Nós, portugueses, somos um povo muito típico e temos
uma posição muito própria na configuração das nações da Europa: quando os
outros voltam, nós ainda vamos… e tão airosos que nem percebemos o ridículo da (nossa)
situação! Isto tem implicações nos mais díspares campos de intervenção… mas é
na ação política que tal se nota mais, sem podermos esquecer a vertente da
economia.
Quando noutros países já estão noutra onda
política, nós ainda vamos na recuperação – revertendo em leis e na mentalidade
– de clichés latino-americanos de caudilhos (falidos e ressabiados) de esquerda
radical, entendendo a mão aos dinheiros emprestados pela Europa, mas dando a
entender que se pode nivelar a sociedade acabando com os ricos e não (como seria
desejável) com os pobres…
A corneta dos mais defensores do igualitarismo tem
vindo a ser altissonante por estes dias, dando a entender que quem mais grita
maior razão parece (querer) ter. É nesta algazarra de interesses que temos
visto surgirem uns tantos travestidos de ‘zé-do-telhado’ da era informática,
que tentam assaltar quem tem, mas não sabemos a quem o vão dar… Em simultâneo
emergem novos conquistadores de regalias – esses mesmos que antes eram
protestantes da classe sindical, mas agora estão tão simbolicamente calados –
fazendo com que tudo pareça em paz, mas não se sabendo qual foi o real custo
desse silêncio e a matéria para tanta pacificação.
= De quando em vez lá surge, por outro lado, a
faceta mais tenebrosa da luta contra a justiça das leis, ora incluindo os
(possíveis) réus, ora aparecendo na liça uns tais juízes. Se uns se consideram
legitimados para intervir e até atacar, os outros logo são trucidados porque
poderão estar a exorbitar as funções. Não deixa de ter um certo cheiro a
sargeta esta dicotomia de critérios para com os diversos cidadãos… bastando
descobrir a coloração partidária/ideológica. Há quem até, à revelia da formação
partidária em que (ainda) milita, se dê à ousadia de se voltar contra quem não
concorda com ele, pois divergir pode parecer crime… sabe-se lá com que
gravidade!
= Sem pretendermos fazer paralelo com um filme e
as suas conjeturas, poderemos considerar que todos os animais são iguais, mas
há uns que são mais iguais – ou será diferentes? – do que os outros. Vem-se
tornando um tanto mais explícito que certas figuras podem cometer – dizer, não
fazer, afirmar ou contradizer – as atrocidades que quiserem que uma certa
comunicação social há de encontrar (quase) sempre justificação para ser como é
e não como se pode interpretar. Nesta como noutras situações o que importa não é
ser engraçado, é essencial é cair em graça! Disso temos várias provas e com
determinadas simpatias e esboços de sorriso nos vão enganando – a quem quer ou
se deixa ir na onda – até ao colapso total.
= Nota-se uma razoável desconstrução dos valores –
diga-se de incidência ética ou de narrativa moral – na nossa sociedade…
sobretudo se alicerçados na formação cristã. Valores e critérios como a
verdade, o trabalho, a paz, a lealdade, a confiança, o amor, a
fraternidade/solidariedade, a liberdade… vão tendo para cada um dos
intervenientes um sentido que cada qual lhe quiser dar. Quase será preciso que
façamos a definição dos termos com que nos relacionamos e tentamos dialogar,
pois o subjetivismo cria condições para que se esteja a usar as mesmas
palavras, mas cada um dá-lhe o significado que lhe convém.
Será a partir do reconhecimento que algo precisa
de ser modificado que poderemos encontrar melhores condições para que
contribuamos na construção duma sociedade mais justa, mais fraterna e mais
humana. De facto, será a partir da dimensão interior da pessoa humana que
estaremos a ser mais cidadãos. Ora, a desconstrução referida dos valores está a
acontecer porque se pretende impor um modelo de sociedade onde as razões para
agir são mais de natureza exterior – por vezes mudando conforme as
circunstâncias e interesses – e isso favorece os ditadores – grandes ou anões –
que pululam no nosso tempo…Pior será, quando perdendo a razão, começarem a
lutar com emoção, que sem razões mínimas farão vítimas e cobardes.
Já soa a corneta vinda da sargeta. Até quando?
António Sílvio Couto
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