«Peçamos
pelos nossos irmãos que se afastaram da fé para que, através da nossa oração e
testemunho evangélico, possam redescobrir a beleza da vida cristã».
Foi
desta forma simples, mas comprometedora que o Papa Francisco desafiou os
católicos de todo o mundo e fê-lo através dum vídeo disponível no youtube, onde
mensal nos deixa uma mensagem, divulgada em Portugal pelos jesuítas ligados ao
apostolado da oração.
Na
perspetiva do Papa, quando um cristão está triste, isso significa que se
afastou de Jesus. «Nesses momentos não devemos ficar sozinhos. Devemos oferecer
a esperança cristã com a nossa palavra, o nosso testemunho, com a nossa
liberdade e a nossa alegria. Nunca esqueçamos que a nossa alegria é Jesus
Cristo, seu amor fiel e inesgotável».
= Esta
solicitude pastoral do Papa Francisco revela o seu coração paterno, que sofre
com todos quantos se afastaram da fé, da sua celebração em Igreja e, em última
análise, do reconhecimento de Deus na vida. Com efeito, na linha do que já nos disse
o Papa emérito Bento XVI, o mais grave é o crescimento do relativismo com que
tantos/as dos nossos contemporâneos vivem como se Deus não existisse nem que tal
lhes faça qualquer problema existencial.
Veja-se
como tantas pessoas deixam desenrolar a sua vida ao ritmo dum razoável ateísmo
prático e sem qualquer problema de consciência. Nada nem ninguém lhes parece
condicionar ou orientar as questões mais básicas. Não que Deus seja ou possa
ser entendido com controlador das consciências, mas o problema é o fechamento
ao divino – seja ele qual for – de tão mergulhados que estão nas coisas
materialistas, usando os outros como degraus duma ascensão em descida, isto é,
parecendo que estamos a evoluir humanamente, mas antes vamo-nos animalizando e
instrumentalizando os outros para o nosso favor e proveito.
= ‘Ide,
primeiramente, às ovelhas perdidas da casa de Israel’ – disse-nos Jesus nos
evangelhos. Não sei se temos levado a sério esta ordem de Jesus, pois, muitas
vezes, limitamo-nos a ver partir, quem antes estava connosco. Talvez precisemos
de fazer um diagnóstico sério sobre as razões daqueles/as que se foram
afastando, dando-lhes oportunidade de se explicarem, criando condições para que
não nos limitemos a constatar a saída, mas tentando ver as ‘suas’ razões de
ausência passiva ou ativa.
É certo
que muitas das ‘razões’ podem, antes de mais, ser desculpas. Possivelmente até
será mais proveitoso – veja-se o conteúdo deste substantivo…em tantas das
relações humanas correntes – não estar, pois, desse modo poderão viver sem
engulhos na consciência e, embora seja uma mentira, talvez possa dar mais
agrado ou satisfação…
Num
tempo onde se vai vivendo mais à luz da exaltação da emoção, torna-se urgente
dar mais sabor a uma certa religião racionalista, seca e quase fria. Torna-se,
por isso, de grande utilidade – sem ser mero utilitarismo – criar condições
para que o cristianismo inclua maior afetividade e emotividade nas suas
celebrações. Não é fácil nem se faz sem riscos, mas teremos de saber gerir as
respostas para homens/mulheres deste tempo, por vezes carentes de gestos, de
palavras e de sinais de afetividade equilibrada, sadia e serena.
= O
Papa, na sua visão mais abrangente das coisas e das situações, deixou-nos um
aviso/desafio, que teremos de levar a sério, em ordem a continuarmos a ação
evangelizadora da Igreja, sabendo corresponder às necessidades desta época.
Mesmo em tempo de férias – quando tantos fazem uma paragem de
presença/participação nos atos de culto – deveremos questionarmos sobre a não-assiduidade,
tentando entrar nas razões/desculpas, nas explicações/dúvidas, nas
faltas/circunstâncias… reais ou presumidas.
O
problema de fundo continua a ser o mesmo de sempre: falta evangelização,
catequese, compromisso com Deus e uma vivência em dimensão comunitária. O
individualismo – mesmo religioso – tem hoje mais adeptos do que se possa
imaginar. À boa maneira do modernismo do início do século passado, continuamos
a conjugar essa forma de viver: Cristo sim, Igreja não!... Até quando tal
disparate?
António Sílvio Couto
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