Este ano
de 2016 – prestes a terminar – trouxe à sociedade portuguesa algumas apreensões
sobre a designada CGD (caixa geral de depósitos), tanto na matéria da sua
existência – depósitos deixados ou resposta aos pedidos solicitados, como ainda
no resultado das economias – bem como na forma de gestão – mais errática do que
de confiança – sobre o presente e, sobretudo, o futuro.
Atendendo
ao setor bancário foi este caso o culminar de situações que envolveram outros
bancos, com os custos inerentes na economia e nas finanças (impostos) dos
portugueses. Quase poderíamos considerar que cada governo – seja qual for a cor
partidária – neste século XXI (isto é, em dezasseis anos) teve o seu ‘banco de
estimação’ com a necessidade de resolver os casos, dado que estamos vinculados
à União Europeia e – até ver – não se brinca com coisas sérias.
Atendendo,
porém, a que se pode apelidar a CGD de banco nacional, tudo e o resto que ali
aconteça se pode tornar uma caixa de pandora. Esclarecendo esta expressão
‘caixa de pandora’. Caixa de pandora é um artefacto da mitologia grega em que
Pandora, a primeira mulher criada por Zeus, que era muito curiosa, foi-lhe dada
uma caixa em que estavam todos os males do mundo… na sua curiosidade Pandora
caiu na tentação para ver o que havia na caixa… e dela saíram todos os males,
que se espalharam pela terra!
=
Efetivamente o nosso sistema bancário é uma autêntica ‘caixa de pandora’, pois,
quando se começa a falar duma instituição, bem depressa chegam em catadupa réplicas
do terramoto com cada vez maior intensidade. Por isso, o que, neste último ano,
se tem verificado com a CGD está ainda no princípio dos efeitos sobre a
economia nacional, as precárias poupanças dos clientes e até sobre a
credibilidade do sistema económico-financeiro.
Porque
será que tem havido tanta nebulosidade no trato com os gestores, por agora
demissionários? Porque houve o arrastar de clareza e/ou esclarecimento sobre
pretensões e promessas aos indigitados? Porque se gastou tanto tempo e energias
em esconder/descobrir o que, de verdade, se passou? Porque se contesta tão
ardilosamente o setor privado, mas depois se vai recrutar neste quem possa
gerir no público?
= Até
ver todos são sérios desde que não se prove o contrário. Por isso, este fenómeno
CGD é paradigmático do modo como muitas das questões são tratadas em Portugal.
O problema arrasta-se há demasiado tempo para que não deixe sequelas de
desacreditação no país. Não se compreende como pessoas que deviam ser honestas
e leais se deixam enredar por questiúnculas de nível menos transparente…
Neste
processo como noutras matérias falar em excesso da questão só agrava (ou tem
vindo a agravar) o problema e faz com se possam misturar interesses pessoais
com tarefas institucionais. Precisamos de criar novamente um escol de pessoas
que sejam capazes de viver em missão de serviço aos outros e não tanto – como
parece que se pode descortinar – que se valham dos lugares para (aparentemente)
enriquecerem e se vangloriarem no presente e para o futuro.
= Todo
este problema dever-nos-ia proporcionar – a todos – uma reflexão sobre o nosso
modo de lidarmos com as coisas materiais e o dinheiro em particular, pois muito
daquilo que fomos percebendo se prende com a não-aceitação clara e legal de
apresentar a declaração de rendimentos, por parte dos gestores demissionários e
um certo afã para não dar parte de derrotado, para que se cumpra a lei, de quem
tem (teve) a tutela do assunto ao nível superior em governação. Dá a impressão
que alguém não estava preparado para gerir este assunto tão efervescente!
Agora
que entramos em fase de natal-consumista poderemos tirar uns segundos de tempo
para nos confrontarmos com as seduções do momento: até onde irá a ousadia em
lutar contra as tendências que nos têm sido semeadas para que gastemos mais e
mais, preenchendo a nossa vida com coisas em vez de nos alimentarmos dos
verdadeiros valores humanos e espirituais?
Afinal,
como tão sabiamente nos tem dito o Papa Francisco: não consta que a ‘mortalha
tenha bolsos’ para levarmos na morte os bens que, entretanto,
aferrolhamos!
António Sílvio Couto
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