Quem ler
ou escutar este tríptico poderá como que ser levado a pensar nessa promoção
sócio/política do período anterior à revolução de abril/74.
Foi, em
1938 (há oitenta anos), que, surgiu este cartaz da ‘trilogia da educação nacional’,
promovida pelo Estado Novo, sob o regime de António Salazar. Deste modo se
pretendia exaltar a boa harmonia do novo regime vigente, em confronto com os
distúrbios da primeira república – 1910-1926 – de tão nefastas consequências
sociais, económicas e mesmo culturais.
Oito
décadas decorridas quantas mudanças na configuração europeia e mundial; quantas
diabruras surgiram no mundo da política; quantas tropelias foram idealizadas e
realizadas no âmbito nacional, internacional e transnacional; quantas mudanças
rápidas ou lentas, revolucionárias ou ideológicas, ético/morais e quase
metafísicas…
Se
quisemos atender a algum daqueles itens aduzidos, o que ainda vai escapando
mais ou menos é o da família, se bem que mesmo aqui ‘família’ tem múltiplos e
imprevisíveis resultados, quase dependendo de quem fala para ser encontrar um
projeto de família a gosto, a pedido ou à la carte.
= Aquele
tríptico – ‘Deus, pátria e família’ – estará tão desatualizado assim ou foram
outras infiltrações que o fizeram torna-se, na visão e no comportamento de
alguns, em algo de quase jurássico ‘cultural’ e como que um produto assaz antiquado?
Não andaremos, antes, ao ritmo, dum regresso de adolescência – da sociedade em
geral e de muitas pessoas em particular – a viver sob clichés manipuladores e
tendencialmente anarquistas?
Ao tempo
em que ofender era tentar rotular de ‘fascista’, de direita, conservador,
reacionário…agora diz-se, preferencialmente, ‘populista’, xenófobo, racista, homofóbico…numa
tentativa em colocar fora da discussão quem possa ser obstáculo aos objetivos
mais ou menos pretendidos, camuflados ou insinuados… Por vezes é tanto mais
grave quando uma posição tomada por alguém esquerdista é classificada de
progressista e ousada, enquanto a mesma atitude tida por alguém que não tenha
essa conotação ideológica pode ser considerada de conservadora, antiquada e,
sub-repticiamente, fundamentalista!
= Talvez
haja razões de mentalidade para termos chegado a esta sociedade onde ‘Deus’ se
tornou uma espécie de arquétipo mítico/ancestral…sem memória nem história. Deus
foi banido das questões da maioria das pessoas, que vivem como se Ele não
existisse nem tenha mínimo lugar nas suas conjeturas. A perspetiva
nietzscheriana: ‘Deus morreu, eu matei-o, mas não me sinto lá muito bem’…é cada
vez mais um recurso cultural que povoa muitas mentes e vidas dos nossos
contemporâneos. Ao vermos as atitudes e os comportamentos de tanta gente
fica-nos a nítida sensação dum largo, profundo e altíssimo fosso onde muitos
mergulham sem saída e sem nexo. Por isso, colocar Deus na esfera dos valores da
maioria dos nossos coetâneos é como que usar uma linguagem sem compreensão nem
suficiente valorização.
Por
outro lado, não fossem as conquistas dos nossos futebóis e quase ninguém
sentiria os eflúvios de nacionalismo – nalguns casos a roçar o bacoco bairrista
e a lamechice inconsequente – ao escutarmos, a propósito e a despropósito, o
hino nacional, numa tentativa de criar espírito de pátria e de comportamento de
nação. Aí vemos, nem que seja por momentos de alienação coletiva, emergirem
laivos dum povo que luta, esbraceja e, por vezes, conquista. Efetivamente os
três sinais máximos de representação do nosso país – hino, bandeira e
presidente – vão-se conjugando para remar para o mesmo lado da barricada, mesmo
que esta possa estar empestada de lacaios, oportunistas e cobardes, hoje como
ontem…
Não
podemos deixar de continuar a refletir sobre esse outro aspeto que resta do
tríptico citado: ‘família’. Mais do que um conceito sociológico em mutação, a célula
básica da sociedade, sobretudo na linha da tradição judaico-cristã, precisa de
ser analisada com olhos de futuro e não com nostalgia nem derrotismo. A família
é e será sempre esse espaço de nascimento, de aprendizagem e de consolidação de
cada pessoa, tendo em conta os valores, os critérios e os desafios permanentes
a que está submetida. Com efeito, Deus cuida, a pátria alimenta e a família
envia cada pessoa, em cada momento e numa contínua história de estórias…
António
Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário