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quarta-feira, 5 de julho de 2017

Rezar pelos que se afastaram da fé


«Peçamos pelos nossos irmãos que se afastaram da fé para que, através da nossa oração e testemunho evangélico, possam redescobrir a beleza da vida cristã».

Foi desta forma simples, mas comprometedora que o Papa Francisco desafiou os católicos de todo o mundo e fê-lo através dum vídeo disponível no youtube, onde mensal nos deixa uma mensagem, divulgada em Portugal pelos jesuítas ligados ao apostolado da oração.

Na perspetiva do Papa, quando um cristão está triste, isso significa que se afastou de Jesus. «Nesses momentos não devemos ficar sozinhos. Devemos oferecer a esperança cristã com a nossa palavra, o nosso testemunho, com a nossa liberdade e a nossa alegria. Nunca esqueçamos que a nossa alegria é Jesus Cristo, seu amor fiel e inesgotável». 

= Esta solicitude pastoral do Papa Francisco revela o seu coração paterno, que sofre com todos quantos se afastaram da fé, da sua celebração em Igreja e, em última análise, do reconhecimento de Deus na vida. Com efeito, na linha do que já nos disse o Papa emérito Bento XVI, o mais grave é o crescimento do relativismo com que tantos/as dos nossos contemporâneos vivem como se Deus não existisse nem que tal lhes faça qualquer problema existencial.

Veja-se como tantas pessoas deixam desenrolar a sua vida ao ritmo dum razoável ateísmo prático e sem qualquer problema de consciência. Nada nem ninguém lhes parece condicionar ou orientar as questões mais básicas. Não que Deus seja ou possa ser entendido com controlador das consciências, mas o problema é o fechamento ao divino – seja ele qual for – de tão mergulhados que estão nas coisas materialistas, usando os outros como degraus duma ascensão em descida, isto é, parecendo que estamos a evoluir humanamente, mas antes vamo-nos animalizando e instrumentalizando os outros para o nosso favor e proveito.  

= ‘Ide, primeiramente, às ovelhas perdidas da casa de Israel’ – disse-nos Jesus nos evangelhos. Não sei se temos levado a sério esta ordem de Jesus, pois, muitas vezes, limitamo-nos a ver partir, quem antes estava connosco. Talvez precisemos de fazer um diagnóstico sério sobre as razões daqueles/as que se foram afastando, dando-lhes oportunidade de se explicarem, criando condições para que não nos limitemos a constatar a saída, mas tentando ver as ‘suas’ razões de ausência passiva ou ativa.

É certo que muitas das ‘razões’ podem, antes de mais, ser desculpas. Possivelmente até será mais proveitoso – veja-se o conteúdo deste substantivo…em tantas das relações humanas correntes – não estar, pois, desse modo poderão viver sem engulhos na consciência e, embora seja uma mentira, talvez possa dar mais agrado ou satisfação…

Num tempo onde se vai vivendo mais à luz da exaltação da emoção, torna-se urgente dar mais sabor a uma certa religião racionalista, seca e quase fria. Torna-se, por isso, de grande utilidade – sem ser mero utilitarismo – criar condições para que o cristianismo inclua maior afetividade e emotividade nas suas celebrações. Não é fácil nem se faz sem riscos, mas teremos de saber gerir as respostas para homens/mulheres deste tempo, por vezes carentes de gestos, de palavras e de sinais de afetividade equilibrada, sadia e serena.  

= O Papa, na sua visão mais abrangente das coisas e das situações, deixou-nos um aviso/desafio, que teremos de levar a sério, em ordem a continuarmos a ação evangelizadora da Igreja, sabendo corresponder às necessidades desta época. Mesmo em tempo de férias – quando tantos fazem uma paragem de presença/participação nos atos de culto – deveremos questionarmos sobre a não-assiduidade, tentando entrar nas razões/desculpas, nas explicações/dúvidas, nas faltas/circunstâncias… reais ou presumidas.

O problema de fundo continua a ser o mesmo de sempre: falta evangelização, catequese, compromisso com Deus e uma vivência em dimensão comunitária. O individualismo – mesmo religioso – tem hoje mais adeptos do que se possa imaginar. À boa maneira do modernismo do início do século passado, continuamos a conjugar essa forma de viver: Cristo sim, Igreja não!... Até quando tal disparate?   

 

António Sílvio Couto




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