Já
passou o tempo em que alguém conseguia um trabalho de forma tão direta – sem
intermediários nem artifícios e tão pouco influências diretas ou indiretas –
que bastaria a palavra do candidato e o acordo com o empregador para que o tão
desejado lugar lhe fosse dado rapidamente. Na concorrência aos mais disputados
lugares tem vindo a ser preciso submeter os pretendentes a alguma triagem, sob
a apresentação do curriculum (há milhentas sugestões na internet), a uma
possível entrevista mais personalizada e ainda esperar pela seleção definitiva…fazendo
este percurso em tantas quantas as tentativas para arranjar/conseguir emprego!
Confesso
a minha ignorância, que nunca tinha ouvido – até à apresentação de candidatura
pública do ministro das finanças ao cargo de chefe do euro-grupo – numa tal
‘carta de motivação’. Socorrido da consulta internetana sobre o assunto
encontrei os seguintes elementos:
* O que
é? Uma ‘carta de motivação’ é considerado um documento que é enviado em
conjunto com o curriculum, quando alguém se candidata a um emprego,
apresentando a motivação do requerente a quem vai analisar o pretendido…
* Regras
para escrever uma carta de motivação:
– quanto
à forma não deve ter mais do que quinhentas palavras (cerca duma folha A4), com
três curtos parágrafos, redigida em computador e não manualmente, sem erros
ortográficos;
– sobre
o conteúdo deve usar uma linguagem simples e direta, com os dados pessoais do
candidato colocados no topo da página do lado direito, dirigida a uma pessoa e
não ao geral da empresa, explicitando qual a vaga a que se candidata com os
motivos convincentes para esse lugar, colocando os seus motivos positivos para
corresponder ao anúncio de emprego…
*
Elementos recomendáveis a apresentar – terá de saber apresentar os seus pontos
positivos de candidato, seja a experiência profissional, se a tiver, ou
percurso académico, se é recém-formado. Dever-se-á valorizar o candidato
naquilo que o destaca do resto doutros possíveis candidatos, tais como o seu
perfil de voluntariado, de pai ou mãe bem realizado ou de caraterísticas mais
pessoais. Deverá saber o candidato dar razões para que possa ser uma mais-valia
para quem o contrate…
Ficamo-nos
por elencar alguns elementos da dita ‘carta de motivação’. Há erros a evitar.
Há modelos sugeridos. Há dicas para tentar convencer… e tudo o mais que se pode
encontrar em consulta na internet.
Por
breves momentos vamos tentar fixar-nos no objeto da ‘carta de motivação’, pois
dá a impressão que andamos muito distraídos destas coisas mínimas e nem sempre
nos centramos no essencial.
– Além
do valor da pessoa, apresentada no curriculum vitae, temos de saber quais as
suas motivações. Pretender revelar-se aos outros é uma tarefa de assaz
complexidade, dado que pode tentar fazer passar-se por alguém que ainda não
prestou provas daquilo que diz ser ou ter, sobretudo se estivermos diante duma
pessoa acabada de formar ou sem experiência de emprego, ou, pior ainda, se vem
saltitando de emprego em emprego sem conseguir estabilidade… Fazer crer que é o
mais competente para o cargo será tarefa nem sempre fácil de desempenhar, se
for demasiado novo ou o historial de empregos ultrapassar a competência de
trabalho… Quantos querem emprego e não trabalho!
–
Atendendo ao emaranhado de relações em que vivemos e nos confrontamos cada dia,
será sempre importante sabermos mais da personalidade de cada pessoa do que até
dos conhecimentos adquiridos – tendo em conta a escola/faculdade onde foi
formada mais do que o grau conseguido – na medida em que também os outros são
pessoas que devem ser respeitadas no seu percurso humano, cultural e social.
Não vale tudo para atingir os seus fins, pois os meios não são todos aceitáveis
nem toleráveis.
= Numa
nota final gostaria de deixar uma sugestão para aqueles que têm a
responsabilidade de colocar, no contexto da Igreja católica, os padres nos seus
lugares de serviço: seria muito útil que cada padre escrevesse a sua ‘carta de
motivação’, dando as razões do seu préstimo pastoral. Talvez isso facilitasse a
tarefa aos responsáveis e ajudasse a conhecer quem presta serviços. Não seria
ainda de descuidar a necessidade de incluir na tal ‘carta de motivação’ a
capacidade de saber integrar-se no dito presbitério, isto é, o conjunto dos
outros e com outros padres da mesma diocese…Talvez tivéssemos muitas novidades
e surpresas!
António Sílvio Couto
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