De 3 a
24 de dezembro decorre o tempo litúrgico do Advento, isto é, a preparação mais
próxima para o Natal. Neste celebramos – no hemisfério norte em contexto de
inverno – o nascimento de Jesus Cristo, há mais de vinte e um séculos.
Ora,
este tempo do Advento inclui quatro domingos e, na maior parte das vezes, o
ritmo doutras tantas semanas. Não é isso que temos este ano, pois o quarto
domingo celebra-se a 24 de dezembro e, nessa mesma noite, já temos a designada
‘missa do galo’; por isso, será muito curto o espaço e a oportunidade de
vivermos condignamente essa tal ‘semana’, que não passa dumas breves horas…
Tanto
quanto é percetível o Natal ainda apresenta alguns resquícios de cristandade,
isto é, daquele ambiente em que todos – ou uma grande parte – era cristã, senão
no conteúdo ao menos na forma e se ia (vai) usufruindo dos benefícios gerais
(feriados, festas, prendas/presentes, convívios, augúrios, etc.), embora sem
compromisso no particular… Mas será que, no ritmo deste ciclo da vida, ainda
pode haver mais do que rotina e tradição – essa que pode até esconder
ignorância e má-fé – na preparação e na vivência do Natal deste ano? Teremos de
repetir algo de nostálgico ou de fazer algo sem sabor ou novidade?
Porque o
Natal deste ano pode ser o último da nossa vida – alguém pode afiançar que não
é? – talvez devamos pessoal, familiar, social e eclesialmente vivê-lo com
outra, nova e única intensidade. Poderá acontecer que nos venham à memória os
que, da nossa família humana, psicológica ou da fé, já não vivem o Natal de
forma visível. Talvez esses dias possam ser mais duros e sensíveis… Enquanto
isso poderemos ver tantos para quem essa data não passa disso mesmo, uma data
onde O festejado é esquecido e as honrarias são mais interesseiras e humanas do
que seria desejável.
Há
condimentos da nossa cultura cristã que nos podem ajudar a viver com expetativa
este Advento. Temos vindo a perceber que no sul da Europa – mais dinamizado
pela primavera e a Páscoa – têm estado a ser introduzidos aspetos muito
realçados nos países do norte do continente: enfeites alusivos à natureza,
velas e luzes, ‘coroa do Advento’… e tantos outros aspetos de quem privilegia a
preparação e vivência do Natal em contexto mais fechado em casa e não tanto na
rua, como nos países latinos… Tanto quanto é percetível, as imitações não nos
têm (aos latinos) tornado mais trabalhadores, tão pouco mais fraternos e ainda
mais cristãos…pelo contrário!
= Uma sugestão de itinerário: ‘família,
santuário da vida em Jesus’
Atendendo
à necessidade de configurar a nossa vivência do Advento à volta dum tema, na
paróquia da Moita, diocese de Setúbal, propusemos um itinerário, tendo em conta
o biénio diocesano da família, onde a palavra ‘vida’ está em destaque, numa
proposta progressiva em cada semana. A partir de ‘vida’ enquadramos um ritmo…em
que cada letra da palavra nos aponta um aspeto concreto e simples: vamos irmãos dar alegria… Isso desdobra-se em subtemas:
vigiar sobre a vida (1.ª semana); conduzidos na vida (2.ª semana); acolhendo a
vida (3.ª semana); celebrar a Vida (4.º domingo)…chamando a participar em cada
domingo para setores diferentes da família, respetivamente, avós, pais, mães
(bênção das grávidas) e filhos/irmãos.
A
assunção da ‘coroa de Advento’ em família poderá proporcionar um tempo de
oração – mesmo (ou sobretudo) à volta da mesa – da família em cada domingo,
sendo sugerida uma breve oração de bênção dessa vela que há de estar presente
cada vez que a família se reúne ao redor do mesmo pão…
Se bem
que as diversas editoras católicas nos vão seduzindo com as suas propostas,
torna-se mais apropriado que cada diocese ou paróquia – tudo dependerá do
âmbito onde nos possamos inserir/comprometer – faça a sua sugestão de
caminhada, sem nos deixarmos enlear por algum ‘fast food’ religioso um tanto
envernizado por laivos de ‘new age’, isto é, lindos e atraentes, cativantes e
perfumados, de muito teor social, dum tanto registo light e de algo anódino
quanto baste…sem Cristo, claramente!
Em jeito
de rodapé: o que mais custa ver e até aceitar é o razoável número de cristãos
(ditos) praticantes que, nesta época de Natal, se comporta com critérios
neopagãos, ficando mais nas coisas materiais do que na vivência d’Aquele que
festejamos… Isto para além da ausência das celebrações comunitárias mais
básicas!
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário