Nos
tempos que decorrem vemos surgirem continuamente mais e melhores tecnologias,
umas suplantando outras, algumas recriadas das já existentes e bastantes
inovadoras… Foi isso e muito mais que esteve em destaque esta semana na ‘Web
summit’, que decorreu, em Lisboa, para gaudio de milhares e milhares de
expertos na matéria…
Não é,
essencialmente, sobre este evento que desejamos refletir. Dele se disse o
suficiente para o acharem comparável à façanha dos descobrimentos dos séculos
XV e XVI. Em edição desde 2009 – as cinco primeiras edições em Dublin, Irlanda
do Norte e as duas últimas em Lisboa, tendo passado ainda por Londres – esta
conferência de tecnologia global serve para aferir dos progressos e das
perspetivas nesta área de atividade…cada vez mais abrangente.
Desejamos
falar sobretudo dessa evolução do ‘homo sapiens’ para o ‘homo tecnologicus’,
cujas capacidades tão fortemente vem influenciando a nossa vida, desde os
pormenores mais simples e bizarros até aos mais complexos e sofisticados.
O
domínio crescente da tecnologia tem vindo a favorecer a nossa vida. Mesmo sem
nos darmos conta disso, vivemos rodeados de tecnologias, qual delas a que menos
somos capazes de dominar, mas antes como que nos dominam, tanto na utilidade,
quanto nas subtilezas com que somos confrontados, sabe-se lá, quase dominados…
=
Atendendo à virulência desta intensa etapa tecnológica da nossa condição
humana, há questões que se podem/devem colocar, em ordem a não sermos meramente
manipulados pela galopante evolução deste sector no contexto cultural,
económico e social.
* Não
será que o uso intensivo da tecnologia estará a fazer diminuir as nossas
capacidades pessoais?
* O
uso/abuso da tecnologia não estará a fazermos menos inteligentes e menos
livres, embora mais práticos e talvez eficientes?
* Por
entre tantos artefactos tecnológicos – apresentados, pressupostos e induzidos –
não se encobrirão uns tantos habilidosos sob a capa de esperteza e ensombrando
os mais inteligentes?
* A
intensa dependência dos meios de tecnologia – telemóveis, tablets, internet,
redes sociais e tantos outros pretensos adereços úteis e de autopromoção – não
estará a criar novos ‘drogados’ e dependentes egocêntricos, egoístas e
hipocondríacos?
* A submissão
a tantos dos meios da tecnologia não estará a criar novas dependências
psíquico-emocionais que poderão interferir na evolução da capacidade humana de
relacionamento entre todos?
* A
tecnologia não se terá tornado uma finalidade nela mesma, em vez de ser só uma
ferramenta criada pelas pessoas e colocada ao serviço delas?
= Neste,
como em tantos outros campos da atividade humana, nada é bom nem é mau, tudo
depende do uso que lhe dermos ou soubermos dar. Assim, a tecnologia mais
recente ligada ao domínio da comunicação global tem vindo a ser uma ferramenta
que tem sido usada – tanto quanto se percebe – de forma humanista, com alguns
casos nem sempre corroborados com esta visão mais ou menos otimista. Com
efeito, há casos em que as tecnologias – poderá ser abusivo ainda usar a designação
de ‘novas’, pois para muitos (os mais novos) são as únicas que conhecem – de
comunicação podem ser usadas por mentes menos bem-intencionadas.
Em
certos setores – sobretudo nos ligados à comunicação social… nas suas diversas
vertentes – dá a impressão que tem vindo a ser usado em excesso a expressão –
‘contar uma história’ (e esta nem sempre será escrita nesta grafia, mas antes
como ‘estória’, isto é, narrativa nem sempre verídica ou verificável) – na
aceção de querer dizer algo que não seja menos atrativo e se torne mais
aceitável… Ora, a tecnologia não poderá tender a subverter a apresentação das
notícias, dos factos, dos acontecimentos, das situações, dos casos… mesmo que
se revistam de roupagem dramática e menos light…
As
habilidades da tecnologia não poderão ser colocadas ao serviço de outra coisa
que não seja a verdade, mesmo que nua e crua, mas sempre verosímil… A
tecnologia há de um instrumento da Verdade, sempre!
António Sílvio Couto
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