainda no poder na China, na Coreia do norte, na Venezuela, em Cuba, etc. Sabendo que alguns dos ocupantes do atual parlamento luso ainda perfilham as teses do marxismo/socialismo/comunismo foi bom de ver os impropérios ditos e insinuados, as declarações efervescentes e acaloradas, particularmente por quem está fixado no valor da sua saia e não atende nem entende os remendos que nela têm colocado… E nem o facto de ter caído o ‘muro de Berlim’, há trinta anos, faz certas pessoas reconhecerem o mal que os seus apaniguados fizeram à humanidade. A memória não esquece e a História não se reescreve conforme possa convir aos seus detratores…  

= Há, no entanto, outras agremiações e instituições – sobretudo de âmbito transnacional – como, por exemplo a Igreja católica (na sua extensão de espaço e no tempo pela internacionalidade), que têm vindo a reconhecer pública e notoriamente os seus erros e transgressões, pedindo perdão à humanidade pelas nefastas consequências dos seus atos e más opções. Sobretudo a partir do Papa João Paulo II, a Igreja católica tem vindo a pedir perdão por diversos e quase controversos assuntos da sua longa história, tais como a inquisição (sobretudo pelos abusos cometidos pelos tribunais), pelas cruzadas (razões e efeitos), por variadas omissões da Igreja e dos seus membros, sem esquecer o tema da escravatura e de tantos outros silêncios em diversas partes do mundo na conivência com regimes, poderes e autoridades…Desde Bento XVI, prosseguindo com Francisco temos escutado repetidos pedidos de perdão sobre assuntos relacionados com abusos sexuais e negligências de estruturas da Igreja, sem esquecer manipulações de consciência assumidas ou não-justiçadas… Em tudo isto é considerado o tema do perdão divino, sem nunca esquecer os malefícios do pecado humano. Com efeito, a saia tem muitos remendos e a batina (dos clérigos) apresenta bastantes nódoas…nesta complexidade de uma instituição com mais de dois mil anos entre luzes e sombras mais ou menos assumidas…diante dos humanos e, certamente, perdoadas por Deus. 

= Pisem as franjas da saia de muita da comunicação social e saberão as reações que os (ditos) comunicadores – jornalistas e/ou jornaleiros – usarão para vingarem os seus objetivos, nem sempre claros e não-subjetivos. Efetivamente é notório que o pretenso ‘4.º poder’ sabe usar por demais dos seus meios para que sejam criadas as condições para imporem quem lhes interessa… mesmo que, em tantos casos, de forma fatal.  

 

António Sílvio Couto

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