Decorrido cerca dum
mês sobre os graves acontecimentos na zona do Pinhal interior e mais
recentemente na região de Vila Real e de Viseu, em matéria de incêndios e das suas
consequências, emergiu uma espécie contestação à forma como tem decorrido a
distribuição das campanhas entretanto realizadas...tendo em conta os milhões
angariados e ainda não disponibilizados a quem precisa.
Nota-se nalgumas
mentes e por parte doutros mentores a proposta de que a coordenação e a entrega
das ajudas deve ser acometida aos órgãos de governo (autárquico e central), não
deixando o devido espaço nem a correta intervenção da iniciativa privada.
Ora, é por causa
desta estatização e da exagerada concentração de ações de caráter solidário nas
mãos e no poder de quem pode usufruir de benefícios com aquilo que foi a
participação desinteressada, que me leva a considerar que não me sinto
incentivado em contribuir para tais peditórios...
Por entre certas
anomalias podemos perceber que nem sempre a solidariedade que tão dignamente
carateriza o povo português – com o coração sobrepujando-se tantas vezes à
inteligência – tem correspondente dignificação por parte daqueles que se
arrojam distribuidores de benesses aos seus apaniguados, fazendo crer que a
torneira das regalias melindra quem se sinta necessitado de ajuda...
= Há, no entanto, um
manto de silêncio – será propositado ou cúmplice – sobre tantas e tão benéficas
iniciativas onde a Igreja católica participa, seja porque se empenhou nas
campanhas, seja porque estando mais próxima das pessoas – o que é muito para
além da entidade abstrata das populações – e conhecedora das suas prioridades,
mas que é quase acintosamente esquecida e/ou menosprezada. De quando em vez fomos
vendo alguns jovens escuteiros a participar, mas as ações organizadas por
tantas e tão diversificadas associações sócio-caritativas passam ao lado das
informações noticiosas...
Os milhares de euros
recolhidos nos peditórios das missas de 1 e 2 de julho passado, em todo o país,
não podem, por uma questão de justiça, ser entregues às autoridades civis, pois
estas têm critérios nem sempre claros e tão poucos dignificadores dos que
precisam de ajuda...
Não reconheço
qualquer autoridade aos governantes que se apropriem dos dinheiros recolhidos para
fazer deles uso para a (possível) conquista de votos para as próximas eleições
autárquicas. Não reconheço nenhuma presunção de inocência a quem noutras
ocasiões fez tão mau serviço àqueles que foram vítimas de acidentes, incidentes
ou tragédias... Com efeito, já foi há décadas que decorreu a tal ‘operação pirâmide’
(em 1978 e que rendeu cem mil contos), onde foram recolhidas milhares de peças
de roupa, de alimentos...de ajuda vária, mas que nunca chegou aos
destinatários... Depois disso outras campanhas foram desenvolvidas e os
resultados redundaram em imensas suspeitas, tendências de corrupção,
aproveitamentos em desfavor dos que não receberam o que deviam e precisavam...
Parece que não aprendemos com o passado e os acontecimentos do presente mais
não fazem do que continuarmos a tentar ludibriarmo-nos complacentemente...
= Fique claro: as
ajudas devem ser canalizadas por entidades que não possam ter benefício algum –
eleitoral ou de promoção social – daquilo que é recolhido ou para quem possa
usufruir dessas ajudas. Torna-se, cada vez mais urgente, que as ajudas cheguem
condignamente àqueles a quem se dirigem e não sejam dadas a conta-gotas como
que os recetores fossem menores ou menorizados.
Afinal, estes
acontecimentos trágicos vieram, mais uma vez revelar, quem somos como povo,
tanto no melhor como no mais abjeto...
Que as próximas
eleições autárquicas possam aferir da maturidade de votantes e eleitos!
António
Sílvio Couto
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