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segunda-feira, 3 de julho de 2017

Augusto, adeus. Até sempre!


Nas lides da paroquialidade há estórias que nos ficam, mesmo que o tempo passe. Numa sugestão que estava a decorrer – a de reunir com os pais das crianças e dos adolescentes que iam fazer a primeira comunhão ou a profissão de fé – um dia entraram-me pela porta de atendimento dois casais e uma só adolescente. Percebi que dum lado estava o pai com a esposa ao tempo e do outro lado estava a mãe com o que era marido na circunstância… e os quatro se sentiam, tanto quanto pude perceber, em consonância para acompanhar aquela que se preparava para fazer a profissão de fé.

Foi assim o meu primeiro contacto com o Augusto, na ocasião acompanhando a mãe da adolescente.

Decorreram os anos e fomo-nos encontrando nas tarefas públicas, umas vezes como vereador e mais tarde como presidente da autarquia… Até que saí de Sesimbra, em 2010, e fui acompanhando as lides nesta terra.

Quando me falavam do Augusto fui apreendendo que foi formado na sua área de atividade numa aposta de quem o patrocinou e, daí, fui captando alguém sensível à valorização e em gratidão a quem tal lhe facultou… dados os poucos recursos familiares.

Pois é desta faceta de gratidão que desejo realçar a personalidade do Augusto, podendo eu próprio inserir-me – naquilo que a mim mesmo se refere – na vertente que à Igreja católica me toca e com todo o respeito.

Pela minha parte o refiro sem qualquer vergonha: fui ajudado pela diocese de Braga, logo que faleceu meu pai, tinha dezassete anos e estava naquilo que hoje corresponde ao décimo ano de escolaridade…

Num tempo em que as pessoas são, tendencialmente, ingratas para com quem as ajudou a valorizar-se, quero deixar o meu mais singelo preito de homenagem a quem serviu – mesmo que não me reveja na opção ideológica – os outros, tanto quanto se pode perceber com dedicação e altruísmo… Isto criou em mim uma grande e salutar admiração pelo Augusto e por tudo quanto tentou fazer pela sua terra! Admiro quem assume e não renega as suas raízes…por muito modestas que possam ter sido!

Não sei se tinha fé. Nunca falamos sobre isso… A não ser no ‘nosso’ clube de preferência. Mas duma coisa estou convicto: o Augusto vivia a procissão do Senhor das Chagas com devoção e isso percebia-se até no olhar.

Nestes tempos derradeiros fui-lhe manifestando – sempre por mensagem e não por palavras faladas – breves incentivos…sem nunca esquecer a dimensão da fé cristã. Espero que Deus lhe possa ter ajudado a fazer uma caminhada de crente…

Numa observação final: quantas vezes me vinha à memória a célebre vivência rocambolesca do cinema de Peppone e de D. Camilo – duas figuras do imaginário italiano, que retratam o relacionamento, no final da segunda guerra mundial, entre um presidente da câmara comunista e um padre pitoresco… onde as peripécias se conjugam para viverem uma espécie de amor-ódio – mas onde nem eu era (ou fui) o tal D. Camilo (embatinado e defensor duma certa ortodoxia) nem o Augusto representava o Peppone, pois a sua subtileza era bem mais arguta do que aquela figura transalpina…

A todos quantos conheceram, admiraram e trabalharam com Augusto Pólvora espero que estas minhas palavras possam acalentar a perda – sobretudo à sua família mais direta – e dar ressonância ao desejo de merecermos ter sido seus amigos…

Augusto: até sempre!  

Notas

- Augusto Pólvora foi presidente da CMSesimbra. Contava 58 anos.

- Este texto não é um elogio fúnebre nem pretende trazer para o público questões de índole privada.

Antes de mais será dado a conhecer à família, procurando que seja divulgado como testemunho, sobretudo, no espaço da comunicação social daquela localidade…onde procurei servir durante quase treze anos, aprendendo mais do que possa ter ensinado!

- Neste texto que reputo de despretensioso auguro homenagear tantos autarcas – dos mais diversos quadrantes partidários e ideológicos – que vivem a política de forma audaz, simples e comprometida com os mais desfavorecidos, sempre, unidos aos homens e mulheres de boa vontade, que povoam este mundo…

 

António Sílvio Couto




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