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sábado, 17 de dezembro de 2016

Linguagem do silêncio

Talvez não seja a forma mais comum de viver o tempo de Natal e a recorrente passagem-de-ano, essa de viver o silêncio. Pelo contrário, em quase todos os lugares ouvimos – embora na maior parte das vezes nem escutemos – músicas e canções, promoções e novas compras…num ritmo que facilmente exclui o silêncio.
No entanto, se pararmos – queira Deus que tenhamos ainda tempo e capacidade de o fazer conscientemente – diante da representação simbólica do presépio, vemos que, só no silêncio, encontramos o verdadeiro significado do mistério do Natal e das ‘figuras’ que o compõem…
De entre as várias personagens há uma que se destaca ainda mais pelo seu silêncio – nunca fala, embora seja bom a escutar – que é São José, o pai adotivo de Jesus e a personalização do homem (masculino) de todos os tempos: José está em silêncio; José acolhe em silêncio; José segue as orientações de Deus em silêncio; José vive com intensidade tudo… em silêncio. José é silencioso, mas não silenciado!

= Quando tanta gente quer impor a sua posição pelo barulho, ora barulhando, ora resmungando. Quanta tanta gente tem dificuldade em fazer silêncio…cheio, profundo e com significado… É preciso criar, cada vez mais, condições para vivermos o silêncio, que nos faz encontrar a nós mesmos, com as nossas perguntas e interrogações mínimas, necessárias e suficientes. É preciso preencher o silêncio para que não haja vazio nem que possamos andar em busca de compensações para sabermos quem somos, de verdade.

= O silêncio não é nem nunca pode ser algo que se defina pela ausência, mas antes tem de ser objetivado pela compreensão das nossas qualidades mais essenciais: encontrar-se no mistério de si mesmo, entrando no que há de mais profundo e revelador do nosso ser… aí no sacrário do nosso coração, na cátedra da nossa inteligência e no resguardo da nossa vontade.

= Torna-se importante começar desde tenra idade a fazer exercícios de silêncio, seja pela ausência do falar, seja pela capacidade de abstrair do que se passa à nossa volta. No entanto, precisamos de corrigir, urgentemente, essa tendência de nos isolarmos com os fones nos ouvidos, vivendo cada qual no seu mundo e fechando-se aos outros de forma ostensiva e quase doentia. Além de perigoso – veja-se a possibilidade dumas adolescentes terem sido projetadas pelo comboio em andamento e morrido – isso revela uma espécie de autismo sociológico e que nos trará frutos ainda mais desagradáveis a curto e a médio prazo…

= A família deve tornar-se ‘escola de silêncio’, tanto pelo modo as pessoas falam umas com as outras, como no exercício entre todos os membros: pais e filhos, marido e esposa, avós e netos, vizinhos e visitas… Não será muito difícil fazer o diagnóstico deste aspeto na nossa família: bastará vermos com se relacionam as pessoas e pelo modo como se falam… Todos temos muito a aprender, desde o mais básico até aos momentos de maior tensão. Se pelo silêncio nos acolhermos e nos deixarmos acolher, tudo mudará em nós e à nossa volta!

= Os espaços de celebração da fé devem ser laboratórios de aprendizagem do silêncio, pois precisamos de apreciar interior e intensamente a presença do divino, onde palavras e canto, música e reflexões nos fazem captar a dimensão do nosso ser profundo, ávido do silêncio em que Deus nos fala e nós O escutamos.

= Que neste Natal demos espaço a Jesus na nossa família, pelo silêncio, dador de paz e consolador nas horas de maior tribulação.   


António Sílvio Couto

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