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segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Não viajar em jejum



‘Por favor, não apanhe o comboio em jejum’.
Eis um novo slogan com que uma empresa de transporte de passageiros na zona de Lisboa quer ‘educar’ os seus utentes em ordem a tentar diminuir as situações de doença súbita que, por vezes, atinge os que viajam sem tomar o pequeno-almoço.
Um cartaz difundido diz: ‘viajar sem tomar o pequeno-almoço pode afetar a viagem de todos’. De referir que, em caso de indisposição dalgum passageiro, dá-se a imobilização da composição até que seja prestada, na estação seguinte, a assistência, fazendo com que esse e outros comboios fiquem atrasados.
Segundo dados conhecidos, só no primeiro semestre deste ano houve quase meia centena de casos de indisposição por doença súbita o que provocou o incumprimento da pontualidade a cinquenta e um comboios… com a repercussão na vida de tantos outros passageiros.
Em ordem a sensibilizar e a tentar resolver alguns dos casos de doença súbita a empresa de transportes de passageiros vai, por estes dias, oferecer gratuitamente iogurtes e fruta… sobretudo no período da manhã… a etapa do dia em que mais casos se têm verificado.
= Quais as causas desta situação de ‘doença súbita’? Ao que parece não será fácil de encontrá-las. No entanto, há uma coincidência de a maior parte ocorrer – nos casos da empresa em causa – no período das 7 às 10 horas… Poder-se-ão apontar as causas de natureza económica, mas também outras podem ser tentadas…
Talvez a falta de hábitos de tomar o pequeno-almoço em casa possa estar na origem destes casos, bem como de situações de desfalecimento entre os estudantes… nas escolas.
= Dá a impressão que temos de enfrentar as questões como elas são e não andarmos a arranjar desculpas ou a criarmos acusações aos outros, quando os culpados podemos ser nós mesmos. Com efeito, nota-se nalguns setores da população portuguesa uma razoável deseducação social, onde os aspetos de natureza alimentar também entram. Quem não se terá já interrogado com a afluência (um tanto desmedida) de pessoas que vão tomar o pequeno-almoço ao café ou à pastelaria? Quem não se interrogará sobre os custos – muitas vezes diários – para essas pessoas? E, se forem vários os elementos da família que têm tal hábito, quanto custa no orçamento – se é que existe – familiar?
Pelos dados disponíveis um litro de leite (ao preço de sessenta cêntimos cada) poderá servir para alimentar uma família – por pequeno-almoço – de três ou quatro pessoas. E quanto pagam no café ou na pastelaria? Isto não é segregação dos mais desfavorecidos, talvez deve-se ser, antes, um processo de educação das economias disponíveis e suficientes!
= Um outro aspeto que podemos colher da medida posta em marcha pela empresa de transportes em comboio é a de interdependência entre todos os que viajam, pois da indisposição dum passageiro poderá estar o bem-estar e cumprimento das obrigações (de horário ou profissionais) de todos os outros. Esta forma de civismo precisa de ser cultivada por um maior número de pessoas, na medida em que bastará um desleixo dalgum para que muitos sejam prejudicados.
Se fossemos capazes de pensar mais nos outros do que em nós mesmos – isto é o mais simples da cidadania cristã – o nosso meio ambiente (social e climático) seria mais agradável e saudável. Será quando vivermos esta ecologia social que estaremos a contribuir para uma melhor harmonia entre todos. Quem só pensa em si, para além de ser egoísta, é mau cidadão e, em vez de gerar bom ambiente, torna-se fator de instabilidade pessoal, familiar e social.
= Deste modo poderemos concluir como um simples pequeno-almoço tomado na hora própria pode e deve ser um gesto e uma atitude de cidadania adulta e responsável. Queira Deus que sejamos capazes de aprender e de viver com mais simplicidade e fraternidade, já.           


 


António Sílvio Couto

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