No livro
do Qohelet (Eclesiastes) do Antigo Testamento (3,1-8) diz-se que há um tempo e
um momento para tudo debaixo do céu – para nascer e para morrer; para plantar e
arrancar; para matar e para curar; para destruir e para edificar; para chorar e
para rir; para lamentar e para dançar; para atirar pedras e para ajuntá-las;
para abraçar e para evitar abraços; para procurar e para perder; para guardar e
para atirar fora; para rasgar e para coser; para calar e para falar; para amar
e para odiar; para a guerra e para a paz…
Ora, se
é preciso saber isto, é tanto mais importante viver em conformidade com essa
informação… sobretudo quando somos (ou podemos ser) postos em confronto com
tais palavras de sabedoria e de vida ou ainda se somos questionados, avaliados
e mesmo julgados…
= É isso
que agora temos de fazer com a (dita) nova etapa da comunicação na diocese de
Setúbal, em que – ao fim de dezasseis anos e setecentos e onze números realizados
– o jornal semanário diocesano suspende a sua publicação em papel impresso.
Temos muito
que aprender com a nossa história…neste particular do jornal diocesano. Isso
será tanto mais importante quanto quisermos aprender com os erros e os
sucessos, aquilo que foi menos bem e o que foi melhor conseguido, o que avaliza
do desinteresse e o que foi resultado de participação… de alguns, de poucos ou
de muitos, de quem se esperava maior corresponsabilidade pessoal, eclesial e
comunitária.
= Em
cada tempo é preciso saber ver e criar sinergias com tantos que nos são dados
como companheiros de caminhada e não como adversários de competição. Será na
benéfica diversidade dos dons e dos carismas, que haveremos de construir a
unidade do mesmo corpo eclesial e não só eclesiástico, onde todos somos
necessários, embora não imprescindíveis…. Esses, normalmente, têm já
reconhecimento no espaço das tumbas e são em lista razoável e suficiente…
Temos visto,
ao longo dos anos, tantas situações em que alguém, muito empenhado e com ideias
capazes de mobilizar outros, com alguma resignação se vê desinteressar-se, qual
desiludido e que entrou numa rotina muito derrotista e desmobilizadora… E isto
não tem a ver só com a idade, mas antes parece atingir a dimensão volitiva e
afetivo-intelectual. É verdade que manter-se atento e colaborante, inovador e
não-acomodado, inquieto e generoso… não é fácil em todo o tempo, mas ver a
decair – sobretudo rápida e precocemente – tais predicados poderá ser revelador
de algo mais do que dar o lugar a outros…Essa crise exige atenção, reflexão e
oração…
= Em
cada tempo são importantes e essenciais os intérpretes dos ‘sinais dos tempos’
– essa expressão do Concílio Vaticano II, na constituição pastoral ‘Gaudium et
spes’ sobre a Igreja no mundo atual’, n.º 4 – isto é, a forma como Deus nos
fala, em mistério, em cada lugar, em cada momento e em cada condição de vida.
Tantos os profetas como os que fazem o discernimento dos sinais dos tempos
precisam de serem homens e mulheres de fé, com esperança e na caridade.
Hoje
como no passado – e certamente na leitura do futuro – precisamos de intérpretes
capazes de verem para além do meramente visível e, mais do que visionários
pessimistas, é preciso que estejam imbuídos do Espírito de Deus, por forma a
serem semeadores do bem e não da maledicência…como acontece com tantos outros
fazedores de opinião e difusores da desgraça.
= Em
cada tempo, dizemo-lo da Igreja Católica, Deus nos envia os profetas da sua
Palavra, e que são muito mais do que a hierarquia, mas esta será sempre a
referência em momentos mais delicados e, por vezes, controversos. Com efeito,
quem sabe obedecer, normalmente, caminha nas sendas de Deus. Não podemos, por
isso, tolerar atitudes de quem faz de conta que sai, mas deixa tentáculos. Não
podemos continuar presos a quem já foi – e terá feito o melhor que sabia – e
pretende induzir-nos a viver sob a nostalgia do passado…mesmo que glorioso.
Em cada
tempo Deus está e vela. Assim estejamos nós e vigiemos!
António Sílvio Couto
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