«Só me saem duques e
cenas tristes». Eis uma frase que se ouve com alguma frequência nas conversas
de rua e nos grupos de amigos, tentando exprimir que algo não está a correr em
conformidade com o desejado... deixando-nos um tanto na expetativa e/ou na
deceção.
Os ‘duques’ são as
pintas menos valiosas do baralho das cartas de jogar, que, quando saem em
sorte, de pouco adiantam para conseguir vencer. Por seu turno, as ‘cenas
tristes’ podem ser os episódios menos significativos da vida ou que, por serem
insignificantes, podem trazer-nos motivos de tristeza... atual e no futuro.
‘Duques e cenas
tristes’ poderão ser, assim, momentos e factos, pessoas e episódios, vivências
e situações que manifestam na nossa vida algo que pouco ou nada acrescentam
àquilo que já vivemos, mas que fazem parte do nosso existir, podendo ser
considerados, se sobre eles repararmos, oportunidades para sairmos da
banalidade em que tantas vezes nos envolvemos e/ou nos deixamos envolver no
nosso dia-a-dia.
= Casos e confusões
Na nossa vida
política e social temos sido confrontados – nos tempos mais recentes e em
situações várias – com casos que por serem tão inverossimeis mais pareceria que
podem entrar na classificação de ‘cenas tristes’ sem razão de ser e muito menos
de compreender.
Haver pessoas que
dizem ter cursos mas que mal os frequentaram e isso ser aduzido como curriculum
público para lhes dar credibilidade... no mínimo é de rejeitar seja qual for a
cor ou a instância em que tais pessoas se possam apresentar... Mas o que temos
visto é que certas forças partidárias ‘moralistas’ se fosse noutras situações
não deixariam de clamar pela demissão do titular da pasta, por agora o que têm
dito é que basta que os prevaricadores saiam para que tudo possa ficar resolvido...e
na mesma.
Estes duques fazem
cenas tristes, mas são facilmente desculpados porque que os ‘moralistas caviar’
estão nas franjas do poder e isso poderia emperrar a máquina de fazer crer que
cometem erros!
Se outros tivessem
sonegado elementos do orçamento de estado – dizem que mais de trinta páginas
com dados relevantes para a avaliação da execução do ano em curso – logo seriam
apelidados de incompetentes e de estarem a esconder algo que seria trágico para
o futuro do país. Agora foram os construtores da máquina e nada se passou... à
exceção dum razoável puxão de orelhas dos organismos europeus, mas mesmo estes
foram considerados intrometidos na soberania dos prevaricadores.
Estas cenas não
deixam muito bem classificados os ‘duques’ do teatro da nossa praça, que, ou
são maus atores com um papel de marionetas ou com dificuldade conseguem
disfarçar a incompetência, que tem de ser escortinada contínua e seriamente.
= Perspetivas e soluções
Nesta época um tanto
revisionista de coletivismo, torna-se importante perceber como havemos de
relançar a visão personalista onde cada um valha pelo que é e não pela filiação
partidária e muito menos pela fidelização às promessas estomacais com que os
ocupantes do poder vão tendo presos pela boca os seus eleitores. Sim, a
liberdade é mais do que essa capacidade de dizer e fazer o que se quer, mas
deve alicerçar-se num pensamento de responsabilidade sobre o seu presente e o
futuro.
Certos fantasmas do
‘verão quente’ não podem ser ressuscitados com o risco de estarem desfasados no
tempo e na história e de poderem servir para cercear a iniciativa privada, que
é o motor de qualquer sociedade, dado que ninguém reparte o que não é produzido
e muito menos se faz favores com cofres vazios e com os credores à porta.
É chegada a hora de
pensarmos se queremos viver na fúria do presente ou se saberemos acautelar o
futuro. É hora de sabermos quem nos usa como duques de cenas tristes ou quem
nos ajuda a construir o nosso futuro coletivo alicerçado em valores, onde a
pessoa seja um sujeito e não um adjetivo descartável. Estes duques com estas
cenas tristes, não, obrigado!
António
Sílvio Couto
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