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sexta-feira, 14 de julho de 2017

Surfista bem penteado…depois da tormenta


Há tempos atrás alguém falava de situações duma certa personagem e concluía: fulano é como o surfista, vê vir a onda, prepara a prancha, põe-se a jeito e, metendo a cabeça como convém, lança-se na direção da onda e sai todo penteado do outro lado da dificuldade, ultrapassando a tormenta sem ser minimamente chamuscado pelo fogo que o podia ter atingido…

Eis como poderemos tipificar algumas figuras da nossa política, da sociedade em geral e envolvendo alguns dos lugares mais conturbados – pela exposição pública e ainda pela capacidade de tornear as controvérsias – da nossa vida pública… Incêndios florestais no triângulo Pedrógão Grande – Figueiró dos Vinhos – Castanheira de Pera; assalto (desvio, roubo, ação de mercenários ou rede de terrorismo) às armas em Tancos; recauchutagens de governantes de segunda e novas opções a pedido… E o chefe sai – depois duns dias de férias e tantos outros de silêncio de conveniência – bem penteado e quase ileso, naquilo que, noutras circunstâncias, teria sido um burburinho atroz e com consequências imediatas.

De facto, como razoável surfista o chefe até se pode dar ao luxo de se pronunciar contra uma operadora de telecomunicações sobre a qual tem suspeitas – talvez devido a informações privilegiadas pelo posto que ocupa – e anunciando outras preferências que não as da empresa que contestava… abusivamente. Também aqui sai sem qualquer beliscão dos comentadores…tão implacáveis em casos menos explícitos do passado recente!  

= Qual foi a bruxa que endeusou/enfeitiçou o tal surfista? A que dotes se deve tão boa prestação? Porque nada parece atingir a sua mediana – senão mesmo miserável – prestação? Não andaremos a brincar com um certo fogo, pela razão de tudo parecer correto e muito pouco chamuscar quem com ele se diverte? Não andaremos mais ou menos todos a ser usados para enfeitarmos a feira de tantas vaidades e de subtis artimanhas?  

= Quais bobos duma certa coorte medieval – dessas que pululam em tantas terras, sabe-se lá a troco do quê e com que finalidade! – vemos surgirem muitos ‘artesãos’ (isto é, militantes à procura de emprego estável e mais ou menos bem remunerado) fabricarem indumentárias que encaixam lindamente nos atores e figurantes. Agora, a tal época medieval, já não é considerada como uma era de obscurantismo, só porque eles/elas – os da campanha em curso – fazem parte do espetáculo, preparado para entreter turistas e veraneantes e para dar visibilidade a terreolas um tanto recônditas, esconsas e quase esquecidas. 

= Somos, efetivamente, um país de fácil manipulação: bastará que nos acenem com ‘pão e jogos’ e estaremos a comer da mão dos mais bem-falantes, mesmo que disfarçados de charlatães, um pouco de engodo e quase estaremos, como o passarinho enfeitiçado, a entrar de contentamento pela boca da serpente encantadora. Com que ardilosa condução nos fizeram crer que estamos melhores economicamente, só porque temos uns cobres mais no início do mês, mas não nos deixam pensar sobre os resultados ao final do mesmo. Gerou-se a necessidade de mais consumo, mas a capacidade de o alimentar não tem os mesmos critérios de produção. Fazem-nos acreditar que as mais-valias revertem em favor do trabalhador, mas nas costas fixam umas tantas cativações, que mais não são do que austeridade não declarada nem assumida… e os setores são os do costume: saúde, segurança (social e pública), educação… 

= Em breve vamos perceber que o surfista de serviço vai sair despenteado dalguma prova contra as ondas. Em breve saberemos que nos têm vindo a enganar e com que meios. Em breve teremos de nos pronunciar, votando contra os lacaios do faz-de-conta… Assim haja coragem e intrépida decisão!   

 

António Sílvio Couto




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