Segundo
dados revelados nos últimos dias, os portugueses estão cada vez menos a poupar.
A fazer fé naquilo que foi publicado, no segundo semestre deste ano, a taxa de
poupança cifrou-se em 3,5%, atendendo ao que cada um ganha e àquilo que
consegue aferrolhar.
Ora, há
vinte anos atrás nós – no geral da população – conseguíamos poupar na ordem de
12,5% do rendimento auferido. Quais são, então, as razões deste fenómeno de
andarmos a gastar mais…mesmo sem ter? Porque entramos nesta espécie de euforia
de ‘chapa-ganha, chapa-gasta’? Que terá havido de tão significativo para vermos
as pessoas a pensarem cada vez menos no futuro…como acontecia em tempos não
muito recuados? Será que a apologia do consumo – sobretudo no último ano – terá
contribuído para esta vivência social de não-poupança? Estaremos a lançar as
bases para uma crise mais profunda – a médio e a longo prazo – do que a crise
económica do após-2008? Será possível encontrarmos receitas mais ou menos
aceitáveis para modificarmos este estado da sociedade? De entre as possíveis
soluções qual será aquela que se pode ajustar melhor à situação pessoal e
familiar de cada um de nós?
Recentemente
encontrei uma razoável lista de sugestões – com mais de duas dezenas – num
órgão de comunicação. Vamos respigar algumas, acrescentando outras questões e
alevantando outros assuntos atinentes ao caso e similares na conjugação das
matérias em apreço.
Eis a
lista para uma cultura de poupança:
-
Elaborar um orçamento mensal, onde possam ser incluídas as despesas correntes e
as fixas anuais;
- Prever
um certo montante para despesas imprevistas e gastos extraordinários;
- Tentar
ter um fundo de maneio que consiga fazer frente a pelo menos de três a seis
meses de dificuldades;
- Ir
construindo um pequeno saldo para a época dos presentes, como no Natal e nos
aniversários;
- Estar
atento às promoções e aos descontos, tanto dos bens alimentares como do
combustível…atendendo a que de manhã ou ao final do dia a gasolina fica mais
densa, conseguindo, assim, comprar mais por menos;
- Na
lista das compras tentar fugir das escolhas por impulso… tendo em conta os
lugares estratégicos das grandes superfícies, que nos podem apanhar
desprevenidos;
-
Preferir o tomar banho de duche, o que pode poupar até oitenta mil litros de
água por ano;
- Na
lavagem dos dentes fechar a torneira durante a escovagem, o que pode poupar até
dez litros anualmente;
- Vigiar
sobre os valores de seguros da casa, do carro, de vida e de saúde, pois há
mudanças e atualizações contínuas;
- Estar
em atenção às diferentes taxas de telemóvel, de internet, de televisão e de
telefone fixo… pois muita coisa muda rapidamente.
Por
certo que há milhentos estratagemas para vivermos num sistema de poupança.
Arriscado será se nos limitarmos a tentar implementar um regime de poupança.
Comparando: é diferente uma pessoa viver sob um sistema de alimentação para
cuidar da saúde do que submeter-se a uma espécie de regime de emagrecimento que
pode ter alguns efeitos mais ou menos imediatos, mas que não educa para ter uma
saúde compatível com o necessário.
Deste
modo é fundamental que se reaprenda a viver na poupança, pois as tão difundidas
benesses do ‘estado social’ têm vindo a servir para enganar quem viva gastando
tudo (e mais) aquilo que ganha. É urgente denunciar os artífices da mentira,
que nos vieram dizer que o consumo fará com que as pessoas vivam melhor, pois
se não tiverem algo de reserva com facilidade poderão cair no logro de que o
que ganham as sustenta… Isto é pura mentira, sobretudo se as pessoas viverem só
dos seus ordenados, dado que poderão receber mais, mas serão aliciadas para
gastarem ainda muito mais…
É diante
deste capitalismo encapotado que temos de dizer que há gente neste país que diz
ter intentos sociais – alguns até a coberto das ações socio-caritativas da
Igreja católica – mas que não deixarão mais do que um rasto de miséria, pois
enganaram as pessoas, fazendo-lhes crer que no gastar é que está o ganho, pois
deveria ser, com humildade e verdade, ao poupar no presente poderemos cuidar do
futuro. O resto é patranha!
António Sílvio Couto
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