Há
tempos atrás alguém falava de situações duma certa personagem e concluía:
fulano é como o surfista, vê vir a onda, prepara a prancha, põe-se a jeito e,
metendo a cabeça como convém, lança-se na direção da onda e sai todo penteado
do outro lado da dificuldade, ultrapassando a tormenta sem ser minimamente
chamuscado pelo fogo que o podia ter atingido…
Eis como
poderemos tipificar algumas figuras da nossa política, da sociedade em geral e envolvendo
alguns dos lugares mais conturbados – pela exposição pública e ainda pela
capacidade de tornear as controvérsias – da nossa vida pública… Incêndios florestais
no triângulo Pedrógão Grande – Figueiró dos Vinhos – Castanheira de Pera;
assalto (desvio, roubo, ação de mercenários ou rede de terrorismo) às armas em
Tancos; recauchutagens de governantes de segunda e novas opções a pedido… E o
chefe sai – depois duns dias de férias e tantos outros de silêncio de
conveniência – bem penteado e quase ileso, naquilo que, noutras circunstâncias,
teria sido um burburinho atroz e com consequências imediatas.
De
facto, como razoável surfista o chefe até se pode dar ao luxo de se pronunciar
contra uma operadora de telecomunicações sobre a qual tem suspeitas – talvez
devido a informações privilegiadas pelo posto que ocupa – e anunciando outras
preferências que não as da empresa que contestava… abusivamente. Também aqui
sai sem qualquer beliscão dos comentadores…tão implacáveis em casos menos
explícitos do passado recente!
= Qual
foi a bruxa que endeusou/enfeitiçou o tal surfista? A que dotes se deve tão boa
prestação? Porque nada parece atingir a sua mediana – senão mesmo miserável – prestação?
Não andaremos a brincar com um certo fogo, pela razão de tudo parecer correto e
muito pouco chamuscar quem com ele se diverte? Não andaremos mais ou menos
todos a ser usados para enfeitarmos a feira de tantas vaidades e de subtis
artimanhas?
= Quais
bobos duma certa coorte medieval – dessas que pululam em tantas terras, sabe-se
lá a troco do quê e com que finalidade! – vemos surgirem muitos ‘artesãos’
(isto é, militantes à procura de emprego estável e mais ou menos bem
remunerado) fabricarem indumentárias que encaixam lindamente nos atores e
figurantes. Agora, a tal época medieval, já não é considerada como uma era de
obscurantismo, só porque eles/elas – os da campanha em curso – fazem parte do
espetáculo, preparado para entreter turistas e veraneantes e para dar
visibilidade a terreolas um tanto recônditas, esconsas e quase esquecidas.
= Somos,
efetivamente, um país de fácil manipulação: bastará que nos acenem com ‘pão e
jogos’ e estaremos a comer da mão dos mais bem-falantes, mesmo que disfarçados
de charlatães, um pouco de engodo e quase estaremos, como o passarinho
enfeitiçado, a entrar de contentamento pela boca da serpente encantadora. Com
que ardilosa condução nos fizeram crer que estamos melhores economicamente, só
porque temos uns cobres mais no início do mês, mas não nos deixam pensar sobre
os resultados ao final do mesmo. Gerou-se a necessidade de mais consumo, mas a
capacidade de o alimentar não tem os mesmos critérios de produção. Fazem-nos
acreditar que as mais-valias revertem em favor do trabalhador, mas nas costas
fixam umas tantas cativações, que mais não são do que austeridade não declarada
nem assumida… e os setores são os do costume: saúde, segurança (social e
pública), educação…
= Em
breve vamos perceber que o surfista de serviço vai sair despenteado dalguma
prova contra as ondas. Em breve saberemos que nos têm vindo a enganar e com que
meios. Em breve teremos de nos pronunciar, votando contra os lacaios do
faz-de-conta… Assim haja coragem e intrépida decisão!
António Sílvio Couto
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