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sexta-feira, 21 de julho de 2017

Ter apreço ou estar sob apreciação?


Do contacto que vou vendo com várias pessoas, em diversos lugares e até sob a designação de profissões diferentes nota-se que, em certos casos, as pessoas estão mais sob apreciação do que são, correta, honesta e sinceramente, apreciadas.

Talvez deva, desde já, fazer uma declaração de interesse – o mais desinteressadamente possível – sob quem vou centrar a atenção: os padres. Outrora muito apreciados e, nalgumas situações, mais ou menos adulados, parece que hoje se lhes não dá tão grande apreço como em antanho. Aquilo que era considerado como motivo de honraria – repare-se no destaque social do próprio e por vezes da família – talvez muitas coisas tenham sido revertidas em desfavor, senão explícito ao menos tácito. Em certos momentos isso como que fez criar um certo ambiente anticlerical…até por algum excesso de protagonismo e de posição dominante dos clérigos…ao menos no círculo mais próximo, aproximado ou em aproximação.

Relegados para uma certa penumbra social, os padres, atualmente, têm de ter uma vocação forte e fortalecida em questões muito para além do meramente natural. Hoje as sombras que pairam sobre as cabeças de tantos dos ministros da Igreja como que levam uma razoável maioria a tentar vulgarizá-los como se eles fossem homens do culto – preferencialmente no espaço do templo ou em tarefas adstritas ao social – e não tanto de cultura.  

* Nota-se, por parte duma razoável porção dos leigos, que andam pela Igreja, algum afastamento na apreciação que fazem dos padres que têm a responsabilidade mais direta do seu cuidado. Em muitas circunstâncias só notam a sua falta quando não têm os serviços pretendidos. Temos visto, nalgumas terras, que quem mais exige é quem menos dá, isto é, pretende-se receber e quase nunca se dá…nem o mínimo.

Quantas vezes quem mais parece estar na onda de quem é chamado a conduzir a comunidade dos irmãos como que se vai distanciando no entendimento das questões e mesmo na prossecução dos objetivos comunitários mais elementares… Pequenas divergências podem originar suficientes atritos e desentendimentos a roçar um certo neopaganismo de ideias e de práxis.   

* Acredito numa Igreja que viva a marca dos ministérios, tanto dos laicais mais simples como dos eclesiásticos mais elaborados. Não há que temer a complementaridade de todos e de cada um, pois será quando nos sentirmos e vivermos em sintonia de ideais que poderemos crescer e ajudar-nos a progredir na fé em comunhão e pelo perdão para a paz. Nunca por nunca um leigo deverá eclesiasticar-se nem um padre laicizar-se (no sentido pejorativo do termo), pois se tal acontecer corremos o risco de andarmos em funções trocadas senão mesmo concorrenciais…dentro ou fora do espaço eclesial.

Na medida em que formos refletindo sobre a Igreja que somos e qual é aquela que precisamos de ser…neste tempo e nesta terra, assim seremos capazes de viver no esforço de compreensão mútua, sem nos deixarmos ficar tropeçados nos erros pessoais e alheios. Na medida em que cada um saiba ocupar o seu espaço único e singular, assim teremos capacidade de fazer os outros crescer na maturidade espiritual cristã. 

* Deixamos agora algumas questões que poderão servir-nos para que possamos ser os cristãos – seja qual for a vocação, a missão ou o ministério – que vivem com vontade de construir uma Igreja que seja imagem e sinal da presença de Deus no mundo:

- Como nos aceitamos na diferença complementar e na complementaridade diferenciada?

- Teremos padres que o são por (total) vocação de serviço ou como chefia à maneira do mundo?

- A capacidade de evangelização dos leigos assenta na integração ousada ou na fuga medrosa do mundo?  

- A família sente-se como ‘escola de fé’ ou arrasta-se como refúgio descomprometido e sem sal?

- Pelo aconchego que se possa conceder aos padres, temos sabido ampará-los ou estamos mais em atitude de escorraçá-los pela indiferença?

- Somos bons na crítica ou vivemos na conversão à dimensão comunitária?

Do apreço à apreciação haveremos de crescer em Igreja, como Igreja e para a Igreja.

 

António Sílvio Couto



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