Quem
tentar ler as diversas cláusulas do orçamento de estado (OE) para 2017 com um
certo olhar ético-moralizante poderá encontrar algumas vertentes, que irão
taxar os contribuintes, numa espécie de combate a certos ‘vícios’ mais ou menos
prejudiciais à saúde (física e económica) e, atendendo ao caso, ao bolso e
ganhos financeiros… com ou sem acumulação de poupança.
Eis
alguns dos campos já conhecidos: combustíveis (acrescentando ainda o ‘combate’
ao veículo privado e o agravamento do imposto de circulação), tabaco, bebidas
alcoólicas e açucaradas, fortunas acima de 600 mil euros… numa tentativa de
maior justiça pela perspetiva duma esquerda moralista de estado e que está
tendencialmente contra os privados.
Há
certas taxações que têm tanto de inesperado quanto de bizarro, como essa de vir
a ser pago um imposto (0,02 euros) para quem fizer um disparo com arma de caça…
Será para proteger o ambiente ou para discriminar a classe dos caçadores… como
potencial vício burguês e capitalista? Pelo andar das argumentações não sabemos
em que parâmetro se inclui o quê e o resto!
=
Atendendo às múltiplas e quase enviesadas interpretações do OE 2017, queremos
deter-nos nesses tais aspetos moralistas…mesmo que os seus proponentes nem
disso se tenham apercebido… pois, a liturgia do avental (e outro rituais menos
sacros) não se guia por tais referências, embora se diga defensora da
fraternidade humana… mas, ao que parece, só se verifica entre os seus sequazes.
Se
tivermos em conta que, em Portugal, há um automóvel para cada duas pessoas, a
proposta de agravamento dos impostos onde o carro é tido como item de avaliação
(combustível, imposto e penalização), faz com que se possa abrir um grande
campo de contribuição para o OE… atual e futuros.
Por seu
turno, o tabaco é um dos maiores contribuintes para as contas do estado, tanto
no custo das embalagens (maços), como nas incidências sociais, onde o
contrabando do produto se tem vindo a tornar um dos fatores de maior
criminalidade. Também aqui tem faltado capacidade de educação no uso do tabaco,
pois vemos aumentar o número de fumadores, tendo o sexo (género) feminino a
salientar-se pelo consumo e exibição… aviltando as campanhas fotográficas
abjetas.
Quanto
ao sector das bebidas – colocando o vinho no patamar da exceção – nota-se um
crescimento de fundamentalismo, podendo vir a gerar novos focos de
prevaricação, tanto na venda como no consumo… sobretudo nas idades mais novas.
= Há, no
entanto, um ambiente de caraterísticas muito próprias que é aquele que tem envolvido
a feitura, a difusão e o possível incremento deste OE 2017: nota-se um
crescente movimento de endeusamento de tudo quanto é coletivismo e, por outro
lado, algo muito detrator do que possa cheirar a iniciativa privada, tanto na
forma como no conteúdo. Para algumas mentes pensantes – coisa que não abunda no
espetro partidário! – a coletivização voltou a fazer-se doutrina. Quem escapar
à tutela do estado (e seus tentáculos) quase parece ser inimigo público e que é
preciso derrubar… nem que seja à força de impostos ou de outros artefactos mais
subtis.
Parece
que estamos a viver sob a forma do ‘grande educador’ – à luz do que aconteceu
com a revolução chinesa… o PM andou por lá recentemente – que tenta dirimir as
gorduras dos cidadãos à custa de impostos e de taxas, nem que para isso seja
necessário recorrer a promessas de angariação de fundos para cumprir as metas
estipuladas do endividamento e do défice permitido pela UE.
= Sem
pretendermos evocar moralismos de qualquer feição, parece que o OE 2017 está
construído para fazer crer que somos bons a cumprir as obrigações para com quem
nos empresta o dinheiro e controla as nossas contas e que vamos dando um ar de
democratas – ao serviço do povo até que este descubra que está a ser usado –
satisfazendo as pretensões dos mais aguerridos defensores das liberdades, mas
que quase só reconhecem quem se identifica com a sua visão… Deste moralismo já
se viram os resultados em Cuba, na Venezuela, no Brasil e até noutras paragens
da Ásia. Assim não, obrigado!
António
Sílvio Couto
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