Nos mais
diversos campos de atividade podemos constatar que a melhor forma de servir a
confiança passa por falar e por viver a verdade, seja no modo verbal, seja na
forma mais comprometedora que é a de ser verdadeiro, tanto na forma como no
conteúdo.
Ora o
que temos visto nos tempos mais recentes pode ser interpretado como o
antagónico de tudo isso: imensos sinais nos levam a suspeitar que não nos dizem
a verdade, ou que, antes, nos escondem factos e situações, numa espécie de
simbiose entre a mentira e a manipulação… nos incêndios, nas notícias, etc.
Enquanto
quem ocupa os postos de poder pretender sentir-se dono da verdade, poderemos
viver na ingrata consideração de que alguém usa os lugares em que se encontra
para ganhar ascendente sobre quem está fora desse âmbito privilegiado e, por
isso, suscetível de ter benefícios sobre os outros…
Enquanto
formos vendo que os afastados da cátedra do mando invetivam quem tal posto
ocupa como se fosse um intento de sobreposição em vez de ser uma oportunidade
de serviço… veremos que, mudados os ocupantes, a manjedoura continuará a atrair
quem dela se aproxima mais ou menos ávido de tratar os demais como por agora
são considerados…
= No
contexto social nacional temos vindo a viver episódios diversos onde quem está
acima negligencia quem está em baixo…embora ainda recentemente tenha estado por
cima. Decorrido o tempo de nojo da passagem pelo poder foi-se gerando nova
apetência para voltar a ser dominante. Pena é que os tiques agora acusados não
tenham sido vistos anteriormente, pois isso serviria de lição para entender
quem subtrai informação ou quem apresenta laivos de ver de soslaio quem reclama
com maior ou menor ruído…
Parece
que se paga com idêntica moeda – embora se esteja em diferente lugar do espaço
de negócio – o que antes foi feito e por agora se reverte sem nexo ou qualquer
pejo de contradição.
Efetivamente
a muitos dos atores destas ações – políticas, sociais, económicas e afins –
falta memória e até alguma vergonha, pois, o que agora se pretende exigir,
antes não foi atendido e o que agora é feito já foi contestado mesmo sem
resultado…
= No
complexo espetro do nosso mapa psicológico nacional vemos, recorrentemente,
surgirem uns tantos ‘salvadores’ duma pátria ensimesmada sobre o seu passado.
Mesmo quando nos apresentam leituras otimistas do nosso presente coletivo, há
como que, em cada um de nós, um ‘velho do restelo’ mais profundo que desconfia
de tudo e de todos e que lança suficientes anátemas sobre algum sucesso realizado…
Isto é ainda mais acicatado pelo clima de crispação recente e recorrente em que
vamos vivendo. Deste modo a pretensa verdade não conseguirá manifestar-se em
confiança, mas talvez em ceticismo tácito ou mesmo pírrico. Em boa parte das
situações vivemos como que em desconfiança para com os outros, senão mesmo para
com a própria sombra… Somos, por natureza, bastante pessimistas e acreditamos
pouco nas nossas potencialidades…
= Agora
que dizem que o desemprego desceu a menos de dez por cento. Agora que dizem que
a credibilidade económica subiu a níveis de há dezassete anos. Agora que tudo
parece mais pacífico em matéria de contestação social e sindical. Agora que o
sucesso parece que se antepôs, temporária e artificialmente, a trabalho, vamos tentar
dizer a verdade uns aos outros para que se possa gerar a confiança uns nos
outros e todos em que manda e em que contesta, mas pouco.
Antes
que o país vá para saldos, alegremo-nos! Até breve, se ainda não pagarmos
impostos por pensar e para podermos dizer o que queremos!
António Sílvio Couto
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