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sexta-feira, 27 de julho de 2018

‘Bom padre’…à sua maneira!


Foi desta forma um tanto paradoxal que me veio à congeminação o modo de ‘definir’ um certo padre de quem ocorre uma data festiva de jubileu.

Num segundo momento perguntei-me: será isto um elogio ou uma crítica? Servirá esta frase para dizer bem da pessoa ou para considerar algo mais que só benevolência e compreensão? Esconderá esta frase algo que poderia ser dito de todos nós ou comporta algo do mistério do nosso ser sacerdotal? Não teremos todos nós algo que se parece com bom e não é, à mistura com algo que disfarça o que nem sempre somos capazes ser para além da impressão – boa, suficiente, medíocre ou má – que deixamos, inconscientemente, transparecer?

Noutra perspetiva deixei a mente deambular e dei comigo a fazer uma leitura bem mais séria da vida e do ministério… das alegrias e das tribulações… das marcas e das falhas… dos sonhos e das deceções… de tantos padres de ontem, de hoje e (sem risco de errar em excesso) de amanhã. 

= Não teremos todos – mais velhos ou mais novos, esses (ditos) de meia-idade ou outros principiantes, sem esquecer os acomodados, os desiludidos, os vencidos, os resignados e, sobretudo, os que cumpriram a sua missão em condições difíceis e complexas – um espaço em que vivemos à ‘nossa maneira’, criando cada qual o seu ‘status’ de realização ministerial em conformidade com a Igreja, amando-a e servindo-a como fomos capazes? Em tantas das situações de vida houve circunstâncias em que o padre só foi ‘bom’ porque soube entender-se a si mesmo e à sua configuração humana, social, religiosa e cultural. Quando isso não aconteceu houve desencontro entre o ser e o viver, sendo este mais árduo do que a adequação ao ambiente – geográfico, antropológico, socio/económico, político ou espiritual – circundante. Há tempos e momentos em que isso é duma atrocidade enorme: os momentos de mudança, de paróquia, de tarefa, de serviço ou mesmo de diocese. 

= Aquela frase inicial talvez possa, numa primeira abordagem, aparentemente, colidir com a mais correta e ortodoxa leitura teológico/eclesial da expressão: ‘sacerdos in persona Christi’, sacerdote na pessoa de Cristo. Com efeito, ser ‘sacerdote na pessoa de Cristo’ não é tornar-se uma reprodução de Cristo em pessoa, isso seria além de impossível algo de inatingível. Por outro lado, ser ‘sacerdote na pessoa de Cristo’ é deixar-se configurar – como a linguagem das tecnologias mais recentes permite entender esta palavra – à pessoa de Cristo, fazendo como Ele os atos de Deus entre os homens. Deste modo, ser ‘bom padre…à sua maneira’ tanto pode ser um desafio de toda uma vida como uma contínua prossecução de ser como Cristo o rosto de Deus entre os homens. Ora este rosto não se fotocopia nem é clonável, antes se personaliza em cada um que aceita deixar ser ministro desse Cristo, o ministro (servidor e sinal) por excelência do Pai…  

= Aproximando-se a celebração litúrgica de São João Maria Baptista Vianney, ‘o cura de Ars’, no dia 4 de agosto, patrono de todos os párocos do mundo, deixamos algumas das suas frases efervescentes sobre o ministério sacerdotal, tendo em conta o contexto do seu tempo, pós-revolução francesa, e o nosso tempo duma espécie de eclipse do ministério do padre à mistura com certos exageros de alguns dos eclesiásticos mais ou menos novos…senão na idade ao menos na maturidade:

- Se a Igreja não tivesse o sacramento da ordem, não teríamos entre nós Jesus Cristo.

- Quem coloca Jesus no sacrário? O padre. Quem acolheu nossa alma na entrada da vida? O padre. Quem alimenta nossa vida na peregrinação terrestre? O padre. Quem prepara nossa alma para comparecer diante de Deus? O padre. É o padre quem dá continuidade a obra da redenção na terra.

- O padre deve estar sempre pronto para responder às necessidades das almas.

- No lugar onde não há mais o padre não há mais o sacrifício da missa.

- Deixai uma paróquia sem padre por vinte anos e aí se adorarão os animais.

- Quando alguém quer destruir a religião, sempre se começa por atacar e destruir o padre. 

= Será que ser ‘bom padre…à sua maneira’ é um defeito ou um desafio? Como poderemos ter bons padres, se as famílias e as paróquias falharem como espaços de vida cristã sem medos nem falsas modéstias? 

     

António Sílvio Couto  

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