Talvez
não seja a forma mais comum de viver o tempo de Natal e a recorrente
passagem-de-ano, essa de viver o silêncio. Pelo contrário, em quase todos os
lugares ouvimos – embora na maior parte das vezes nem escutemos – músicas e canções,
promoções e novas compras…num ritmo que facilmente exclui o silêncio.
No
entanto, se pararmos – queira Deus que tenhamos ainda tempo e capacidade de o
fazer conscientemente – diante da representação simbólica do presépio, vemos
que, só no silêncio, encontramos o verdadeiro significado do mistério do Natal
e das ‘figuras’ que o compõem…
De entre
as várias personagens há uma que se destaca ainda mais pelo seu silêncio –
nunca fala, embora seja bom a escutar – que é São José, o pai adotivo de Jesus
e a personalização do homem (masculino) de todos os tempos: José está em
silêncio; José acolhe em silêncio; José segue as orientações de Deus em
silêncio; José vive com intensidade tudo… em silêncio. José é silencioso, mas
não silenciado!
= Quando
tanta gente quer impor a sua posição pelo barulho, ora barulhando, ora
resmungando. Quanta tanta gente tem dificuldade em fazer silêncio…cheio,
profundo e com significado… É preciso criar, cada vez mais, condições para
vivermos o silêncio, que nos faz encontrar a nós mesmos, com as nossas perguntas
e interrogações mínimas, necessárias e suficientes. É preciso preencher o
silêncio para que não haja vazio nem que possamos andar em busca de
compensações para sabermos quem somos, de verdade.
= O
silêncio não é nem nunca pode ser algo que se defina pela ausência, mas antes
tem de ser objetivado pela compreensão das nossas qualidades mais essenciais:
encontrar-se no mistério de si mesmo, entrando no que há de mais profundo e
revelador do nosso ser… aí no sacrário do nosso coração, na cátedra da nossa
inteligência e no resguardo da nossa vontade.
= Torna-se
importante começar desde tenra idade a fazer exercícios de silêncio, seja pela
ausência do falar, seja pela capacidade de abstrair do que se passa à nossa
volta. No entanto, precisamos de corrigir, urgentemente, essa tendência de nos
isolarmos com os fones nos ouvidos, vivendo cada qual no seu mundo e
fechando-se aos outros de forma ostensiva e quase doentia. Além de perigoso –
veja-se a possibilidade dumas adolescentes terem sido projetadas pelo comboio
em andamento e morrido – isso revela uma espécie de autismo sociológico e que
nos trará frutos ainda mais desagradáveis a curto e a médio prazo…
= A
família deve tornar-se ‘escola de silêncio’, tanto pelo modo as pessoas falam
umas com as outras, como no exercício entre todos os membros: pais e filhos,
marido e esposa, avós e netos, vizinhos e visitas… Não será muito difícil fazer
o diagnóstico deste aspeto na nossa família: bastará vermos com se relacionam
as pessoas e pelo modo como se falam… Todos temos muito a aprender, desde o
mais básico até aos momentos de maior tensão. Se pelo silêncio nos acolhermos e
nos deixarmos acolher, tudo mudará em nós e à nossa volta!
= Os
espaços de celebração da fé devem ser laboratórios de aprendizagem do silêncio,
pois precisamos de apreciar interior e intensamente a presença do divino, onde
palavras e canto, música e reflexões nos fazem captar a dimensão do nosso ser
profundo, ávido do silêncio em que Deus nos fala e nós O escutamos.
= Que
neste Natal demos espaço a Jesus na nossa família, pelo silêncio, dador de paz
e consolador nas horas de maior tribulação.
António
Sílvio Couto
Sem comentários:
Enviar um comentário