Para
quem não estava habituado a ter equilíbrio orçamental e financeiro, com a
possibilidade de melhoras na economia, dá a impressão que alguns se têm
deslumbrado com o desempenho dos ganhos e o controlo das perdas… repercutindo-se
isso nalguma aceitação nas sondagens. E nem a desculpa de que houve
desenquadramento das declarações sobre o adjetivo ‘saboroso’ dado ao ano de
2017 pode-se e deve-se exigir maior seriedade naquilo que se diz e, sobretudo,
como se diz, seja lá onde for.
Dá a
impressão que alguns dos que ocupam os lugares do poder – ao nível do governo
central, nas autarquias, nas instâncias intermédias (como repartições por onde
circula o dinheiro…finanças e bancos), onde se cuida (ou devia) a saúde, nos
espaços de segurança (social ou policial), nos estabelecimentos de atendimento
ao público…mesmo nas esferas do religioso) – na vida de índole social e quase
nos contatos pessoais, ficando-se com a sensação de que as pessoas não passam
de números, obnubilando as feições dos rostos ou fazendo esquecer o que de mais
específico tem cada um de nós. Para uma imensa maioria dos intervenientes
nestas instâncias referidas, os pretensos eleitores/votantes/clientes só contam
enquanto são precisos como potenciais instrumentalizados para colocarem nesses
lugares os que depois mandam… como executantes dos programas de governança,
dando a impressão de que seriam bem escusados se tal não fosse proposto pelas
regras da ‘democracia’…À boa maneira de ouvir, ainda ouvem, mas mandar é para quem
quer e pode!
= Os
factos mais recentes da nossa história/memória coletiva como que nos fazem
acentuar esta impressão de que as pessoas não contam para quem governa, pois a
massa anónima é fácil de manipular e os mentores do poder exercem-nos com tal
autoritarismo que não é muito complicado desmontar as pretensões, os objetivos
e as metas das suas façanhas mais ou menos sórdidas. A criação e manutenção de
certas maiorias – sociológicas, económicas e culturais – mais uma vez andam à
volta dessa espécie de infantilização das pessoas, tornando-as ainda como que
joguetes nos interesses ideológicos, partidários e até religiosos duns poucos
mais espertos sobre outros menos (bem) informados ou atentos.
= Esta
época do Natal toca por natureza do mistério da encarnação de Jesus o que há de
mais humano e elevado da nossa condição: divinizados pelo Menino-Deus somos
como irmanados na grande família humana, onde todos têm os mesmos direitos e
consubstanciam idênticos deveres. É aqui, neste nó desatado por Jesus, que cada
um de nós adquire a sua autêntica carta de libertação: n’Ele, por Ele e com Ele
estamos vinculados a sermos e a vivermos como pessoas iguais perante tudo – e
não só diante da lei –, nivelando seja qual for ou que está em configuração
inferior ou superior. Por isso, tudo quanto foi ou está fora destes princípios
será ofensa à dignidade da pessoa humana, seja ela quem for, tenha a idade que
tiver, apresente a cultura ou instrução mais simples ou elaborada, revestia-se
de que roupagem (cor ou etnia) qualquer, exiba ou não riqueza ou falta dela…
Dir-se-á
que no Natal mergulhamos no que há de mais simples da nossa fraternidade e com
isso nos fazemos mais irmãos de todos os homens/mulheres. Deste modo o
sofrimento ou as menos boas condições de habitação, de alimentação, de emprego,
de educação, de saúde, de segurança…é algo que nos afeta a todos, pois há
alguém que não está a ser tratado conforme merece. Num tempo de razoável
egoísmo tudo isto nos deveria tornar mais solidários, muito para além do que é
visível ou notório. As provações dalguns fazem com que todos nos sintamos em
dor e sofrimento também. Não podemos fechar-nos nem no nosso mundo familiar
para adiarmos a construção da sociedade mais justa porque mais fraterna,
solidária e cristã.
= Está
na hora de acordarmos dos nossos interesses e das nossas prendinhas em jeito de
anzol, isto é, dando para receber em troca. Temos de estar presentes, fazendo
dessa simples presença o melhor presente que não se compra nem se vende, mas
que cuida, olha e acaricia quem precisa. O perfume que exala melhor odor é o
que dá sem nada esperar em troca, pois se tem em conta que Jesus está naqueles
que Ele coloca no nosso caminho para serem tratados com amor, compaixão e
misericórdia. Assim haverá verdadeiro e sincero Natal!
António Sílvio Couto
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