Está aberta a votação
para a escolha da ‘palavra-do-ano’ – 2016. São concorrentes: brexit, campeão,
empoderamento, geringonça, humanista, microcefalia, parentalidade, presidente,
racismo e turismo... dez candidatas ao todo!
A votação iniciada a
5 de maio – ‘dia da língua portuguesa e da cultura’ da CPLP – decorre ao final
deste mês de dezembro, devendo ser anunciada a palavra vencedora nos primeiros
dias de janeiro.
A escolha da
‘palavra-do-ano’ decorre, em Portugal, desde 2009, tendo sido estendida, este ano,
a Angola e Moçambique... sendo da responsabilidade duma editora de grande
expansão.
Em 2015 a
‘palavra-do-ano’ foi refugiado... enquanto em 2014 foi corrupção, em 2013 foi
bombeiro, em 2012 a escolhida foi entroikado e em 2011 foi austeridade...
= As palavras levadas
à votação como que resumem o que de mais significativo houve na nossa vivência
coletiva, umas com teor mais político e outras com referências ao nível mais
social; umas realçando a conjuntura pública e outras exaltando mais a captação
dos temas de âmbito relacional e até mesmo simbólico...
Mais do que escolher
uma palavra que resuma a linha dominante do pensamento nacional – eu votei em
geringonça – parece que se pretende algo que catapulte, para o futuro, o que
foi a vivência deste ano de 2016, que caminha para o seu crepúsculo... Isso
mesmo se pode ver pelas ‘palavra-do-ano’ supra citadas... Agora podemos
compreender um tanto melhor ‘até’ a importância da escolha, pois falará de nós
para o futuro próximo.
= Cada vez mais
precisamos de saber resumir, de forma simples, clara e incisiva, a nossa
conduta pessoal e comunitária, na medida em que, muito daquilo que somos, se
reflete no modo como pensamos, falamos, escrevemos e nos exprimimos.
Efetivamente a nossa capacidade de comunicação faz com que aprendamos e
enriqueçamos o nosso léxico, gerando novas formas para que as ideas sejam
comunicadas e possamos fazer melhorar o tempo, o lugar e a cultura em que nos
desenvolvemos.
No entanto, corremos
o risco de irmos afunilando a nossa forma de comunicação, quer porque tentamos
simplificar o que pretendemos dizer, quer porque o grupo sociológico a que
pertencemos tem ou pode ter, ele mesmo, uma forma de comunicação, que se torna
codificada e com tendências a fechar-se. Vejam-se as formas encriptadas com que
muita da linguagem das mensagens em tlm se vão desenvolvendo e tornando
entendíveis só para iniciados...
= Não basta dizer que
é preciso ler e que os mais novos têm vindo a perder a dedicação à leitura.
Será preciso elevar o nível cultural de comunicação, a começar pelas entidades
públicas – governação e deputados – e também na forma como se faz a comunicação
social, sabendo dizer o que é essencial e deixando o supérfluo para quando
houver tempo... mas, como este é cada vez mais escasso, precisamos de exercitar
a comunicação do miolo do pensamento, deixando cair as roupagens do
desnecessário.
Dá a impressão que
precisamos de tratar os nossos interlocutores com mais respeito e não
depreciando a sua inteligência, pois quem não sabe respeitar os outros talvez
não mereça ser respeitado... Quantos exemplos vemos espalhados à nossa volta,
que parecem contar mais com a sua esperteza e não tanto com a sagacidade dos
outros... Quantas vezes perguntar é mais salutar e benéfico do que afirmar,
mesmo que as questões possam, desde logo, exigir respostas e tomada de
posição... Quantas vezes se percebe quem nos trata com civilidade ou quem nos
pretende impingir patranhas ao desbarato...
= Seja qual for a
palavra-do-ano de 2016, teremos de refletir sobre aquilo que ela transmite aos
outros da nossa vivência do passado recente... Até o empoderamento (= ato ou
efeito de dar ou adquirir poder ou mais poder) poderá ser reveladora das
caraterísticas do nosso tempo...
António
Sílvio Couto
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