Ao
abrigo do artigo 38.º da constituição da república portuguesa há liberdade de
expressão e de criação por parte dos ‘fazedores’ da comunicação social, mas
isso – a liberdade e o seu contrário – não é tão possível/percetível por parte
daqueles que não estão nesse enquadramento ou que não perfilhem ideias por eles
aceitáveis ou toleradas.
Ter
direito de opinião é – ou pode ser – expresso (ou será, antes, exprimido?) num
quadro de razoável complexidade de registos e de concordâncias.
Às vezes
dá a impressão que certas atitudes funcionam com defeito de forma, isto é,
muito daquilo que se diz (ou pode ser dito) tem de passar por um tal crivo do
‘coletivo’, onde a opinião de cada qual vale enquanto concorda com a maioria,
gerando-se, assim, um aniquilamento do pensamento pessoal e fundamentado na
pessoa e não no mito das maiorias… reais, exequíveis ou manipuladas.
= Fique
claro – quase como declaração de interesses – para mim cada pessoa vale mais do
que o (pretenso) coletivo, pois daquela pode-se esperar responsabilidade e
responsabilização e deste nem uma coisa nem outra… antes tudo parece ser e
viver-se sem rosto nem voz.
= Num
tempo em que muitos dos mitos – pessoais ou coletivos, nacionais ou
transnacionais, ideológicos e/ou populistas – vão tremendo na sua formulação e,
sobretudo, na prossecução dos seus objetivos, vemos que uns tantos (mais do que
aquilo que parece) ainda se agarram – quais náufragos em maré de tempestade –
aos estilhaços da revolução silenciosa e contundente de 1989 – queda do muro de
Berlim – acenando com conjeturas de circunstância em ordem a fazerem valer a
construção duma sociedade democrática sem capitalismo, mas
vestidos/calçados/produzidos (figura e imagem, tlm e carro) com as marcas (capitalistas
e neoliberais) que contestam…mas lhes dão estatuto económico e social.
= Há,
por outro lado, forças e projetos que ainda se vão escondendo para que não se
dito o que, de facto e com verdade, fazem em favor dos desfavorecidos… à boa
maneira da sugestão bíblica sem barulho nem grande aparato. Por vezes a mão
direita faz o que nem a esquerda sabe – esta é uma ideia/conselho do evangelho
– e isso permite a muitas pessoas sobreviverem acima do mínimo da dignidade
humana. Em quantas situações é a ajuda silenciosa e recatada que faz sobreviver
famílias e pessoas individuais, aí onde outros fariam alarido para que se
soubesse – de forma direta ou mais subtil – a ajuda prestada… Isso não dá votos
e – no caso da frequência da prática religiosa – nem sequer devotos.
Efetivamente,
por estes dias, veremos inúmeras associações e coletividades a publicitarem as
suas ações de benemerência, sobretudo se isso tiver o patrocínio sub-reptício
dalguma autarquia…
Com que
facilidade se explora a fragilidade dos outros, tornando-os como que alfinete
de condecoração no trato com as coisas de assistência… próprias ou rececionadas
para o efeito.
= Faço
parte, desde a mais tenra idade, pelo batismo com um dia de vida, duma
sociedade de fiéis, que têm por fundador um Deus-feito homem, Jesus Cristo e
que, de forma organizada, se chama Igreja Católica. Fui educado e cresci nesta
expressão de cristianismo. Por graça e mistério de Deus, fui ordenado para nela
ser ministro, como padre. Aprendi a amar, a pensar e desejar tudo na vida a
partir desta expressão de fé comunitária. Mas quase nunca me senti condicionado
a dizer o que pensava e a pensar o que digo… até pela formação teológica e
compromisso pastoral.
Quando
falo de «delito de opinião» não me sinto condicionado a não ser livre para
dizer, escrever ou falar o que, na minha consciência cristã, posso, devo e
tenho de exprimir. Por tal razão considero que não temos – como Igreja plural e
una – de temer que nos possam avaliar e até contestar… desde que sejam,
minimamente, fiéis e queiram comungar da mesma fé professada, celebrada e
comprometida…
De
outros dispensamos lições… sobretudo se vivem e se alimentam do secretismo de
estruturas e de coletivos menos claros, esclarecedores e transparentes.
António
Sílvio Couto
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