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terça-feira, 1 de agosto de 2017

O homem da camisa vermelha


O ainda presidente da Venezuela, na linha do seu antecessor, apresenta-se normalmente vestido com roupa de cor vermelha/encarnada, numa simbologia ideológica marcante…tal como noutras paragens e com intérpretes diferentes.

Nota-se no estertor dum regime em grave crise, que algo corre mal num país que já foi rico e que atraiu milhares de portugueses, que, por estes dias, vão fugindo em regresso à mãe pátria, alguns sem nem falarem a língua de seus antepassados. Os que conseguem escapar dizem que falta de tudo – desde a alimentação até aos cuidados de saúde, passando pelo emprego e a paz social – lá onde o petróleo criou riqueza…até ao tempo em que foi nacionalizado e colocado ao serviço do poder popular… onde os apaniguados se vestem também com roupas de cor idêntica à do chefe.

Caído o sistema marxista nas paragens da Europa, simbolizado com a queda do ‘muro em Berlim’, em 1989, muito do que se propagandeava foi posto a nu dos critérios culturais e humanos de tal regime. Como se possa entender que agora ainda haja quem se sirva de tal ideologia para conduzir povos e nações, sabendo os resultados verificados? Não se viu, vezes sem conta, que a igualdade pretendida só serve uns tantos – nalguns casos chamam-lhe de ‘nomenclatura’ ou dão outra designação mais fascinante – deixando o verdadeiro povo – esse que não pensa como eles – à míngua do essencial?

Não deixa de ser sintomático e provocante que ainda haja propostas de querer fazer nas autarquias e em espaços de maior proximidade aquilo que – ideológica e politicamente – se viu que faliu pela raiz, deixando traumas em pessoas e em sociedades… O silêncio cúmplice – e nalguns casos a assunção pública de defesa – de certos dirigentes é questionante para com a seriedade das suas propostas e até os meios usados para atingirem seus fins… Como já se viu, quando são colocadas certas premissas, as conclusões serão idênticas às já tiradas. Por isso, é muito pouco recomendável à inteligência alheia quem assim trata os seus apoiantes… tenham a instrução que tiverem.  

= De facto, o que está a acontecer na Venezuela deverá ser para todos os que acreditam na expressão da vontade popular pelo voto democrático, um sério momento de reflexão sobre a consonância entre aquilo que se diz e o que se faz, pois não podemos servir-nos do voto para atingirmos os nossos fins e depois manipularmos os resultados até que consigamos reduzir os adversários à condição de amesquinhamento.

Por cá, nota-se de vez em quando, alguns que têm tiques desta ‘democracia de partido único’, desde que seja o seu, o vencedor. As tentativas – tácitas, subtis, claras ou subterrâneas – duns tantos sentem-se à distância, pois nem sempre aceitam a concorrência nem a diversidade de pensamento. Veja-se a (pretensa) força do coletivo, que mais não é do que aniquilar os diferentes, seja qual for o método… Onde estão os que não pensam como a maioria? Onde estão os que discordam, mesmo de forma livre? Onde está a liberdade para poder exprimir a discordância? `

À medida do que é suscetível de perceber há por aí muitas purgas e limpezas, por forma a que se dê a imagem da tal força do coletivo nem sempre democrático, por não-respeitador dos que não alinham na mesma corrente… 

= Num tempo tão propagandeante da democracia, vemos imensos sinais de ditadura, desde os mais capciosos até aos mais rocambolescos. Muitos dos ‘democratas’ são-no por trituração dos adversários. Muitos dos que falam de liberdade para si nem sempre a conjugam para com os outros. Muitos dos que defendem o direito de pensamento livre nem sempre dão tal oportunidade aos que pensam diferentemente.

Fique claro: não acredito em qualquer regime ou forma de governo que tente coartar a dimensão espiritual da pessoa nem que faça reduzir a condição humana só ao bem-estar materialista. Este é uma etapa e nunca pode ser um fim, pois seria condicionar a pessoa à sua fase meramente animal, mesmo que bem instalada e regalada sem atender, normalmente, aos outros.

Se Venezuela está em crise tão profunda não foi por falta de meios económicos, pois era um dos maiores produtores de petróleo. A crise é, sobretudo, cultural e humana, de respeito e de sensibilidade aos outros…        

 

António Sílvio Couto



 

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