‘Por
favor, não apanhe o comboio em jejum’.
Eis um
novo slogan com que uma empresa de transporte de passageiros na zona de Lisboa
quer ‘educar’ os seus utentes em ordem a tentar diminuir as situações de doença
súbita que, por vezes, atinge os que viajam sem tomar o pequeno-almoço.
Um
cartaz difundido diz: ‘viajar sem tomar o pequeno-almoço pode afetar a viagem
de todos’. De referir que, em caso de indisposição dalgum passageiro, dá-se a
imobilização da composição até que seja prestada, na estação seguinte, a
assistência, fazendo com que esse e outros comboios fiquem atrasados.
Segundo
dados conhecidos, só no primeiro semestre deste ano houve quase meia centena de
casos de indisposição por doença súbita o que provocou o incumprimento da pontualidade
a cinquenta e um comboios… com a repercussão na vida de tantos outros
passageiros.
Em ordem
a sensibilizar e a tentar resolver alguns dos casos de doença súbita a empresa
de transportes de passageiros vai, por estes dias, oferecer gratuitamente
iogurtes e fruta… sobretudo no período da manhã… a etapa do dia em que mais
casos se têm verificado.
= Quais
as causas desta situação de ‘doença súbita’? Ao que parece não será fácil de
encontrá-las. No entanto, há uma coincidência de a maior parte ocorrer – nos
casos da empresa em causa – no período das 7 às 10 horas… Poder-se-ão apontar
as causas de natureza económica, mas também outras podem ser tentadas…
Talvez a
falta de hábitos de tomar o pequeno-almoço em casa possa estar na origem destes
casos, bem como de situações de desfalecimento entre os estudantes… nas
escolas.
= Dá a
impressão que temos de enfrentar as questões como elas são e não andarmos a
arranjar desculpas ou a criarmos acusações aos outros, quando os culpados
podemos ser nós mesmos. Com efeito, nota-se nalguns setores da população
portuguesa uma razoável deseducação social, onde os aspetos de natureza
alimentar também entram. Quem não se terá já interrogado com a afluência (um
tanto desmedida) de pessoas que vão tomar o pequeno-almoço ao café ou à
pastelaria? Quem não se interrogará sobre os custos – muitas vezes diários –
para essas pessoas? E, se forem vários os elementos da família que têm tal
hábito, quanto custa no orçamento – se é que existe – familiar?
Pelos
dados disponíveis um litro de leite (ao preço de sessenta cêntimos cada) poderá
servir para alimentar uma família – por pequeno-almoço – de três ou quatro pessoas.
E quanto pagam no café ou na pastelaria? Isto não é segregação dos mais
desfavorecidos, talvez deve-se ser, antes, um processo de educação das
economias disponíveis e suficientes!
= Um
outro aspeto que podemos colher da medida posta em marcha pela empresa de
transportes em comboio é a de interdependência entre todos os que viajam, pois
da indisposição dum passageiro poderá estar o bem-estar e cumprimento das
obrigações (de horário ou profissionais) de todos os outros. Esta forma de
civismo precisa de ser cultivada por um maior número de pessoas, na medida em
que bastará um desleixo dalgum para que muitos sejam prejudicados.
Se
fossemos capazes de pensar mais nos outros do que em nós mesmos – isto é o mais
simples da cidadania cristã – o nosso meio ambiente (social e climático) seria
mais agradável e saudável. Será quando vivermos esta ecologia social que
estaremos a contribuir para uma melhor harmonia entre todos. Quem só pensa em
si, para além de ser egoísta, é mau cidadão e, em vez de gerar bom ambiente,
torna-se fator de instabilidade pessoal, familiar e social.
= Deste
modo poderemos concluir como um simples pequeno-almoço tomado na hora própria
pode e deve ser um gesto e uma atitude de cidadania adulta e responsável.
Queira Deus que sejamos capazes de aprender e de viver com mais simplicidade e
fraternidade, já.
António Sílvio Couto
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