Depois duns tempos de
sucesso em várias áreas – sobretudo no segundo semestre do ano passado e no
primeiro semestre deste – parece que estamos a regressar ao tempo do
quasi-quase: ficamos à porta da vitória, mas outros se anteciparam; outros
conseguiram e nós fracassámos; outros subiram bastante e nós só andámos uns
degraus... há os que fazem a festa e nós limitamo-nos a lacrimejar!
Se tem havido
sucessos que representam serem resultado de trabalho, outros há que denotam
mais habilidade – alguns dirão esperteza – e uma certa capacidade de superação,
mesmo que à custa do bom desenrascanço tão típico português.
Esta vaga de (novos) insucessos
e de desastres não pode ser entendida como a outra faceta daquilo que já foram
momentos de júbilo nacional ou sectorial. Talvez o problema é que não estejamos
preparados para uma e outra das situações: nas vitórias achamo-nos os maiores e
nas derrotas consideramo-nos os mais desafortunados. É um facto: falta-nos
equilíbrio emocional e psicológico tanto para gerir aquilo que corre bem como
para digerir o que corre mal.
= O que é mais
aflitivo em tantos destes momentos é a ausência de pessoas (líderes) que sejam
capazes de guiar o resto do povo, que, muitas vezes, se mostra sem capacidade
de discernir o que de mais significativo comportam as vitórias coletivas e/ou
associativas, tal como de perscrutar o alcance mais profundo das situações de
provação...na medida em que os insucessos revelem mais do que as circunstâncias
em que se dão e as conquistas muito mais do que o bom desempenho de
superação...
Tudo isto é ainda
mais agravado quando vemos desaparecerem do convívio dos vivos figuras
marcantes do nosso ‘eu coletivo’, como por exemplo Helmut Kohl, o pai da
unificação alemã e um dos pilares da construção da União Europeia nos
após-queda do muro de Berlim. Outros da sua época têm vindo a desaparecer sem
que, nos respetivos países, surjam novos intérpretes da história na Europa e no
mundo. Com efeito, a crise de liderança é cada vez mais visível e de atroz
complexidade, pois o que vemos surgir são pequenos ditadores aureolados – para
já! – de democratas, como na situação francesa, onde um tal Macron destruiu
tudo à sua volta, tentando fazer da sua personalidade uma espécie de partido à
base dos cacos doutros que, entretanto, foram reduzidos à insignificância
eleitoral... o que não quer dizer social!
= Na nossa condição
nacional o que temos tido, até agora, são uns meninos feitos nas jotas
partidárias que vão suplantando outros com idênticas intenções, mas de medíocre
qualidade intelectual, emocional, psicológica e até moral, que se vão ancorando
noutros de idêntica jaez, que para ter emprego adulam o chefe e tentam fazer
carreira à custa da ignorância do povo.
De novo a teoria do
‘quasi-quase’ é servida à saciedade, a começar pelos poderes autárquicos,
pasando pelos postos intermédios de confiança política e atingindo os patamares
mais elevados do estado e da nação. Quantos se esqueceram com rapidez da sua
procedência popular e agora parecem os tribunos dum estatuto superior, embora
se saiba que o seu reinado é efémero e o poder facilmente destronável... Mesmo nestas circunstâncias não deixa de ser
um tanto admirável que haja que aspire a tais postos e se coloque a jeito para
que a sua vida seja devassada sem-dó-nem-piedade. Por vezes torna-se quase
heróico que ainda se encontre quem se submeta a tal sistema e se dê mais ou
menos bem com as artimanhas pessoais e alheias.
= Fique claro que não
deixamos de sentir que algo de muito idêntico se passa em estruturas
humano-religiosas, com grande escândalo dos mais crédulos e suscetíveis de
deixarem impressionar por tais conluios, onde se esperava outro valor
ético/moral. Também aqui se vive o comportamento do ‘quasi-quase’, na medida em
que pouco faltou para não ser descoberto nem manifesto. Novamente aqui sentimos
que faltam personalidades com valor humano e de craveira superior. Com efeito,
temos heróis e santos, mas muitos são já dum passado ínclito e com algum
tempo... Não serão as ferramentas digitais nem o floreado de power-points que
irão convencer as gentes, será sim, a vida de entrega a Deus e aos outros que
se tornará testemunho de vida...simples, sincera e sábia.
António
Sílvio Couto
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