São
candidatas (por ordem alfabética) a ‘palavra do ano’ de 2017, em Portugal:
afeto, cativação, crescimento, desertificação, floresta, gentrificação,
incêndios, independentista, peregrino e vencedor.
Esta
iniciativa da ‘palavra do ano’ tem por promotor a Porto Editora, sendo seu ‘principal
objetivo sublinhar a riqueza lexical e o dinamismo criativo da língua
portuguesa, património vivo e precioso de todos os que nela se expressam,
acentuando, assim, a importância das palavras e dos seus significados na
produção individual e social dos sentidos com que vamos interpretando e
construindo a própria vida’.
Reportando-nos
a um certo arquivo podemos encontrar como ‘palavra do ano’ de 2009 – esmiuçar;
de 2010 – vuvuzela; de 2011 – austeridade; de 2012 – entroikado; de 2013 –
bombeiro; de 2014 – corrupção; de 2015 – refugiado; de 2016 – geringonça.
Por mim,
para 2017, votei em ‘incêndios’!
A
votação teve início em meados de maio deste ano e estende-se, tal como no ano
passado, também a Angola e Moçambique, devendo ser anunciada a ‘palavra do ano’
vencedora nos primeiros dias de janeiro.
= Se
tivermos em conta outras iniciativas sobre ‘a palavra do ano’ poderemos referir
que segundo o dicionário americano Merriam-Webster a palavra escolhida é ‘feminismo’,
tendo presente a luta do movimento em favor das mulheres. Por seu turno, para o
dicionário britânico Oxford, a palavra do ano é ‘youthquake’ (terramoto jovem),
significando uma mudança cultural, política ou social provocada pelas ações ou
a influência dos jovens.
Vemos,
deste modo, duas visões em inglês de um e do outro lado do Atlântico, mas
reveladoras das culturas em estão inseridas ou como são interpretadas as
movimentações sociais nos nossos dias…
= Se nos
ativermos, em Portugal, às escolhas da ‘palavra do ano’ mais recentes podemos
ver que elas como que resumem as vivências pessoais e coletivas, tendo em conta
a sensibilidade dos votantes e dando-nos ainda perspetivas daquilo que ficará
para o futuro de quem quiser interpretar isso que fez alguma história nas
estórias decorridas.
De
facto, a nossa vida é, efetiva e afetivamente, feita de inúmeros episódios que
podem ser lidos mais tarde pelo arco da existência que se escreve por entre
situações significativas e de outras que poderemos considerar banais, mas que o
não são, pois foi também aí que crescemos sem nos darmos conta… Com que
subtileza os anos passam e não podemos deixar que nos façam entrar na rotina
dos dias nem das coisas…
= Quando
vemos e ouvimos o responsável máximo do governo em funções resumir o ano de
2017 como ‘saboroso’, dá vontade perguntar: em que país andou? Terá pisado a
mesma terra daqueles que sofreram ou morreram por causa dos incêndios? Será que
o poder faz as pessoas ficarem sem discernimento para compreenderem quem governam?
Por onde anda o bom senso? Não seria preferível deixar os epítetos àqueles que
são governados e não se arvorarem em juízes da causa própria? Não seria, antes,
de sentir a consciência chamuscada com mais de cem mortos nos incêndios? Este
‘saboroso’ cheira a esturro!
= Sem
querer dar lições, parece que umas das maiores crises da sociedade ocidental,
da Europa em particular e de Portugal em especial, é a de não termos líderes à
altura dos acontecimentos nem das necessidades mais simples. Talvez estejamos a
colher da deficiente sementeira das décadas mais recentes, onde se quis
privilegiar o imediatismo e não tanto a visão com futuro, onde os responsáveis
olharam mais para a sua sombra – promovendo os seus apaniguados – do que
quiseram ter visão de futuro. Com efeito, temos andado, nas mais diferentes
instâncias, a fazer o imediato e não a tratarmos do necessário. Ora, o
investimento em bons (ou razoáveis) dirigentes não tem sido a prioritária opção
dos que ocuparam as tarefas de autoridade, preferindo o poder…com as ilusões
que lhe estão apensas.
Desgraçado
país e/ou cultura que não consegue perceber para onde caminha. Pessoas com mais
humildade, verdade e serviço, precisa-se!
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário