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sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Avaliação de certas dinastias partidárias…à luz do Natal



Para uns tantos e em certos tempos dá a impressão que se deve enterrar a cabeça na areia, como a avestruz, e fazer-de-conta que tudo corre bem, só porque a eles lhes corre – a vida, as façanhas, as tropelias, as conquistas, as vitórias, as mentiras, os subornos, as cativações, os subsídios, etc. – de feição. Dizemo-lo abrangendo vários campos da nossa condição coletiva e, nalgumas situações, mais de índole pessoal e/ou familiar.
– Quando tantos se insurgem contra a acentuada desmotivação pela política – votante ou participativa – dá-me a impressão de que, quem serve esta vertente humana e social, tem andado mais a pensar em si e nos seus do que a tentar perceber por onde devem caminhar as pretensões dos outros…
Os tentáculos familiares na vida pública não se reduzem à mera instância autárquica, mas estendem-se a muitos outros campos de intervenção, sem esquecer o âmbito do governo central – bastará observar a aglomeração de membros da mesma família (ou famílias) em parentesco executivo… Embora ainda se não possa aferir dalgum nepotismo – ‘favorecimento de parentes e amigos próximos em detrimento de pessoas mais qualificadas’, tendo em conta a nomeação ou elevação de cargos a exercer – explícito, não andará muito longe a curto e a médio prazo… tais são as ramificações entre participantes na área governativa!
Por vezes, as matizações desta doença congénita em muitos regimes autocráticos, democráticos ou com outro sistema de representatividade vão-se degradando com estas manifestações mais ou menos conhecidas, divulgadas ou consentidas… 
– Quando vemos surgirem notícias e declarações, que nos fazem pensar sobre quem influencia quem ou quem se deixa condicionar por quem, poderemos ser levados a refletir sobre a ‘longa manus’ com que certos senhores/senhoras e afins, quando ocupam o poder, fazem crer que têm mais do que autoridade, seja pelo exercício, seja pela bajulação com que se fazem rodear. Por vezes somos levados a acreditar que, por trás da cortina, se movem interesses nem sempre percetíveis por todos ou, pelo menos, com sensatez pelos mais desatentos ou crédulos.
Há casos e acontecimentos que são mais dignos de irrisório do que de complacência, na medida em que mexem com a honorabilidade da maioria do povo simples e trabalhador (não meramente operário), que não entra com facilidade nos meandros de tantas manigâncias, às quais só têm acesso uns tantos iluminados nas oportunidades, nas conveniências e mesmo nas tropelias… Mais uma vez tem-se a sensação de que tais ‘bafejados da sorte’ têm mais esperteza do que inteligência ou, à mistura, com bastante manha e algum poder de influência… até que tudo se descubra. 
– Que tem, então, o Natal a ver com tudo isto? Porque teremos de não deixar passar à margem estas coisas que nos podem aborrecer e não deixar ‘ter’ um Natal pacífico? Valerá a pena andarmos a aborrecer-nos com tais questões, se a maior parte nem atende minimamente a isso?
Antes de mais o Natal irmana-nos na fraternidade trazida por Jesus e o que é feito a um qualquer dos nossos concidadãos atinge-nos a todos. As ofensas à dignidade alheia também nos fere, nem que seja por fazermos parte desta mesma humanidade ferida e ofendida.
Pretender escalonar os diversos cidadãos segundo o seu poder económico – tido, retido ou desviado – é algo que não foi desejado por Jesus, pois pela sua Encarnação – ter-se feito homem connosco – temos iguais direitos e idênticos deveres, para além de que os que mandam ou dirigem não podem fazer-se juízes contra os outros…até porque um dia podem vir a ser apeados de tal poder e não quererão ser tratados como tratam os outros quando subalternos. Por vezes a memória é demasiado curta – senão mesmo seletiva – para com quem foi menosprezado e ofendido pelos executores do poder. Este é efémero e, quem hoje está por cima – assim pensa – amanhã estará em lugar secundário e não quererá ser maltratado como agora faz aos outros!
= O Natal fraterniza-nos, não nos distingue. O Natal faz-nos solidários, não nos separa. O Natal cria em nós sentido de pertença, não exclui. O Natal faz-nos filhos do mesmo Pai, não nos torna enteados nem enjeitados!    


António Sílvio Couto  




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