Segundo
dados duma entidade de observação de comportamentos, em média, os portugueses
tencionam gastar 667 euros em férias, compreendo os meses de julhos a
setembro…deste ano
Comparativamente
aos anos anteriores nota-se um abaixamento significativo. Eis os dados
disponíveis dos gastos projetados dos portugueses em férias do verão: 2017 –
950 euros; 2016 – 884 euros; 2015 – 706 euros; 2014 – 767 euros…
Desde
logo poderemos e devermos questionar qual o significado mais profundo desta quebra
de valores gastos com férias. Será um reflexo de que nem tudo vai tão bem como
nos dizem os governantes? Será uma maior consciencialização de que é precisa
moderação nos gastos, pois há outras prioridades? Já aprendemos a moderar-nos
nos gastos ou ainda estamos a criar hábitos de sensatez e bom senso?
= Diante
destes dados simples e talvez nem tão significativos de imediato, teremos de
aprende a conviver com a bolha do turismo com que nos têm vindo a seduzir. O ‘boom’
de procura do nosso país poderá tornar-se um bluff se outras condicionantes
forem introduzidas no sistema vigente de economia. Os vários tentáculos com que
o fenómeno do turismo tem sido servido poderão revelar-se insuficientes para
suportar os enganos com que certos dirigentes – políticos, económicos, sociais
e culturais – se vão exibindo por agora. Com efeito, uma sociedade suportada
por uma economia da diversão não irá longe e com facilidade entrará em crise se
alguns fatores – segurança, confiança, hospitalidade, educação cívica – forem
introduzidos com maior ou menor vulnerabilidade. Torna-se perigoso ‘colocar
todos ovos no mesmo cesto’ – diz-se em certas circunstâncias. Ora, isto mesmo
poderemos dizer sobre esta questão do turismo, pois a opção de quase tudo
canalizar – investimentos, obras, iniciativas económicas e culturais – para o
turismo é cada vez mais perigoso, desde o âmbito humano até às razões
ambientais. Dá a impressão que se quis fazer do turismo um espaço fácil e
rápido de ganhar dinheiro, mesmo que à custa dalguma descaraterização do nosso
ser identitário mais profundo…
= À
mentalidade do período de férias – quase obrigatório e sagrado – temos vindo a
assistir também a uma espécie de endeusamento desse tempo que devia ser de
descanso, como se isso fosse algo que ‘dá estatuto’ à pessoa pelo local onde –
ou donde se mostra…na vivência faceboquiana – alguém vai de férias. Locais de
grande procura têm vindo a tornar-se alvo de excessivo movimento, onde de
descanso pouco ou nada fica. Com certa frequência se quer dar ‘boa’ impressão
na vizinhança, segundo o (pretenso) lugar de férias…até pela thirt exibida querendo
dizer por onde se andou…real ou virtualmente. Quantas vezes imagens, posts e
outras informações, através do facebook, fazem das férias um estendal de falta
de senso, levando as pessoas a cometerem erros que podem ser fatais para a
segurança das próprias casas nesse período de tempo. Quantas vezes seria bem
mais benéfico que se cultivasse a discrição e não tanto a ostentação,
garantindo às pessoas que sejam vistas mais pelo que são do que por aquilo que
pretendem dar impressão que têm ou querem mostrar.
= Mesmo
que forma simplista os números aduzidos aos gastos em férias projetados para
este ano, significam mais do que o ‘ordenado mínimo nacional’ estipulado por
lei. Estes dados nivelam todos os que pretensamente façam ou não férias, mas,
quantos outros, gastarão muito para além daqueles números, tendo ainda em conta
quem não chega àquela bitola. Assim o quadro de qualidade da nossa sociedade
tem ainda de evoluir mais para a justiça, onde cada qual possa usufruir dos
seus direitos, mas sem ofender iguais condições de outros concidadãos.
Efetivamente é neste ponto que temos muito a caminhar mais pela igualdade que
não tenha as mãos voltadas para dentro, mas que esteja capaz de viver em
solidariedade com respeito e sensatez… Esta como qualidade humana,
infelizmente, nem sempre é tida na devida conta, parecendo, em muitos casos,
que tem estado em saldos…ao longo de todo o ano.
A quem
possa ter (ou estar) férias, boas férias. A quem as ainda não teve (ou não
terá), que o trabalho não subjugue a liberdade pessoal e familiar.
António Sílvio Couto
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