Um dos
tiques mais comuns das chamadas forças totalitárias é o do controlo da
informação, condicionando, deste modo, o direito a ser livremente informado, a
ver/escutar a versão que não somente a oficial, a antes de mais dar critérios
de escolha e não somente uma visão única, a criar a componente de pluralidade
e, sobretudo, a que não haja uma leitura uniforme da diversidade de
perspetivas…dos acontecimentos.
De
facto, no estertor da capitulação dalgum regime ou na composição dalgum sistema
que faça com que a maioria pense o que quem manda desejar, o controlo da
informação é um dos adjetivos que mais recorrentemente favorece quem manda,
seja lá a instância que for… em que, quanto mais elevada possa parece, mais se
podem ver tais fenómenos, por muito subtis ou mais disfarçados que nos apareçam
ou sejam servidos.
*
Portugal apresenta um longo historial sobre esta matéria, desde o ‘lápis azul’
do regime anterior até às comissões sindicais mais ou menos zeladoras das
publicações…em democracia, passando pelos condicionamentos com que tantas vezes
a comunicação social – anteriormente a escrita, mas também a radiofónica e a
televisiva – tem precisado de lutar para possa ser o mais livre e independente
possível…
*
Poder-se-á dizer que quanto mais controlador for o regime ou o sistema de
governação mais se tornará plausível entender que os tiques de ditador emergem
nas opiniões formuladas ou encomendadas, nas fugas a prestar esclarecimentos,
nas declarações sem direito a perguntas, nos comunicados de certos gabinetes de
informação, no centralismo informativo, nos espaços publicitários ou nas
demandas ao abrigo do direito de resposta…sem resposta.
* Mais
uma vez dizemos que ser a voz-do-dono pode trazer regalias, mas, por certo, não
nos trará (maior e melhor) qualidade informativa e esta tem de ser procurada e
não meramente limitar-se a reproduzir as frases exaltadas (e exaltadoras) dos
gabinetes que cozinham as notícias, não podendo (ou devendo) fazer dos profissionais
da área meros tambores de ressonância de quem manda…
* Nos
tempos mais recentes temos visto e sentido que muito daquilo que é a (dita) informação
positiva sobre o país sofre deste complexo de branquear as dificuldades e fazer
crer que tudo corre bem quando se encomenda tal promoção…E não aceito que
chamem epítetos de sabor antinacionalista a quem não alinha nesta feira de
vaidades e de mentiras… A prova de que algo não é sério nem credível é a de
concentrar nas mãos duns poucos aquilo que pode interessar a todos, mesmo que
isso possa ser a contragosto…de quem exerce o poder, hoje como ontem.
* Não
será por se estender um manto colorido por sobre todos os cidadãos deste país
que viveremos muito mais do que uma paz que não seja podre e que teremos uma
convivência mais ou menos tolhida pelo medo de destoar da maioria, mesmo que
esta possa estar intoxicada pela informação que lhe servem… O nivelamento
social tem caído mais e mais até à vulgaridade dos intervenientes e intérpretes
anónimos ou mais relevantes.
* Agora
que vivemos uma espécie de jornalismo popular – onde cada cidadão se acha no
direito de filmar, de gravar, de reproduzir ou de difundir – o que vê, assiste
ou ouve…mesmo que possa atingir o foro particular mais pessoal de
outrem…torna-se ainda mais importante que os profissionais da comunicação não
se convertam em utilizadores acríticos dessa espécie de face-book mais ou menos
tolerado e sem rede…desde que bajuladora do poder.
= Quem
tem tanto medo de que não falem de si senão for só bem? Quem tem andado a
semear ventos, fazendo de conta que apazigua tempestades? Porquê, para quê ou
por quem somos, afinal, controlados?
António Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário