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domingo, 26 de novembro de 2017

Quatro atitudes-chave para a construção da paz


Na sua mensagem para o 51.º dia mundial da Paz, intitulada - ‘Migrantes e refugiados: homens e mulheres em busca de paz’, o Papa Francisco apresenta aquilo a que chama ‘quatro pedras angulares para a ação’. Reportamo-nos às suas palavras e deixamos algumas reflexões.
«Oferecer a requerentes de asilo, refugiados, migrantes e vítimas de tráfico humano uma possibilidade de encontrar aquela paz que andam à procura, exige uma estratégia que combine quatro ações: acolher, proteger, promover e integrar». Esta citação é da mensagem que o próprio escreveu, em maio passado, para o dia mundial do refugiado de 2018. Com efeito, a consonância das quatro atitudes-chave devem ser progressivas e complementares, fazendo ligação entre duas grandes preocupações papais: refugiados e paz
* «Acolher’ faz apelo à exigência de ampliar as possibilidades de entrada legal, de não repelir refugiados e migrantes para lugares onde os aguardam perseguições e violências, e de equilibrar a preocupação pela segurança nacional com a tutela dos direitos humanos fundamentais».
Dizendo o que entende por ‘acolher’ – uma espécie de palavra charneira do seu ministério – o Papa Francisco tenta alargar os horizontes políticos, sobretudo da ‘velha’ Europa, para esta diaconia essencial do cristianismo, tão presente no elenco das obras de misericórdia. O Papa cita o texto da epístola aos Hebreus no contexto do exercício da hospitalidade, como marca de cultura desde sempre para os cristãos.
* «’Proteger’ lembra o dever de reconhecer e tutelar a dignidade inviolável daqueles que fogem dum perigo real em busca de asilo e segurança, de impedir a sua exploração. Penso de modo particular nas mulheres e nas crianças que se encontram em situações onde estão mais expostas aos riscos e aos abusos que chegam até ao ponto de as tornar escravas. Deus não discrimina».
Num tempo eivado de tanta discriminação, sobretudo dos mais frágeis/fragilizados, onde se incluem, muitas vezes, mulheres e crianças, o Papa traz de novo à colação o drama do tráfico de pessoas, particularmente, destes mais vulneráveis, tanto na sua dignidade como na sua convivência humana em maré de desenraizamento das suas terras e culturas. Citando o Sl 146,9, o Papa Francisco apela à memória do povo de Israel como as raízes mais profundas da nossa civilização ocidental, por vezes, tão fechada aos marginalizados da economia e dos direitos mais básicos de cidadãos...
* «’Promover’ alude ao apoio para o desenvolvimento humano integral de migrantes e refugiados. Dentre os numerosos instrumentos que podem ajudar nesta tarefa, desejo sublinhar a importância de assegurar às crianças e aos jovens o acesso a todos os níveis de instrução: deste modo poderão não só cultivar e fazer frutificar as suas capacidades, mas estarão em melhores condições também para ir ao encontro dos outros, cultivando um espírito de diálogo e não de fechamento ou de conflito».
Mais do que tolerar, temos de saber enquadrar, inserir e dar alicerces de promoção aos que vivem a tragédia de serem refugiados ou mesmo migrantes. Na sequência daquilo que já dizia Paulo VI, numa das suas mensagens para este mesmo dia mundial da paz – a de 1969: promoção dos direitos humanos, caminho para a paz - se referia à promoção humana como outro nome da paz., o Papa Francisco salienta que, mais do direitos a reivindicar, estamos perante fatores de humanização e de critérios para a construção da paz verdadeira e não a dos acordos políticos mais manhosos e frustrantes... Recorrendo à longa bíblica de ser estrangeiro, cita-se Dt 10,18-19, onde os que estão em terra sua, não se esquecem de quando foram itinerantes e estrangeiros como aqueles que agora acolhem. Diríamos: memória, precisa-se!
* «’Integrar’ significa permitir que refugiados e migrantes participem plenamente na vida da sociedade que os acolhe, numa dinâmica de mútuo enriquecimento e fecunda colaboração na promoção do desenvolvimento humano integral das comunidades locais».
Ao citar Ef 2,19, o Papa acentua que, para qualquer cristão, não há nada que lhe seja indiferente nem ele mesmo se pode sentir fora do âmbito da cidadania mais serena e comprometida: todos estamos em peregrinação e caminhamos na condição de Algo que nos atrai e mobiliza à fraternidade universal em Cristo. Os que, agora, são refugiados e migrantes lembram-nos a todos a nossa mais radical condição de peregrinação e de solidariedade para com eles...mas onde nós podemos sê-lo muito em breve... O que fizermos aos outros recebê-lo-emos em nós e para connosco.

 

António Sílvio Couto



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