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segunda-feira, 30 de julho de 2018

Tiques aburguesados…de revolucionários, ontem como hoje!


É um ponto de denominação mais ou menos comum, vermos alguns dos mais significativos revolucionários – seja qual for a área, a época ou mesmo qual tenha sido a capacidade de deixarem consequências – serem filhos da burguesia e/ou da (dita) ‘classe média’ e que, tendo passado algum tempo das suas façanhas/ousadias, ainda deixaram a transparecer tiques dessa outra proposta/vida, por entre as tentativas de se revelarem fora da consonância, que contestam…tácita ou declaradamente.

Vejamos alguns testemunhos do passado… para tentarmos entender as posições desses outros do presente:

- Francisco de Assis (1182-1226) era filho dum burguês e ele mesmo servidor da categoria burguesa até à descoberta, mudança e consolidação do ‘seu’ projeto de vida…em pobreza radical: confrontou-se com a aparência para se demonstrar na verdade!

- De onde era procedente Inácio de Loiola (1491-1556) para entender a ‘vulgaridade’ de vida em que andava? Duma expressão social ‘superiorizada’ que o fez desmontar aquilo que dele pretendiam e, duma perna partida, fez a descoberta que o tornou um servidor de Deus e da Igreja, cativando tantos outros para a sua companhia…ao longo dos séculos!  

- Karl Marx (1818-1883), de ascendência judia, era resultado duma mistura entre a classe média do pai e da aristocracia da mãe, tentando propor visões, leituras e políticas onde os mais desfavorecidos poderiam ascender a um patamar superior, tal como apresentaria pela luta de classes…Deambulou pelas franjas burguesas para concretizar as suas ideias revolucionárias…Muitos deles apreenderam na espuma aquilo que o fez mergulhar na filosofia dialética… Deixou vulgares sequazes e uns tantos idílicos continuadores nem sempre tão perspicazes, mas antes mais oportunistas no revisionismo da filosofia da história! 

- Lenine (1870-1924) também era procedente duma classe média alta, judeu mesmo pela parte materna, adquiriu formação universitária em direito. De personalidade prática conjeturou contra as autoridades, criando ele mesmo uma nova idealização política: marxismo-leninismo, que tantas vítimas ceifou dentro e fora da Rússia…no seu tempo e pelos decénios seguintes. Embora haja quem o contradiga, Lenine aceitou a culto da personalidade, até como forma de unir o (dito) movimento comunista. Difundiu a ditadura do proletariado (isto é, da prole), embora não tenha tido filhos…

- Outros ‘românticos’ ou não tanto – porque sanguinários e democratas ditadores – seguiram as pisadas desta figura marcante do século XX: Mao Tsé-Tung (1893-1976), Fidel Castro (1926-2016), Ernesto ‘Che’ Guevarra (1928-1967) … à mistura com ‘heróis e santos’, dentro e fora do contexto católico, que procuraram concretizar na vida as fés que os motivavam…tais como Martin Luther King (1929-1968), Madre Teresa de Calcutá (1910-1997), Edith Stein/Santa Teresa Benedita da Cruz (1891-1942), João Paulo II (1920-2005)…  

= É diante deste largo espetro de figuras – cada um a seu modo e dentro da luz que tiveram – sabendo passar do seu ‘lugar de conforto’, por vezes, apelidado de aburguesamento, para o espaço de incómodo pessoal e de luta por ideais, que hoje sentimos uma enorme falência de projetos humanos, espirituais e mesmo na dimensão cristã…também ela a viver esta crise de valores, de critérios e de desafios que tenham por horizonte algo mais do que a reduzida dimensão do próprio perímetro.  

- Quem não se reveja nas incongruências dos políticos que dizem e não fazem o mínimo daquilo que propõem…sem nexo de causa a efeito,

- Quem continue a considerar como exequível o ideal de vida do Evangelho e se aconchegue à acomodação do pensar pelo agir,

- Quem ainda acredite que algo de diferente pode ser construído porque se crê na bondade das pessoas mais do que na sua maledicência ou na desconfiança,

- Quem não quer desistir só porque uns tantos preferem a simulação ao compromisso…simples e sincero.

Então, dizemos que vale a pena ainda ter esperança, mesmo que possa haver falhas, erros e pecados, pois a mudança não depende dos outros, mas de cada um de nós, por mais fácil que pareça, embora não se tenha ainda descoberto…Que nunca nos conformemos por facilidade, mas sempre e só por dinâmica de aceitação da vontade de Deus, hoje e sempre!

           

António Sílvio Couto

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