Como é
que ‘confiança, competência, conexão, cuidados e caráter’ se repercutem na
formação dos nossos jovens? Como é que estes cinco ‘cês’ funcionam como
indicadores de que os nossos jovens sabendo mais – pela escolarização e maior
informação de conteúdos – e crescendo em idade, estão mais amadurecidos para a
vida? Como reagem, rapazes e raparigas, às mesmas questões? Até que ponto
sucesso pessoal se compagina com sensibilidade social?
Estas
são algumas das várias questões que nos pode colocar (direta ou indiretamente) um
estudo – «Ser positivo (Be positive)» – de âmbito internacional, mas com dados
recolhidos num inquérito, em Portugal, em cerca de três mil jovens, com idades
compreendidas entre os 16 e os 29 anos.
Segundo
a leitura da coordenadora deste estudo, as raparigas demonstram ter uma
consciência social mais apurada do que os rapazes, embora, posteriormente,
surjam como menos otimistas e propensas a sentimentos de mal-estar físicos e
psicológicos…Ainda na perspetiva desta responsável, os jovens com estatuto
socioeconómico mais elevado são os que menos valores e consciência social
parecem apresentar, embora sejam mais confiantes e otimistas, podendo
considerarem-se a si mesmos como bons alunos… Nas palavras dessa responsável,
citadas pela comunicação social, ‘fica-se com a sensação de que um jovem ou é
competente e confiante, mas muito pouco preocupado com os outros e com a
realidade, portanto, autocentrado e egoísta, ou cria empatia com o que o rodeia
e sofre por causa disso e torna-se menos bem-sucedido’…
= Diante
destas notas de reflexão sobre a condição atual e suas repercussões no futuro
dos nossos jovens teremos todos – sobretudo os mais velhos com a tarefa da
educação e em espaços de cultura – de estar bem atentos àquilo que temos vindo
a semear. De facto, os mais novos são resultado do que nós temos sido para com
eles. E a julgar – aqui a palavra é mesmo de nos colocarmos em causa e em
juízo, com a possível nota de condenação para com quem não soube exercer bem as
funções que lhe estavam confiadas – pelos dados, estamos todos muito mal
colocados. Se os jovens – nossos filhos ou netos – têm uma visão tão redutiva
da sua vida atual o que será no futuro, quando tomarem em mãos as decisões para
com os outros?
= Sou
duma geração que teve a possibilidade de sonhar com um mundo mais justo, mais
fraterno e até mais humano. Quem viveu o rescaldo, em tempo de estudos, da
implementação prática do Concílio Vaticano II – na década de 70 – ou quem, em tempo
de adolescência, viu os fervores da revolução de Abril e não teve mais de ir
fazer a guerra no ultramar português ou ainda quem assistiu à queda do muro de
Berlim, em 1989, e sentiu que um tempo novo emergia para a Europa e para o
mundo…agora sente – irremediavelmente – preo-cupação com a desmotivação de
tantos jovens e a capitulação da maior parte dos adolescentes… sobretudo no
fechamento às questões dos outros e ao deixar cair a atenção aos frágeis e
fragilizados do nosso tempo.
= Foi
com alguma surpresa e estupefação que, por estes dias, li, nas reações à morte
duma das grandes promotoras da despenalização da eutanásia, quando, quem a
conhecia, referia que uma das suas grandes preocupações era o receio que tinha
de vir a morrer sozinha e sem ter quem a acompanhasse…Ao ler isso, pela via
eletrónica, senti que uma coisa parece ser aquilo que se pensa – e ao parece se
defende, intelectualmente, para os outros – e outra um tanto diferente, quando
a experiência da dor e do sofrimento – sobretudo nos casos em que nos pode
isolar ou colocar no reduto mais único daquilo que somos – nos bate à porta e
entra sem pedir licença…
= Em
jeito de inquietação deixo breves questões: Não terá sido a sensibilidade aos
outros, ao tempo de jovem, que colocou agora António Guterres à frente da ONU?
Se ele tivesse tido uma juventude apática poderíamos agora reconhecê-lo nesta
tarefa? Com tantos rebotes de cultura de veludo, não teremos jovens cada vez
mais insensíveis aos outros e intolerantes à diferença? Com um ensino sem
exigência, não estaremos a criar adultos bolorentos e crianças sem coluna… ou
será o contrário, já?
António Sílvio Couto
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