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quinta-feira, 29 de junho de 2017

De regresso ao tempo do quasi-quase?


Depois duns tempos de sucesso em várias áreas – sobretudo no segundo semestre do ano passado e no primeiro semestre deste – parece que estamos a regressar ao tempo do quasi-quase: ficamos à porta da vitória, mas outros se anteciparam; outros conseguiram e nós fracassámos; outros subiram bastante e nós só andámos uns degraus... há os que fazem a festa e nós limitamo-nos a lacrimejar!

Se tem havido sucessos que representam serem resultado de trabalho, outros há que denotam mais habilidade – alguns dirão esperteza – e uma certa capacidade de superação, mesmo que à custa do bom desenrascanço tão típico português.

Esta vaga de (novos) insucessos e de desastres não pode ser entendida como a outra faceta daquilo que já foram momentos de júbilo nacional ou sectorial. Talvez o problema é que não estejamos preparados para uma e outra das situações: nas vitórias achamo-nos os maiores e nas derrotas consideramo-nos os mais desafortunados. É um facto: falta-nos equilíbrio emocional e psicológico tanto para gerir aquilo que corre bem como para digerir o que corre mal. 

= O que é mais aflitivo em tantos destes momentos é a ausência de pessoas (líderes) que sejam capazes de guiar o resto do povo, que, muitas vezes, se mostra sem capacidade de discernir o que de mais significativo comportam as vitórias coletivas e/ou associativas, tal como de perscrutar o alcance mais profundo das situações de provação...na medida em que os insucessos revelem mais do que as circunstâncias em que se dão e as conquistas muito mais do que o bom desempenho de superação...

Tudo isto é ainda mais agravado quando vemos desaparecerem do convívio dos vivos figuras marcantes do nosso ‘eu coletivo’, como por exemplo Helmut Kohl, o pai da unificação alemã e um dos pilares da construção da União Europeia nos após-queda do muro de Berlim. Outros da sua época têm vindo a desaparecer sem que, nos respetivos países, surjam novos intérpretes da história na Europa e no mundo. Com efeito, a crise de liderança é cada vez mais visível e de atroz complexidade, pois o que vemos surgir são pequenos ditadores aureolados – para já! – de democratas, como na situação francesa, onde um tal Macron destruiu tudo à sua volta, tentando fazer da sua personalidade uma espécie de partido à base dos cacos doutros que, entretanto, foram reduzidos à insignificância eleitoral... o que não quer dizer social! 

= Na nossa condição nacional o que temos tido, até agora, são uns meninos feitos nas jotas partidárias que vão suplantando outros com idênticas intenções, mas de medíocre qualidade intelectual, emocional, psicológica e até moral, que se vão ancorando noutros de idêntica jaez, que para ter emprego adulam o chefe e tentam fazer carreira à custa da ignorância do povo.

De novo a teoria do ‘quasi-quase’ é servida à saciedade, a começar pelos poderes autárquicos, pasando pelos postos intermédios de confiança política e atingindo os patamares mais elevados do estado e da nação. Quantos se esqueceram com rapidez da sua procedência popular e agora parecem os tribunos dum estatuto superior, embora se saiba que o seu reinado é efémero e o poder facilmente destronável...  Mesmo nestas circunstâncias não deixa de ser um tanto admirável que haja que aspire a tais postos e se coloque a jeito para que a sua vida seja devassada sem-dó-nem-piedade. Por vezes torna-se quase heróico que ainda se encontre quem se submeta a tal sistema e se dê mais ou menos bem com as artimanhas pessoais e alheias. 

= Fique claro que não deixamos de sentir que algo de muito idêntico se passa em estruturas humano-religiosas, com grande escândalo dos mais crédulos e suscetíveis de deixarem impressionar por tais conluios, onde se esperava outro valor ético/moral. Também aqui se vive o comportamento do ‘quasi-quase’, na medida em que pouco faltou para não ser descoberto nem manifesto. Novamente aqui sentimos que faltam personalidades com valor humano e de craveira superior. Com efeito, temos heróis e santos, mas muitos são já dum passado ínclito e com algum tempo... Não serão as ferramentas digitais nem o floreado de power-points que irão convencer as gentes, será sim, a vida de entrega a Deus e aos outros que se tornará testemunho de vida...simples, sincera e sábia.

   

António Sílvio Couto



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