Quando
acontece algo de mais dramático na ‘nossa’ vida coletiva, vemos que a
comunicação social – poucos ficam de fora para não perderem audiências – se
aproveita do assunto quase até à exaustão, umas vezes de forma séria e sensata,
mas, na maior parte dos casos, espremendo o assunto de forma nem sempre humana
ou mesmo respeitadora para com quem está a viver – emocional e afetivamente – o
assunto.
Os
‘dramas’ tanto podem ser os acidentes rodoviários, aéreos ou de qualquer outro
meio, como os episódios de desentendimento entre pessoas, agremiações,
coletividades ou entidades mais ou menos públicas, como ainda suposições,
boatos, erros ou até acusações sobre figuras, personagens ou personalidades…
Quase tudo serve (ou vai servindo) para criar notícia ou fazer dela algo de
espetacular que possa prender os leitores, ouvintes, telespetadores ou
navegadores da internet…
Apesar
da envolvência de algumas vidas, o ‘drama’ das crianças na Tailândia ganhou
foros de internacionalização, quase rivalizando com o mundial de futebol na
Rússia, sobretudo depois que a seleção nacional regressou a casa. As horas e
dias gastos a escarafunchar os interesses dum clube de futebol – esquecendo
acintosamente as outras modalidades – tornou-se algo de doentio e a roçar o
escabroso, sobretudo para quem possa ter um pingo de vergonha, de bom senso e de
honestidade mental e racional.
Agora os
‘dramas’ têm de ser noticiados, preferencialmente, em direto, com direito a
imagens sensacionais, sem resguardo da intimidade das pessoas e nem as cortinas
colocadas pelas autoridades salvaguardam quem possa estar envolvido – direta ou
indiretamente – no assunto. Os folhetins de telenovela passaram a estar sem
guião e os ‘atores’ são os que intervém na notícia em que o quanto mais grave
for mais atenção chama e merece tempo de antena…
Recordo
com alguma ironia a forma como, um dia, um patriarca de Lisboa respondeu a uma
jornalista, que lhe fez uma pergunta, que ele considerou inadequada: ó menina,
isso é pergunta que se faça! Ou ainda a estupefação com que vi e ouvi um desse
novatos na matéria, mas que queria uma reação a quente sobre um assunto, ao
perguntar: como é que se sente?... O inquirido calou-se e fez bem, pois a
resposta a dar, depois dum acidente grave, não se verbaliza com facilidade e
tão pouco com questões inoportunas…
Não
deixa, entretanto, de ser preocupante o que um dirigente dum partido político
respondeu, por estes dias, a quem o questionava em reação a um título duma
entrevista sobre o tema da justiça. Disse o tal responsável partidário:
qualquer dia ninguém aceita dar entrevistas, pois distorcem o que se diz e
tiram-no fora do contexto em que é dito…
A avidez
para querer estar na frente dos concorrentes não pode atropelar quem torna
público o que pode interessar à informação dos leitores, ouvintes ou
telespetadores. A seriedade da notícia não pode ser vendida à pressa para cativar
quem lê, vê ou ouve… Dá a impressão que alguns dos intervenientes se deslumbram
com o aparecimento que lhes é permitido, podendo nem sempre estarem preparados
para lidar com a visibilidade e, portanto, com as consequências daquilo que
dizem, fazem ou como se apresentam. Alguns/algumas como que se deixam explorar
até que renda a exposição. Casos há em que se percebe que são esquartejados pelo
bisturi do sensacional sem disso se darem conta, permitindo que seja exposta a
sua vida privada e confundida a figura com as figurações…
Algo bem
distinto é esse outro campo em que algumas instituições se resguardam num certo
silêncio e em não ser dito nada ou muito pouco, que, depois, quando algo lhes
bate à porta ficam sem capacidade de reação e sem jeito para a comunicação…
Apesar de tudo (isto é, de alguma evolução) a Igreja católica – e as suas
formas de presença na condição de mundo – ainda não se apercebeu que precisa de
aprender esta comunicação, respeitando e fazendo respeitar, o seu tempo e a
oportunidade de quem faz a comunicação.
Há uma
coisa que em todo este tema é fundamental: viver na verdade, sem tentar
esconder ou esconder-se sob a capa de alguma ocultação, seja porque útil ou até
como estratégica. Diz o povo com sabedoria: quem não deve não teme…e mesmo que
tema não se pode refugiar na meia-verdade ou na subtileza da mentira.
Os
‘dramas’ não podem ser reduzidos a meras notícias e muito menos podem ser
fabricados como espetáculo, antes temos todos de respeitar as pessoas
envolvidas para nós próprios sermos respeitados naquilo que há de mais sagrado
na pessoa humana: o seu mistério, sem fazer disso mistérios!
António Sílvio Couto
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