Nas
lides da paroquialidade há estórias que nos ficam, mesmo que o tempo passe.
Numa sugestão que estava a decorrer – a de reunir com os pais das crianças e
dos adolescentes que iam fazer a primeira comunhão ou a profissão de fé – um
dia entraram-me pela porta de atendimento dois casais e uma só adolescente.
Percebi que dum lado estava o pai com a esposa ao tempo e do outro lado estava
a mãe com o que era marido na circunstância… e os quatro se sentiam, tanto
quanto pude perceber, em consonância para acompanhar aquela que se preparava
para fazer a profissão de fé.
Foi
assim o meu primeiro contacto com o Augusto, na ocasião acompanhando a mãe da
adolescente.
Decorreram
os anos e fomo-nos encontrando nas tarefas públicas, umas vezes como vereador e
mais tarde como presidente da autarquia… Até que saí de Sesimbra, em 2010, e
fui acompanhando as lides nesta terra.
Quando
me falavam do Augusto fui apreendendo que foi formado na sua área de atividade
numa aposta de quem o patrocinou e, daí, fui captando alguém sensível à
valorização e em gratidão a quem tal lhe facultou… dados os poucos recursos
familiares.
Pois é
desta faceta de gratidão que desejo realçar a personalidade do Augusto, podendo
eu próprio inserir-me – naquilo que a mim mesmo se refere – na vertente que à
Igreja católica me toca e com todo o respeito.
Pela
minha parte o refiro sem qualquer vergonha: fui ajudado pela diocese de Braga,
logo que faleceu meu pai, tinha dezassete anos e estava naquilo que hoje
corresponde ao décimo ano de escolaridade…
Num
tempo em que as pessoas são, tendencialmente, ingratas para com quem as ajudou
a valorizar-se, quero deixar o meu mais singelo preito de homenagem a quem
serviu – mesmo que não me reveja na opção ideológica – os outros, tanto quanto
se pode perceber com dedicação e altruísmo… Isto criou em mim uma grande e
salutar admiração pelo Augusto e por tudo quanto tentou fazer pela sua terra!
Admiro quem assume e não renega as suas raízes…por muito modestas que possam
ter sido!
Não sei
se tinha fé. Nunca falamos sobre isso… A não ser no ‘nosso’ clube de
preferência. Mas duma coisa estou convicto: o Augusto vivia a procissão do
Senhor das Chagas com devoção e isso percebia-se até no olhar.
Nestes
tempos derradeiros fui-lhe manifestando – sempre por mensagem e não por
palavras faladas – breves incentivos…sem nunca esquecer a dimensão da fé
cristã. Espero que Deus lhe possa ter ajudado a fazer uma caminhada de crente…
Numa
observação final: quantas vezes me vinha à memória a célebre vivência
rocambolesca do cinema de Peppone e de D. Camilo – duas figuras do imaginário
italiano, que retratam o relacionamento, no final da segunda guerra mundial,
entre um presidente da câmara comunista e um padre pitoresco… onde as
peripécias se conjugam para viverem uma espécie de amor-ódio – mas onde nem eu
era (ou fui) o tal D. Camilo (embatinado e defensor duma certa ortodoxia) nem o
Augusto representava o Peppone, pois a sua subtileza era bem mais arguta do que
aquela figura transalpina…
A todos
quantos conheceram, admiraram e trabalharam com Augusto Pólvora espero que
estas minhas palavras possam acalentar a perda – sobretudo à sua família mais
direta – e dar ressonância ao desejo de merecermos ter sido seus amigos…
Augusto:
até sempre!
Notas
- Augusto
Pólvora foi presidente da CMSesimbra. Contava 58 anos.
- Este
texto não é um elogio fúnebre nem pretende trazer para o público questões de
índole privada.
Antes de
mais será dado a conhecer à família, procurando que seja divulgado como
testemunho, sobretudo, no espaço da comunicação social daquela localidade…onde
procurei servir durante quase treze anos, aprendendo mais do que possa ter
ensinado!
- Neste
texto que reputo de despretensioso auguro homenagear tantos autarcas – dos mais
diversos quadrantes partidários e ideológicos – que vivem a política de forma
audaz, simples e comprometida com os mais desfavorecidos, sempre, unidos aos
homens e mulheres de boa vontade, que povoam este mundo…
António Sílvio Couto
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