Mais de um terço (35%) dos portugueses não tem
rendimento suficiente para satisfazer as despesas que têm correntemente e 16%
recorre ao crédito para as conseguir cobrir.
Este é o resultado dum inquérito da OCDE
(organização para a cooperação e desenvolvimento económico) que incidiu sobre a
literacia financeira dos cerca de trinta países que compõem a organização. No
conjunto dos seus membros os dados são um tanto diferentes, pois 27% consideram
que não têm condições suficientes para suportar as suas necessidades, enquanto
14% recorre ao crédito para ter alguma autonomia.
= Quando os critérios de condução das perspetivas
económicas são mais conduzidos pelo consumo do que pela poupança, esta
tendência de haver dificuldade em cobrir as despesas, irá crescer com natural facilidade.
De facto, quem vem conduzindo a política económica – ou será
ideológico-política? – parece que é regido mais pelo imediatismo do que pela
previsão em relação ao futuro… a curto ou a médio prazo. Por outro lado, se as
apetências de taxação for pela linha de castigar quem aforra e não quem se
endivida, em breve, poderemos ficar sem capacidade de investimento e,
consequentemente, de quem possa dar trabalho e/ou pagar ordenados… impostos e
outras correções ao orçamento.
Talvez muitos dos proponentes de tais orientações
sociopolíticas possam ser, preferentemente, ‘funcionários estatais’ (onde se
incluem os trabalhadores autárquicos, a classe dos professores, os executores
dos transportes públicos, os políticos… e tantos outros até ao número de
oitocentos mil… beneficiários) com as regalias adquiridas e os ordenados a
serem pagos com regularidade… à custa do erário público. No entanto, a longa
maioria não está nesse escalão económico nem possuem esse estatuto com valor de
superclasse social… Com efeito, as subtilezas vão colhendo frutos por entre
tantos interessados em conservarem os favores e regalias adquiridas!
Alguém – sobretudo tendo em conta os privados e
trabalhadores por conta de outrem…não-estatais – terá de sustentar, pagar e
descontar nos seus impostos… pois, apesar de tudo, essa longa lista se vai
mantendo com subterfúgios, onde se banqueteiam os mais favorecidos (do público)
e se lamentam os excluídos (do privado).
= Pasme-se pelo escândalo: a maior parte dos
intervenientes legislativos e governativos intervêm em causa própria e, por
isso, tendencialmente, irão defendendo os seus direitos… mesmo que se disfarcem
numa espécie de ventríloquos (em mais do que mero número de feira), que ora
falam pelos que pagam, ora reivindicam pelos que recebem.
Há factos e situações em que os maiores ‘moralistas’
rapidamente se convertem em mais graves prevaricadores. Tenha-se em conta a
prosápia dalguns dos patrocinadores da geringonça, que antes tinham posição
aguerrida contra os que se aproveitavam dos favores do poder e agora estão tão
silenciados que o rumor da suspeita – da sua honestidade intelectual – invade
as nossas mentes… Se outros tivessem praticado idênticas façanhas teriam pedido
a demissão deles, mas agora estão mudos e quedos como penedos! Quase somos
tentados a considerar que o melhor açaime para certas posições estridentes e
arrogantes é andar pelas franjas do poder, aspirar a ele ou estar em posição de
mando… nem que seja fictício!
= O pior de todo este ‘espetáculo’ é vermos uma
certa manipulação aceite, sistemática e (quase) despudorada com que querem
enganar – se ainda for possível – o povo que, vendo-se com mais uns trocos no
bolso (o cantor dizia para café e bilhar), se vai deixando iludir, mas que os
dados mais independentes não deixam espaço para enganar: um em cada três
portugueses não consegue gerir os seus compromissos económicos… mesmo que lhe
coloquem mais dinheiro no bolso.
Recordo um ato de gestão dum tesoureiro duma
instituição, que até podia pagar os ordenados antes do natal, mas protelou a
entrega dos vencimentos para mais próximo do novo ano, pois, se o fizesse
corria-se o risco de gastarem o dinheiro em compras natalícias e ficariam em
dificuldade no mês seguinte… Justificação: não sabem dosear o que têm em conta
e gastam de forma menos cuidada. Aprendi – com vergonha – que nem todos sabem o
que é de gastar e o que é de poupar! Os ‘sem dentes’ irão pagar a próxima
crise?
António Sílvio Couto
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